floquinhos

quarta-feira, 31 de março de 2010

Houve um poema...


Houve um poema,
entre a alma e o universo.
Não há mais.
bebeu-o a noite, com seus lábios silenciosos.
Com seus olhos estrelados de muitos sonhos.

Houve um poema:
Parecia perfeito.
Cada palavra em seu lugar,
como as pétalas nas flores
e as tintas no arco-íris.
No centro, mensagem doce
e intransmitida jamais.

Houve um poema:
e era em mim que surgia, vagaroso.
Já não me lembro, e ainda me lembro.
As névoas da madrugada envolvem sua memória.
É uma tênue cinza.
O coral do horizonte é um rastro de sua cor.
Derradeiro passo.

Houve um poema.
Há esta saudade.
Esta lágrima e este orvalho - simultâneos -
que caem dos olhos e do céu.

(Cecília Meireles)

terça-feira, 30 de março de 2010

Viajando pelo tempo...

Alguns dos leitores deste blog que, como eu, têm “um pouqinho” mais de cinqüenta anos (rs) talvez já tenham recebido um arquivo PPS, sobre os comerciais nos anos dourados denominado Teste de DNA (Data de Nascimento Antiga) - e, certamente, riram com saudades daqueles bons tempos, tão simples, singelos, até. Pois recebi, por e-mail, esse arquivo acompanhado por um texto, que me levou num lindo passeio pelo tempo e que gostaria de partilhar com vocês. - Se passei no teste? Claro que sim... Com louvor! rs... Vivi tudo isso e muito mais. E foi um privilégio. Mas, passemos ao texto:


(Jeca Tatu antes do Biotônnico e Coca Cola em seus primórdios... rs)


“Dentre os 45 casos listados (no PPS), eu vivenciei todos. Do Grapette, leite em vidro (Campinas era Leco e não Vigor), Pomada Minâncora (por sinal tenho uma latinha pela metade até hoje), anágua, Gillette Azul, caderneta de armazém, cera Parquetina (quem são os amigos da Etelvina? Cito Pox e Parquetina), Leite de Colônia, Biotônico Fontoura, até coisas que ainda subsistem como carrinhos de rolimã, queimada...

Cada produto destes (e tantos outros não presentes no anexo, como Pílulas de Vida do Dr. Ross, Xarope São João, Phimatosan, Rum Creosotado), deu sua contribuição ao conhecimento e à melhoria da sociedade da época. Eram mensagens simples, fortes, diretas, fáceis de entender e absorver, lastreadas em boa sonoridade e excelente poesia. Obviamente, à luz das evoluções havidas, hoje não se aceitam certas verdades apregoadas, porém na época era assim.

Vejamos, por exemplo, o Biotônico Fontoura, que se tornou um case de marketing. Cândido Fontoura era um farmacêutico de Bragança Paulista e, como todo bom farmacêutico da época, fazia lá suas alquimias. Assim, preparou uma mistura à base de álcool, ervas e sais de ferro para tratar de sua mulher que, anêmica, não tinha apetite. Outras pessoas souberam e foram pedir o mesmo elixir. Vista a aceitação, bastaria divulgar. Quem poderia fazer isso? Seu amigo José Bento de Monteiro Lobato, de Taubaté...

Como o amarelão era a doença predominante, as pessoas andavam descalças e as necessidades eram feitas onde se estivesse no momento, Candinho logo percebeu que educar trabalhadores e homens da roça no uso de botinas era a melhor arma contra a verminose, acoplada ao seu elixir contra anemia. Estava ali o quadro com o qual um criador de propaganda sempre sonha. E Monteiro Lobato foi fulminante: criou desenhos dos animais caseiros todos usando botas: galo, peru, porco... Anúncios nos principais meios da época, sem se esquecer dos almanaques.

Se não bastasse essa contribuição aos usos & costumes, mais tarde a indústria fundada por Cândido Fontoura associou-se à Wyeth e viria a ser a primeira fábrica de penicilina da América do Sul (Via Anchieta, SBC, que tive o privilégio de conhecer), cuja inauguração contou com a presença do próprio descobridor, Sir A. Fleming.

Na minha mente ainda ecoam os versos musicados do anúncio: b–a BA, b–e BE, b–i BI, O TÔNICO FONTOURA!

Enquanto o rádio era a mídia mais forte, haviam outras de grande respeito também, entre elas os painéis dos bondes. Enquadravam-se como nacionais e produtos anunciados em São Paulo & Rio eram concomitantemente anunciados em Campinas, Santos e outras cidades. Se fosse selecionar o texto mais conhecido e atrevido, diria o do Rhum Creosotado, da autoria de Manuel Bastos Tigre, poeta e publicitário pernambucano, considerado também por suas sacadas humorísticas:


Veja, ilustre passageiro
O belo tipo faceiro
Que o senhor tem ao seu lado.
E no entanto, acredite.
Quase morreu de bronquite
Salvou-o o Rhum Creosotado.

Nos anos 50, esses versos habitavam todos os bondes. Sentado em qualquer banco, tinha-se de ler esse reclame afixado na parte interna superior, geralmente ao lado do marcador do número de passageiros. Cada vez que alguém pagava, o cobrador acionava a maquineta que fazia um tlim-tlim. Querendo ou não, o olhar sempre se erguia e novamente a poesia era lida... Consta que Bastos Tigre foi também criador do slogan “Se é Bayer, é bom...”

Este tema daria para gastar todo o tempo que se queira...”

(Clóvis Gouvêa)

Obrigada, Clóvis.

Um blog que recomendo (18)

Açores, Portugal (Foto: Fernandinha)

Quando dava meus primeiros passos aqui pela blogosfera, Fernandinha foi das primeiras pessoas a me acolher, a me aninhar em seu imenso círculo de amigos, sempre com palavras de amizade e muito carinho em cada comentário, amizade e carinho com que acolhe a todos, indistintamente.

Poetisa sensível, faz de seu espaço um lugar lindo, quase encantado, quando junta num só momento a ternura de seus versos à beleza de suas fotos. Nem precisaria recomendar este blog, já que é dos mais conhecidos, mas quero deixar registrado aqui minha admiração e meu carinho por essa amiga tão atenciosa e tão gentil. E, para quem, porventura, ainda não o conheça, fica aqui um convite para uma visita ao Fernanda & Poemas. Vale bem a pena...

O dia amanheceu tão lindo...


Um dia de outono como este, lindo, iluminando, põe tanta ternura em meu coração e evoca uma CANTIGA, como esta de Cecilia Meireles...

Nós somos como o perfume
da flor que não tinha vindo.
esperança do silêncio,
quando o mundo está dormindo.

Pareceu que houve o perfume...
E a flor, sem vir, se acabou.
Oh! abelha imaginativa!
o que o desejo inventou...

segunda-feira, 29 de março de 2010

Fernando Pessoa... Nada mais.


Às vezes

Às vezes tenho idéias felizes,

Idéias subitamente felizes, em idéias
E nas palavras em que naturalmente se despegam...

Depois de escrever, leio...
Por que escrevi isto?
Onde fui buscar isto?
De onde me veio isto? Isto é melhor do que eu...
Seremos nós neste mundo apenas canetas com tinta
Com que alguém escreve a valer o que nós aqui traçamos?...

(Álvaro de Campos)

domingo, 28 de março de 2010

O instante da minha alma...


"Nada somos. No entanto, há uma força que prende o instante da minha alma aos instantes da terra, como se os mundos dependessem desse encontro, desses prelúdios sobressaltados."

(Cecília Meireles)

sábado, 27 de março de 2010

Simplesmente Elza...


Ela foi uma menina linda, olhos brejeiros, cabelos cacheados, sorriso encantador, o encanto de seus pais, tios, avós... Mas tinha alma rebelde, inconformada, muito além de seu tempo, alma que queria partir grilhões, ganhar o mundo, só que os tempos eram outros e as convenções sociais atavam as mulheres (moças ou velhas) a grilhões que lhes prendiam os passos e limitavam os sonhos, e quanto mais audaciosos, mais atados.
Ela cresceu tentando desatar amarras, mas numa decisão errada, movida pela paixão ou, quem sabe?, pela própria ânsia de liberdade, acabou presa a um casamento desastroso que fez dela uma mulher nada feliz. Mas nunca apagou o lindo sorriso, nunca reclamou da triste situação que a envolvia, do desamor em que sua vida ia empalidecendo, nunca deixou de lutar. Uma luta inglória que acabou por minar suas forças e que a levou tão cedo da vida...
Já se passaram mais de três décadas desde a sua partida, mas ainda hoje eu a tenho comigo em conversas que travo com o passado, nas madrugadas vazias. Lembro tão bem daqueles doces momentos que povoaram minha infância, de seu riso alegre, de sua voz afinada, de seus olhos penetrantes, de seu rosto querido, e é como se os tivesse visto ainda ontem. E, fechando os olhos, consigo resgatar a imagem de uma jovenzinha esfuziante que afastava a mesa do centro da sala, puxando a prima para que a acompanhasse nos passos de um tango de Gardel, ou de um bolero de Pedro Vargas, que iam inundando o ambiente, vindos do velho rádio colocado sobre o guarda-louças. E revejo a mulher linda que escondia a tristeza para não entristecer os que a amavam. Ouço ainda sua voz dizendo em tom de confidência, nas vésperas de meu casamento que, se eu quisesse ser feliz, deveria antes de tudo armar-me de muita compreensão, pois a vida parecia sempre tão incompreensível... E a saudade me envolve... Saudade de uma irmã tão amada, de uma mulher tão especial... Saudade de você, Elza...
Por isso, em nome dessa saudade, hoje este espaço está envolvido pelo som de tangos e boleros.

Poesia para adoçar a madrugada insone...



Sono sobre a chuva
que, entre o céu e a terra,
tece a noite fina.

Tece-a com desenhos
de amigos que falam,
de ruas que voam,
de amor que se inclina,

de livros que se abrem,
de face incompleta
que, inerme, deplora
com palavras mudas
e não raciocina...

Sobre a chuva, o sono:
tão leve que mira
todas as imagens
e ouve, ao mesmo tempo,
longa, paralela,
a canção divina

dos fios imensos
que, nos teares de água,
entre o céu e a terra,
o tempo separa
e a noite combina.

(Cecília Meireles)

sexta-feira, 26 de março de 2010

As pessoas podem...


As pessoas podem ser dividas em três grupos:
Os que fazem as coisas acontecerem;
os que olham as coisas acontecendo;
e os que ficam se perguntando o que foi que aconteceu.
Nosso caráter é aquilo que fazemos quando achamos que ninguém está olhando.
Nunca deixe de ter dúvidas, quando elas param de existir é porque você parou em sua caminhada.

(Antoine de Saint-Exupéry)

quinta-feira, 25 de março de 2010

Uma poesia na tarde...

Itinerário

Primeiro, foram os verdes
e águas e pedras da tarde,
e meus sonhos de perder-te
e meus sonhos de encontrar-te...

Mas depois houve caminhos
pelas florestas lunares,
e, mortos em meus ouvidos,
mares brancos de palavras.

Achei lugares serenos
e aromas de fonte extinta.
Raízes fora do tempo,
com flores vivas ainda.

E eram flores encarnadas,
por cima das folhas verdes.
(Entre os espinhos de prata,
só meus sonhos de perder-te...)

(Cecília Meireles)

quarta-feira, 24 de março de 2010

A hora passou despercebida...



Esperei toda a vida,
uma hora linda, que passou despercebida.
Imaginei-a longamente, longamente.
E, corada de sol, ou empoada de lua,
ou penteada de chuva, ou vestida de poente,
ou simplesmente nua,
não importa:
ela havia de vir sentar-se à minha porta
e eu lhe daria
todo o pão do meu dia
e a água toda do meu cântaro de argila...

E ela veio e partiu. E eu nem soube sentí-la.

Que hora foi essa, que passou despercebida
como passou a minha vida?

(Guilherme de Almeida)

terça-feira, 23 de março de 2010

Sobre a felicidade...


"Faça o que for necessário para ser feliz. Mas não se esqueça que a felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade."

(Mario Quintana)

A Hora do Planeta 2010


A Hora do Planeta 2010 é um ato simbólico em que governo, empresas e a população de todo o mundo se comprometem com uma solução para a questão do aquecimento global e as mudanças climáticas.

O Brasil vai participar desta ação pelo segundo ano consecutivo, apagando as luzes das 20h30 às 21h30. Em 2009, os brasileiros tiveram um grande engajamento, com a adesão de 113 cidades e milhares de cidadãos.

{Recebido por e-mail, de meu provedor (UOL) - O Em Prosa e Verso veste essa camisa, por isso divulga a campanha}

segunda-feira, 22 de março de 2010

No Dia da Água...


Hoje o calendário assinala o Dia da Água e a imprensa mundial - escrita, falada, televisiva, abre amplo espaço para esse tema, numa tentativa de conscientização e mudanças nos hábitos de todos nós com relação a utilização desse líquido tão precioso.
O "Em Prosa e Verso" solidariza-se com essa campanha e apoia a luta que vem sendo desenvolvida em prol da divulgação dos novos conceitos que devem ser adotados urgentemente por todos nós para que as futuras gerações - e não tão futuras assim - não enfrentem problemas insolúveis com a escassez de água no planeta.

O excelente blog "Crônicas do Rochedo" traz hoje uma interessante abordagem sobre esse tema. Vale a pena conferir.

Quando a alma acorda criança...

("Roda" - Milton da Costa)

Hoje minha alma acordou criança, com vontade de correr pelos bosques, procurar trevos de quatro folhas no jardim, ir à matinée de um antigo cinema de bairro, brincar de roda, pular amarelinha, rir de tudo e por nada, ouvir histórias da Carochinha, mergulhar em lindos contos de fadas...
Ainda entre os lençóis percebo essa rebeldia inútil, mas tão gostosa de se sentir, fecho meus olhos e deixo que ela se vá pelo tempo em busca de momentos não vividos, que visite as ruas de minha infância, que mate saudades de gente querida que ficou perdida no tempo, que reencontre sonhos de menina-moça, seus primeiros desencantos, seu primeiro amor... E nesse reencontro ela se aquieta, já não pula amarelinha, não brinca de roda, não pula corda... Apenas sonha. Sonha e espera um olhar que, sabe, nunca virá, um sorriso que não acalentará, um toque que não sentirá... Ainda assim, ela sonha. Sonha e, romanticamente retorna ao seu ninho, força-me a abrir a janela e deixar que o sol entre pelo quarto a dentro, entre em cada um dos poros de meu corpo e cheguem até ela, trazendo a alegria de uma manhã de outono...
Hoje minha alma acordou moleca, caminhou pela vida, aqueceu-se nos raios de um sol que anuncia vida... Bom dia, vida...

domingo, 21 de março de 2010

O Outono de Mario Quintana


CANÇÃO DE OUTONO*

O outono toca realejo
No pátio da minha vida.
Velha canção, sempre a mesma,
Sob a vidraça descida...

Tristeza? Encanto? Desejo?
Como é possível sabê-lo?
Um gozo incerto e dorido
de carícia a contrapelo...

Partir, ó alma, que dizes?
Colhe as horas, em suma...
mas os caminhos do Outono
Vão dar em parte alguma!

sábado, 20 de março de 2010

Chegamos ao outono...

(Tão lindo o outono no hemisfério norte...)

As folhas do outono

Ah, as cores do outono... O castanho, o dourado, o vinho, um verde esbranquiçado, outra ainda quase chegando ao branco... Cores amenas lembrando bem as cores que nos envolvem a alma no outono de nossas vidas... Cores suaves, doces, lembrando tranqüilos entardeceres, lembrando amenos amanheceres, lembrando uma paz que deveria sempre existir, mas que as vezes é quebrada por um encarnado que já até havíamos esquecido existir. Assim, do nada, descobrimos uma folhinha num tom vermelho vivo, reluzente, teimosa, que se agarra ao galho de sua árvore, lutando para não cair, para não ser levada pelos fortes e gelados ventos de fim de outono...

E, descoberta, essa folhinha traz um doce alento ao coração. Mas é preciso cuidados redobrados para com ela, é preciso envolvê-la em muito carinho, cobri-la de ternura, para que seu tempo seja um pouquinho mais longo, porque ao cair, vencida pela realidade da estação, vai deixar em seu lugar um vazio ainda maior do que aquele que ficara com a queda gradual das outras folhas...

Mas lá no solo, entre as outras folhinhas, às quais irá se misturar pela ação do vento, toda prosa, passará os dias falando de como foi amada, de como foi cuidada, e de como está sendo chorada a sua ausência...

Ah!... A beleza das cores do outono que em folhas caídas palmilham os caminhos... Ah!... A beleza de um doce caminhar sobre as folhas do outono da vida...

(Hoje, 20 de março, começa o outono aqui no hemisfério sul)


sexta-feira, 19 de março de 2010

Asa feita de canto e poesia...


A terceira asa

Trago uma esperança nova.
Tão nova como a primeira
luz que marca o amanhecer
na vida de cada homem.

Trago a sabedoria
das cores que dançam no ar,
mas que se reúnem,
cada qual no seu lugar,
quando é preciso fazer um arco-íris.

Trago a lição interminável
que dois amantes ensinam
quando se abraçam luminosos
para inventar o amor.

Trago o milagre da vida
que lateja neste instante
no coração de uma criança
que acaba de nascer.

Chego no rastro de um pássaro
que atravessa a luz atlântica
com sua terceira asa
feita de canto e poesia
que rasga no tempo o rumo
estrelado da utopia.

O pássaro chega entregando
com seu poder de canção
a certeza de um futuro
que está começando agora
na aurora da tua fronte,
na palma da tua mão.

(Thiago de Mello)

Homenagem aos pais...


Em Portugal, comemora-se hoje o Dia do Pai.

Aos amigos, leitores e visitantes do Em Prosa e Verso, d'além-mar, que são pais, os meus parabéns pela data e meu abraço de carinho e amizade.
Um Feliz Dia do Pai para cada um de vocês

E num dia como este, não posso deixar de lembrar com carinho e imensa saudade dos dois homens que foram porto seguro em minha vida, e de quem sinto tanta falta: meu pai e o pai de meus filhos...
Envolvo suas lembranças em minha ternura, em meu amor, em minha saudade

quinta-feira, 18 de março de 2010

Hoje, a tarde é de Vinícius...


Ternura

Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras do véu da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar estático da aurora.

(Vinicius de Moraes)