Como prometi na postagem anterior, deixo aqui a parte final do meu livro que, na verdade, é exatamente a parte inicial, isto é, um pequeno prólogo explicando o porque dos três prefácios.
Um pequeno prólogo
Este não é apenas um livro de memórias.
Desde que este projeto começou a tomar corpo, tinha como única finalidade passar aos meus filhos e netos um pouco das histórias e das tradições de nossa família. Queria que conhecessem um pouco além do que hoje vivenciam ou do que seus filhos hão de vivenciar, um dia. Queria que vissem um pedaço, pelo menos, das raízes que geraram os frutos que hoje são. Espero ter conseguido.
E como este é, essencialmente, um livro para meus netos e seus descendentes, pedi a cada um dos meus filhos que deixasse aqui algumas palavras para que solidificassem ainda mais o propósito do meu coração. Assim, este é um livro com três prefácios e é, cada um deles, um doce afago para o meu coração.
Explicados os motivos, peço ao leitor que me acompanhe nesta viagem aos tempos de minha meninice, aos cantos e recantos do velho Bairro do Brás, ao meu querido casarão, aos rincões de minha memória.
Primeiro Prefácio
Quando “Dona” Dulce me pediu para escrever o prefácio de seu livro de memórias, tão ansiosamente aguardado por mim e por umas poucas pessoas de seu convívio a quem confidenciara seu projeto, fiquei, a princípio, lisonjeado... Depois, apreensivo! Eu já havia lido boa parte das estórias, dera palpites em algumas delas, me emocionando com a descoberta de fatos que já faziam parte do anedotário da família. Compreendido, por fim, o significado de passagens sobre as quais tivera conhecimento ainda na infância, com todas as particularidades e limitações que o ponto de vista de uma criança pode ter sobre os “fatos da vida”. Nada como o passar dos anos e a chegada da maturidade quando se trata de esclarecimentos e revelações...
Como estar à altura de depoimentos tão comoventes? Como fazer justiça a tamanha sensibilidade que eclodia ao mesmo tempo singela e com tanta força de expressão?
Ocorreu-me que a melhor maneira de fazê-lo seria contando, eu mesmo, uma outra memória...
Trata-se, creio, de minha mais remota lembrança... Pelo lugar onde se passa (uma pequena “rua de vila”, no bairro da Penha, zona leste de São Paulo) eu deveria ter entre 2 e 3 anos de idade. Chovia torrencialmente. Estava amedrontado com a tempestade, com o pipocar incessante dos relâmpagos, seus clarões inesperados e trovões assustadores que faziam as janelas e tudo mais ao redor vibrar.
Lembro-me da porta da rua aberta, uma enxurrada passando ao largo. Estava escurecendo... (seria fim de tarde?) e havia uma linda e jovem senhora agachada ao meu lado. Cabelos negros e compridos. Vinte e poucos anos de idade. Ela sorria para mim, procurando me acalmar com seu olhar afetuoso. Procurava transmitir-me tranqüilidade. Pareceu-me encantada com o que via (encantamento, aliás, que carrego comigo até hoje, quando me debruço no parapeito de minha janela para apreciar a beleza de uma tarde de chuva!). Chamava-me a atenção para as gotas que caíam do céu. Não sei bem como nem quando mas, de repente, havia ao meu lado uma pequena frota de navios de papel, que ela pacientemente fizera, e pusémo-nos a lançá-los, um a um, na correnteza, que os levava embora, para destinos ignotos.
Hoje, passados 40 anos deste “acontecimento”, que recordo de maneira tão nostálgica, não posso deixar de me sentir grato por aquele momento mágico, e muitos outros mais, que tive a oportunidade de vivenciar na companhia daquela (eternamente!) jovem senhora, cuja vida os leitores deste livro terão a oportunidade de conhecer e que, felizmente para mim, quis o destino que fosse minha mãe.
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Ubirajara de Oliveira Costa Jr.
Campinas, outubro de 2001
Segundo Prefácio
Um prefácio que é uma dedicatória à autora.
Em tudo deve haver arte, existir arte e se viver com arte.
E por falar em viver, o que somos além do pensar e exercer estética e profundamente o quotidiano?
E a Artista, então?
- Ora, a Artista é nossos olhos e tato quando não estamos, nosso olfato quando congestos, extensão de nossos sentidos. A Artista é aquela que desnuda o quotidiano e nos desperta da estúpida rotina de não pensar, invadindo-nos com um aroma, a quase voz ainda precária de uma criança ou um encontro ou outro desencontro definitivo, lembranças reveladas entre as frases, como que nos espiando por uma fresta no tempo.
Suas crônicas, Dulce, são esta fresta, e esse tempo, e esse olhar emprestados, materializados em palavras, ainda pulando corda e amarelinha, vivos na menina que ainda é.
Parabéns.
Fábio de Oliveira Costa
São Paulo, outubro de 2001
Terceiro Prefácio
A princípio não havia a idéia de escrever um livro, apenas o desejo de uma avó de colocar no papel uma série de “pequenos fatos” que, como uma “message in the bottle” para seus netos seria o retrato de uma geração e de uma época que não mais existem. Com o tempo, os “pequenos fatos” tornaram-se estórias, e eram tantas estórias a serem contadas que acabou-se tendo um livro e, com o livro, a realização de um grande sonho de juventude, o sonho de ser escritora.
Parabéns, mamãe, pela realização de seu sonho! E obrigada por ter compartilhado, neste livro, sua infância com todos nós.
Angélica de Oliveira Costa
Filadélfia, PA, outubro de 2001
Obrigada a todos pela atenção dada a este livro e aos comentários, sempre muito gentis
Dulce Costa
Dulce Costa
10 comentários:
Dulce.
Quanta sensibilidade, quanto carinho.Não tenho palavras para expressar a minha emoção ao ler tão belas e doces palavras.Com toda certeza, seus filhos herdaram da meiga mãe o doce modo de encarar e enxergar a vida.
Você nos presenteou com um projeto lindo, onde ao ler suas memórias, muitas vezes cheguei as lágrimas.
Obrigada mais uma vez por partilhar conosco as suas belíssimas crônicas.
Beijos em seu coração.
heli
Muito obrigada, Heli,
você é pessoa muito gentil e carinhosa no trato com os amigos.
Fico sensibilizada em saber que meus pequenos escritos chegaram até você e foram acolhidos de maneira tão amiga. Obrigada.
Beijos
QUERIDA DULCE, ADOREI LER ESTES TEUS MÁGNIFICOS PREFÁCIOS... FIQUEI ENCANTADA... ABRAÇOS DE CARINHO,
FERNANDINHA
Oi, Dulce;
É com um certo orgulho que posso dizer que li o seu livro dedicado à sua familia e a você mesma assim como a certas amigas de infância e adolescência... Foi lindo tudo o que a Dulce escreveu e que nos fez reviver em nossas próprias experiências de vida.
Mas é com uma pontinha de tristeza que vejo que o livro chegou ao fim... Porque simplesmente foi divino ter acompanhado os capítulos que eu ia lendo e inclusive alguns li noutros países...
bjs e obrigado.
Osvaldo
Fernandinha,
Muito obrigada. Essas manifestações de afeto me comovem, obrigada.
beijos
Muito Obrigada, Osvaldo.
Você nem imaginam o bem que faz esse acolheimento às minhas memórias...
Durante todos esses dias você foi de uma delicadeza incrível, sempre com um comentário favorável, sempre com uma palavra amiga.
Muitíssimo obrigada e, mesmo que já tenha lido, a oferta está de pé, caso queira um exemplar do livro, talvez para ofertar à sua querida Ana.
Beijos.
Que linda a história de seu início de vida e que lindos prefácios seus filhos escreveram.
Já sinto saudades das suas narrativas que, em alguns casos, fizeram desfilar na minha mente recordações do meu passado, idênticas às suas.
Muito obrigada.
Beijinhos
Lourdes,
Sou eu quem agradece a você, leitora atenta e gentil desses meus pedacinhos de vida, pelos amáveis comentários, insentivo, presença e carinho de amiga a cada dia.
Como já disse numa das respostas acima, fico imensamente comovida com essas manifestações que recebo.
Muitíssimo obrigada.
Beijos
Linda história contada de com emoção e carinho...
por vc e pelos filhos
Boa semana pra vc amiga
Beijos aliciantes
Obrigada.
Boa semana para você, tambem.
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