floquinhos

terça-feira, 31 de agosto de 2010

No silêncio da madrugada, saudade imensa...


Acordo em plena madrugada, assim, por nada, como acontece com quem percorre há muito tempo os longos caminhos da vida. Sem sono, vou até a janela. Há luar, há estrelas, há um longo silêncio que se derrama sobre o bosque, sobre a cidade, por sobre minha alma... Esse mesmo silêncio que pode trazer paz ou guerras interiores, dependendo muito de como nos estejamos sentindo, de como nos situemos na vida. Um silêncio que pode acalmar ou que pode angustiar, um silêncio denso, que vai envolvendo a noite.
E fico por uns momentos como que "ouvindo" esse silêncio que ecoa dentro de mim. Uma paz que parece infindável vai me cercando, fecho meu olhos e me deixo levar pelos caminhos do tempo, da memória. E lá estamos nós, caminhando de mãos dadas, como se a chuva fina que caia sobre nossas cabeças fosse minusculas pétalas de flores silvestres. E num dado momento. você para, toma-me em seus braços e, olhando dentro dos meus olhos, sussura, pela primeira vez, docemente, um "eu te amo"... E como que por encanto, a vida enche-se, então, de cores, a rua modesta cobre-se de flores, o ar parece trazer uma linda e doce canção de amor aos nossos ouvidos, aos nossos corações... E foi exatamente nesse momento que começamos nosso "caminhar juntos" pela vida a fora...
Volto ao presente e ao silêncio da madrugada com os olhos cheios de lágrimas, com um soluço engasgado na garganta, com uma saudade imensa dentro de mim... Saudade de tantas décadas de convivência, saudade de tantos momentos vividos, saudade de você, saudade de mim...

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Ele sabia o que dizia...


"Através do humor vemos no que parece racional, o irracional; no que parece importante, o insignificante. Ele também desperta o nosso sentido de sobrevivência e preserva a nossa saúde mental."

(Charles Chaplin)

domingo, 29 de agosto de 2010

Vamos ficando por aqui...


Mais um ensolarado domingo deste verão, um céu azul, sem nenhuma manchinha branca de nuvens, uma aragem fresca... O grasnar dos corvos que habitam o bosque, o canto dos pássaros (nenhum canoro, uma pena)... Já alguns patos selvagens começam a cruzar o céu em busca de outros pousos...
Parece que ontem cheguei por aqui e já lá se vão mais de dois meses. Em tese, deveria estar em contagem regressiva para minha volta ao ninho, mas, como dizia minha santa avozinha, "o homem põe e Deus dispõe". E por um desses motivos quaisquer, no caso uma crise de ciática por que passa minha filha, vou estendendo minha estadia por aqui por mais uns meses. Claro que morro de saudades de meus filhos, netos, amigos, lá do Brasil Sinto uma enorme falta do meu canto, do meu mundinho particular, mas fico tão bem por aqui que uma coisa vai compensando a outra. E, acima de tudo isso, minha filhotinha precisa da mãe e, em assim sendo, tudo o resto perde a importância e a mãe faz o que toda e qualquer mãe faria: fica ao lado da filha..
Meus netos adoraram a idéia de ter a avó aqui ainda por uns tempos (estão em tempo de achar a avó um presente dos céus... rs...) e além disso, há uma série de motivos a tornarem este prolongamento da estadia um momento precioso, além do fato de ficar com meus amores. O primeiro deles é o outono que se aproxima e estar aqui no outono é estar num mundo de luzes e cores, de poesia e beleza. E com o outono, as festas tradicionais e (quase) imperdíveis de Halloween e Thanksgiving. Festas tão diferentes das nossas, tradições que se cumprem por aqui num ambiente de quase magia, principalmente o Halloween.
O fato é que o "quartel general" deste blog continua por mais uns meses instalado aqui em Winchester. E o coração segue partido e repartido entre os dois hemisférios, a alma voando de um para outro, e o Prosa abrindo espaço para o que vier, enquanto vai cantarolando Elvis...

"I'll be home for Christmas
You can plan on me..."

sábado, 28 de agosto de 2010

É preciso aprender a olhar...


"Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros finalmente, que é preciso aprender a olhar para poder vê-las assim..."

(Cecilia Meireles)

Um protesto ecoa pelo mundo...


Em minha visita de hoje ao "Crônicas do Rochedo", dei com esta imagem e achei por bem trazer-la para o Prosa, com meu pedido de licença ao Carlos Barbosa de Oliveira, autor do blog, e aqui abordar também esse tema abrangente e revoltante,.
Trago ainda para vocês um texto escrito há alguns dias, por Marta Medeiros, num jornal de Porto Alegre, para complementar esta postagem, porque tenho a quase absoluta certeza de que traduz o pensamento de todos os amigos e leitores do Prosa.

Fatos como os abordados no texto, tão ignóbeis, essa forma bárbara e desumana de punição, causam revolta e indignação, carregam em si uma aura de "impossível que ainda aconteçam"... E essa revolta, essa indignação, geraram um movimento a ser desencadeado hoje pelo mundo em forma de atos públicos. Várias cidades aderiram a ele. Além de todas as listas assinadas em repúdio a essa e outras tantas mortes por lapidação. Impossível ficar indiferente.

SAKINEH, UMA MULHER COMO NÓS

Adoçantes não calóricos. Massagem com compressas de ervas quentes. Máquinas high-tech para eliminar a celulite. Modelador térmico para criar cachos naturais. Esmalte de tratamento para unhas frágeis. Clareador de manchas com ácido bio-hialurônico. Hidratante bloqueador de radicais livres. E sigo folheando uma adorável revista feminina, que nos conduz a um mundo onde tudo é lindo, glamuroso e caro, mas sonhar não custa nada, e viro mais uma página, e outra, enquanto penso: uma moça chamada Sakineh Mohammadiz Ashtiani pode morrer apedrejada a qualquer momento por um suposto adultério cometido anos atrás.
Mulheres se candidatam à presidência, dirigem empresas, pedem o divórcio, viajam sozinhas, investem na sua vaidade, mas nenhuma dessas conquistas pode nos orgulhar enquanto ainda houver o costume de enterrar uma criatura no chão com apenas a cabeça de fora para que leve pedradas de diversos homens - e não podem ser pedras GG, tem que ser as de tamanho M, apois exige-se que o suplício seja longo. Que tom de gloss será conveniente para assistir ao badalado evento?
Sei que há diversas outras modalidades de desrespeito aos direitos humanos, inclusive no Brasil, mas neste momento estou vestindo a camiseta da Sakineh. Quero falar sobre o ato primitivo de se apedrejar uma mulher na cabeça até a morte. Não discuto o motivo torpe da condenação, pois nem que ela tivesse matado alguém, em vez de simplesmente ter feito sexo com alguém, seria justificativa. Não há justificativa para a brutalidade. É a lei do Irã, é a religião do Irã, é a tradição do Irã, e daí? Quando meu estômago embrulha, é sinal de que algo bem perto de mim está acontecendo. Distância só existe quando a gente racionaliza, o sentir unifica. O Irã faz parte do mundo em que eu vivo. O meu tempo e o da Sakineh são o mesmo. Somos contemporâneas. Ela não é um personagem, existe. Tem filhos. E se a mobilização internacional não surtir efeito, em breve será enterrada até a altura do busto, com os braços presos para não poder proteger o rosto.
O que dói, mais do que tudo, é reconhecer que avançamos tanto e ainda não conseguimos atingir um grau de humanidade que seja comum a todos, homens e mulheres de qualquer lugar e de qualquer crença. O que podemos fazer por Sakineh? Rezar para que ela seja enforcada, que é o plano B. Ufa, seria um alívio.
Há uma petição circulando pela internet. Acredito tanto na eficiência desses abaixo-assinados como acredito em creme antirugas, mas volto a dizer: sonhar não custa nada.
www.liberdadeparasakineh.com.br
Eu já assinei. Agora vou passar meu incrível tônico de renovação celular “future solution”, pois, como qualquer mulher, adoro cuidar da minha pele.

(Martha Medeiros)

Fonte: Jornal Zero Hora dia 11 de agosto de 2010.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

De novo, o Sol...


As fortes chuvas de dias atrás, as chuvas ameaçadoras que nos fizeram mover móveis e tapetes lá do basement, felizmente, ficaram para trás, O sol esparrama-se novamente por sobre a cidade, dourando parques e gramados, trazendo de volta a harmonia deste quase final de verão. O Sol voltou, lindo, mas felizmente, aquele calorzão de há uns dias já não se faz sentir, porque há um ventinho benfazejo que vem lá do mar não tão distante, dando frescor a este começo de tarde de sexta-feira.
As férias de verão estão se despedindo, os kids aproveitam seus últimos dias de folga, mas já com o sentido nas aulas tão próximas. Material escolar já comprado - por aqui, um mês antes do inicio do ano escolar, os pais recebem uma carta do(s) professores) de seu(s) filho(s), uma carta de apresentação, acompanhada da lista do material que será usado durante o ano todo e que deverá ser entregue aos devidos professores já no primeiro dia de aula - ônibus escolares contratados, tudo prontinho para a volta as aulas, logo após o Labor Day (Dia do Trabalho), comemorado por aqui na primeira segunda-feira de setembro.
E assim, o rítmo da vida vai mudando junto com as estações...

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Espantos ante fotos antigas...

(com minha irmã, aos dez anos)

Ontem depois do jantar, estávamos reunidos no quarto de minha filha, quando a propósito já nem sei do que, os meninos quiseram ver umas fotografias antigas. Abri meu laptop em meus arquivos de fotos em preto e branco e, numa determinada pasta lá estavam elas, as fotos que meu tio Antônio, em sua irreverência diria serem "do tempo do Onça"....
Os kids foram olhando, interessados, perguntando quem era um, quem era outro e, num determinado momento, ante a foto de uma garotinha, um espanto ao saber que aquela menininha de olhos já sonhadores era eu.
- Você, vó? desse tamanho?!
- Eu mesma, Porque o espanto? Você não está pensando que fui velha a minha vida inteira, está?, respondi sorrindo.
Espanto maior nos rostinhos meio incrédulos, depois a lembrança de uma foto de meu casamento sobre a escrivaninha do meu quarto e uma nova exclamação engraçadíssima:
- Nao penso mais, porque agora você disse e eu estou vendo as fotografias...
E, daí para a frente, foi um tal de um espanto atrás do outro, para os dois pequenos que acabaram por descobrir que esta avó já entrada em anos um dia correu pelas ruas, pulou corda, jogou amarelinha, foi a escola para aprender a ler, cresceu, teve seus sonhos e seus amores, cumpriu galhardamente seus caminhos para, finalmente chegar ao posto de matriarca (sem poder) feliz com a família que conseguiu criar.

(A foto de que eles mais gostaram foi esta. Numa montagem feita por ocasião da escolha da capa para meu livro, a avó que eles reconhecem e a menina que um dia foi...)

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

São as chuvas de agosto fechando o verão...

(A "family room", normalmente um agradável lugar de descanso e entretenimento da família...)

Chove, chove, chove... Chuva forte, incessante, com o vento balançando os galhos das árvores do bosque, com os gramados encharcados, já formando poças, com um cinza entristecendo as gentes. E quando chove assim, dias seguidos, a cidade e o basement cá da casa (de muitas e muitas casas, aliás) ficam alagados. E é no basement que estão montadas as salas de música, de TV, de brinquedos...
Sabendo desse perigo, já saímos hoje da cama diretatmente para lá, numa azáfama sem fim, retirando tapetes, levantando móveis, guardando tudo o que pudesse ser atingido. E foi um tal de proteger o piano, subir guitarra e violão, caixas de brinquedos, cesto com a lenha da lareira, enfim, uma correria, tudo isso tentando segurar minha filha para que não saisse pegando peso, empurrando móveis, já que está há quase dois meses com uma terrível crise de ciática, proibida pelo médico de fazer tais abusos. Com muito custo conseguimos, os kids e eu, mantê-la apenas no "departamento de dar as ordens", logo ela que nunca foi mulher de ficar com os braços cruzados.... rs... Agora, já tudo arranjado, os meninos subiram para brincar no quarto de dormir, minha filha prepara-se para ir para Harvard, onde o trabalho a espera, e euzinha estou aqui proseando com meus amigos, ou, como dizem lá pelas esquinas do Brasil, "jogando conversa fora"...

(... ficou assim, depois de terminada nossa correria. Passadas as chuva, tudo há de voltar ao seu devido lugar)

E a chuva continua, mais intensa ainda, a água já começa a invadir o basement, subindo pelos ralos, infiltrando-se pelas pequeninas frestas que o tempo faz nas paredes. Para quem tinha a impressão de que aqui vivemos no paraíso, vejam só que o tal paraíso tem lá seus dias de purgatório... rs...

terça-feira, 24 de agosto de 2010

E a cidade vai se preparando para o Outono

(No auge do outono, esta será a paisagem por aqui - linda demais...)

O tempo continua enfarruscado, cinzento... O gramado encharcado, os pássaros calados, não há nem sombra dos esquilos que por esta hora costumam estar cruzando o gramado de lá para cá a procura de alimento... Ficam nas tocas, esperando a chuva passar. Já não faz mais tanto calor, é quase hora de remover os aparelhos de ar condicionado das janelas. Lá vem o outono, o lindo e colorido outono, com suas festas tão tradicionais por aqui, como o Halloween em outubro, o Thanksgiving em novembro. As lojas já começam a ostentar em suas gôndolas toda aquela parafernália que vai decorar casas e jardins, ruas e praças, por ocasião desses festas. A cidade vai mudando sua cara, mas continua bonita, cheia de charme. E com a proximidade do término das férias de verão, as famílias começam a voltar de suas viagens, o que ocasiona um movimento maior em todos os cantos...Os cinemas, cujos programas eram voltados muito mais para as crianças, passam a exibir uma programação mais para adultos, sempre havendo uma ou duas salas com filmes ou desenhos (maravilhosos desenhos em 3D), para os pequenos. Dentro de mais uns dias, os tradicionais ônibus amarelos começarão a circular pela cidade, levando e trazendo estudantes entre suas casas e as escolas. Com a mudança de cada estação, muda o rítmo da cidade, sem que ela perca sua calma e seu ar tranquilo, sua beleza...


segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Chuva na madrugada...


Chove torrencialmente nesta madrugada insone... O barulho das gostas jde chuva, ogadas pelo vento na vidraça da janela do quarto, funciona como uma ponte para o passado, para outras madrugadas de chuva, tão insones e nostálgicas quanto esta, madrugadas em que a alma pede carinho, em que a solidão pede licença para chegar, e tenho que fazer muita força para que ela se vá de mim...
O silêncio das primeiras horas da quase manhã, cortado pela chuva, o miar da gata no andar de baixo, tão desperta quanto eu, a saudade de quem virou saudade... Ecos da chuva na madrugada...

domingo, 22 de agosto de 2010

Canção do sonho acabado


Canção do Sonho Acabado

Já tive a rosa do amor
- rubra rosa, sem pudor.
Cobicei, cheirei, colhi.
Mas ela despetalou
E outra igual, nunca mais vi.
Já vivi mil aventuras,
Me embriaguei de alegria!
Mas os risos da ventura,
No limiar da loucura,
Se tornaram fantasia...
Já almejei felicidade,
Mãos dadas, fraternidade,
Um ideal sem fronteiras
- utopia! Voou ligeira,
Nas asas da liberdade.
Desejei viver. Demais!
Segurar a juventude,
Prender o tempo na mão,
Plantar o lírio da paz!
Mas nem mesmo isto eu pude:
Tentei, porém nada fiz...
Muito, da vida, eu já quis.
Já quis... mas não quero mais...

(Cecilia Meireles)

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

E lá se vai mais uma semana...


Pois é! Mais uma semana que vai chegando ao fim... A sexta-feira amanheceu nublada, o sol querendo jogar seus raios por entre as nuvens, o ar um pouco pesado, como num prenúncio de chuvas que certamente não cairão. Os dias têm sido assim, abafados, meio enfarruscados pela manhã, abrindo em azul logo depois.
Minha filha está, desde sábado, na California, a trabalho. e aqui ficamos os kids e eu, numa semana que passou cheia de afazeres para mim; avó em tempo integral vou tentando manter a casa em seu ritmo normal, e para isso vou procurando esquecer que já não tenho mais trinta anos, o que este cansaço que chega mais facilmente faz questão de lembrar... rs... Mas temos nos divertido muito, avó e netos..
Assim, o Prosa anda meio paradinho, por falta de tempo de sua criadora. Mas a dona da casa volta amanhã e, provavelmente já na segunda-feira as coisas voltem ao normal por aqui.

E para não dizer que "não falei de flores", deixo algumas para vocês em foto e versos...

Das rosas...

Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.

Rosas verá, só de cinzas franzida,
mortas, intactas pelo teu jardim.

Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.

E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.

(Cecilia Meireles)

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Concordo plenamente que...

(Ao fundo, prédio da Biblioteca Municpal de Winchester, MA)

"Sem a cultura, e a liberdade relativa que ela pressupõe, a sociedade, por mais perfeita que seja, não passa de uma selva. É por isso que toda a criação autêntica é um dom para o futuro."

(Albert Camus)

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Poesia ao amanhecer...


Quando, ao amanhecer, descerrei as cortinas do quarto, o sol começava a espalhar seus raios cor de ouro por sobre a cidade, prenunciando mais um dia lindo e quente deste verão que já anda a querer despedir-se. No entanto, agora, o céu cobre-se de nuvens pesadas, dando a impressão de que estamos ao entardecer, pois vai escurecendo de novo... Chuvas pesadas parecem vir por ai... Tais chuvas também são coisas de verão, sei bem disso, mas o fato é que o dia perdeu sua luz, tornou-se um pouco triste. E em dias assim, com um certo ar de nostalgia, a alma busca a melancolia de alguns poetas para fazer-lhe companhia. Hoje a escolha recaiu sobre nossa apaixonante Florbela. Espero que gostem.

Anseios

Meu doido coração aonde vais,
No teu imenso anseio de liberdade?
Toma cautela com a realidade;
Meu pobre coração olha que cais!

Deixa-te estar quietinho! Não amais
A doce quietação da soledade?
Tuas lindas quirneras irreais,
Não valem o prazer duma saudade!

Tu chamas ao meu seio, negra prisão!
Ai, vê lá bem, ó doido coração,
Não te deslumbres o brilho do luar!...

Não 'stendas tuas asas para o longe..
Deixa-te estar quietinho, triste monge,
Na paz da tua cela,a soluçar...

(Florbela Espanca)

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Eu queria trazer-te...


EU QUERIA TRAZER-TE UNS VERSOS MUITO LINDOS

Eu queria trazer-te uns versos muito lindos
colhidos no mais íntimo de mim...
Suas palavras
seriam as mais simples do mundo,
porém não sei que luz as iluminaria
que terias de fechar teus olhos para as ouvir...
Sim! Uma luz que viria de dentro delas,
como essa que acende inesperadas cores
nas lanternas chinesas de papel!
Trago-te palavras, apenas... e que estão escritas
do lado de fora do papel... Não sei, eu nunca soube o que dizer-te
e este poema vai morrendo, ardente e puro, ao vento
da Poesia...
como
uma pobre lanterna que incendiou!

(Mario Quintana)

domingo, 15 de agosto de 2010

E só porque hoje é domingo...


Faz tempo que não temos aqui a presença tão querida de Fernando Pessoa... Pois hoje acordei com alguns versos do poeta dançando em minha mente, por isso resolvi colocá-los aqui, para iluminar o meu domingo. Domingo que será um pouco mais vazio, porque minha filha viajou para a Califórnia, para participar de um "meeting", devendo voltar só no próximo sábado e os meninos passam o final de semana na casa do pai. Sobram-me, então, todas as horas deste domingo para ler Pessoa, divagar sobre a vida, equilibrar a alma, juntar alguns fragmentos que ficam, em forma de lembrança, batucando dentro de mim, enfim, um domingo um pouco mais meu. Mais ou menos triste? Confesso que não sei. Vai depender do rumo que minha alma resolver tomar ao longo de suas divagações, de seus anseios, de suas possíveis esperanças. Por ora, fico com os lindos e verdadeiros versos de nosso Poeta Maior.

Tenho Tanto Sentimento

Tenho tanto sentimento
Que é freqüente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.

(Fernando Pessoa)

sábado, 14 de agosto de 2010

O verão prepara-se para partir...


Aqui em Massachusetts, as estações são muito bem definidas e isso nota-se na mudança da paisagem a cada época do ano. O verão já começa a anunciar sua partida, apesar de ainda estarmos a mais de um mês da chegada do outono. O intenso calor já começa a diminuir, pelo menos as noites já estão mais frescas, as aves, em bandos já surgem ciscando pelos gramados num anúncio que se preparam para alçar voo para as regiões mais ao sul, menos frias, as árvores começam a mudar suas cores e a perder suas folhas, dependendo da espécie.

A natureza prepara-se para mostrar sua mais bela face, o lindo e romântico outono, estação cuja beleza atinge seu ápice lá pelo mês de outubro, num espetáculo de cores, luz e sombra, de encantar. E as temperaturas, então, passam a girar entre zero e cinco graus, numa prévia do que se espera para os gelados e brancos meses de inverno.
Em nossa caminhada de ontem, já sentindo o prenúncio dessa mudança, colhi algumas imagens que deixo aqui para vocês.

Em algumas partes do bosque a vegetação rasteira já começa a mudar...

Aqui já podemos notar as folhas secas começando a forrar o chão


As cores vão ficando menos intensas....

As árvores começam a mudar, o amarelo já aparece em suas copas e os gramados das casa começam a perder o lindo verde que ostentaram durante os últimos meses.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Um dia para figas e patuás...

Um trevo de quatro folhas sempre ajuda...

É público e notório que somos um povo supersticioso. É sabido que, apesar da população, em sua maioria, professar o cristianismo, seja pelo catolicísmo ou através da imensa gama de igrejas evangélicas que se espalharam pelo país, por vezes deixa resvalar um pezinho nos terreiros. As tendas de Candomblé estão sempre lotadas, os terreiros de Macumba vão se espalhando pelos recôndidos das cidades, de norte a sul deste nosso Brasil. Os deuses africanos vão reinando, nem sempre as claras; Li faz algum tempo, não me lembro bem aonde (e peço desculpas pela informação truncada), uma citação de Levy Strauss sobre ser o brasileiro um povo estranho que ia a missa pela manhã e a noite tocava atabaques nos terreiros de macumba... Vá lá que não é bem assim, mas que somos um povo supersticioso, lá isso somos. Já repararam que ninguém passa por debaixo de escada? Que ao cruzar com um gato preto fazem logo o sinal da cruz? E quem é que deixa os sapatos com as solas viradas para cima? E o que é que se faz quando se derrama sal a mesa? E etecétera, etecétera, etecétera...
Pois meus amigos, não se esqueçam de colocar suas figas e seus patuás sob a roupa hoje, não se esqueçam de duplicar sua atenção e seus cuidados ao andarem por aí afora porque, caso não tenham ainda olhado no calendário, hoje é "sexta-feira, 13, e estamos no mês de agosto"... Hoje a noite soarão os atabaques, as encruzilhadas receberão seus despachos, os gatos pretos serão execrados, pobrezinhos. Ainda bem que a Baby (a gata aqui da casa, pretinha como um carvão) não está em terras brasileiras. E certamente por lá não sobrarão muitas galinhas pretas depois desta noite.
Não sou supersticiosa, não sou mesmo, mas já dizia minha santa avozinha que "cautela e caldo de galinha (não preta, claro) não fazem mal a ninguém, então vou aqui pondo minha barbinha de molho, porque " no creo em las brujas, pero que las hay, las hay..." (risos)...
Um dia de superstições e mandingas, uma noite de sortilégios... E a lua, como estará Dona Lua?... Cheia?... Ainda por cima noite de lobisomem??? Cruzes!... (rs)

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Na solidão da noite...


"Um anjo vem todas as noites: senta-se ao pé de mim, e passa sobre meu coração a asa mansa, como se fosse meu melhor amigo. Esse fantasma que chega e me abraça (asas cobrindo a ferida do flanco) é todo o amor que resta
entre ti e mim, e está comigo."

(Lya Luft)

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Gastei uma hora pensando...


Poesia
(Carlos Drummond de Andrade)

Gastei uma hora pensando em um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.


Pois é!... É assim que estou hoje... Tenho um mundo de lembranças, de fatos, de visóes dentro de mim, mas não consigo juntar as palavras para transporta-los para ca. Poderia falar de sonhos desconexos, posto que os tenho, ou falar de esperanças perdidas, posto que as tive também. Ou quem sabe de pequenos momentos que se fizerem perenes em minha alma? Talvez até de acontecimentos banais que, com um pouco de sensibilidade virariam uma história interessante, já que vividos por quase todo mundo... Poderia falar sobre qualquer coisa, afinal fala–se sobre tudo e sobre todos. Poderia, claro... Mas... cadê a palavra certa para começar a primeira frase que se seguiria a tantas outras para compor um texto? Cadê?... Foge-me deslavadamente, já faz uns dias.
Começo a perguntar a minha pobre alma o que foi feito de tanto sentimento que sempre a envolveu? Guardou-o no velho baú das perdas e danos que a vida lhe ofertou, ou apenas deixou-os dormindo por uns tempo, ainda com possibilidades de um sereno despertar? Não consigo atinar com a resposta. Não por enquanto. Então, até que a tal resposta chegue libertando a palavra, fico como nos versos de Drummond, com a poesia de uma boa prosa inundando minh'alma...

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Ao anoitecer, Cecilia Meireles


Suavíssima

Os galos cantam, no crepúsculo dormente . . .
No céu de outono, anda um langor final de pluma
Que se desfaz por entre os dedos, vagamente . . .

Os galos cantam, no crepúsculo dormente . . .
Tudo se apaga, e se evapora, e perde, e esfuma . . .

Fica-se longe, quase morta, como ausente . . .
Sem ter certeza de ninguém . . . de coisa alguma . . .
Tem-se a impressão de estar bem doente, muito doente,

De um mal sem dor, que se não saiba nem resuma . . .
E os galos cantam, no crepúsculo dormente . . .

Os galos cantam, no crepúsculo dormente . . .
A alma das flores, suave e tácita, perfuma
A solitude nebulosa e irreal do ambiente . . .

Os galos cantam, no crepúsculo dormente . . .
Tão para lá! . . . No fim da tarde . . . além da bruma . . .

E silenciosos, como alguém que se acostuma
A caminhar sobre penumbras, mansamente,
Meus sonhos surgem, frágeis, leves como espuma . . .

Põem-se a tecer frases de amor, uma por uma . . .
E os galos cantam, no crepúsculo dormente . . .

(Cecilia Meireles)

domingo, 8 de agosto de 2010

Dá-me a tua mão...


Dá-me a Tua Mão

"Dá-me a tua mão: Vou agora te contar como entrei no inexpressivo que sempre foi a minha busca cega e secreta. De como entrei naquilo que existe entre o número um e o número dois, de como vi a linha de mistério e fogo, e que é linha sub-reptícia. Entre duas notas de música existe uma nota, entre dois fatos existe um fato, entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam existe um intervalo de espaço, existe um sentir que é entre o sentir - nos interstícios da matéria primordial está a linha de mistério e fogo que é a respiração do mundo, e a respiração contínua do mundo é aquilo que ouvimos e chamamos de silêncio."

(Clarice Lispector)

Parabenizando os pais, em seu dia.


Comemora-se hoje, no Brasil, o Dia dos Pais!

Um dia muito especial, que quero festejar com meus filhos, claro, pois são os pais de meus netos, mas que gostaria de festejar também com todos os amigos e leitores do "Em Prosa e Verso",
Parabéns a todos, no Brasil ou não, e que tenham um dia muito feliz, junto aos seus filhos.

FELIZ DIA DOS PAIS!

E para os dois homens que foram um porto seguro em minha vida, meu pai e o pai de meus filhos, minha eterna saudade...

sábado, 7 de agosto de 2010

O presente, o passado, um poema...


O dia amanhece enfarruscado, cinzento, anunciando chuvas. Mais um sábado de um quente verão. Pelas cortinas entreabertas consigo avistar apenas as copas das árvores mais altas contra o cinzento do céu e como ruido de fundo o ronco do motor de mais um avião que segue a caminho do aeroporto. Será do de Boston? Ou este estará precisamente deixando Boston? Uma vez, ainda nos distantes anos de minha adolescência, um momento como este, num amanhecer parecido com este, visto através das portas da pequena sacada de meu quarto, com a diferença que ao invés das copas das árvores eu enxergava apenas os telhados das casas vizinhas, consegui escrever minha primeira crônica. Dela já nem lembro as palavras, mas o títuio ficou na memória: "Um avião que passa ao longe, no horizonte..." Era nada além de uma divagação sobre o destino dos passageiros daquele voo, suas vidas, seu sonhos, sob o prisma de uma adolescente, com toda a sua inexperiência, com todos os seus sonhos, com seu modo de enxergar a vida... Acho que era mais ou menos isso.
Ah, a nossa memória!... Como é que fui me lembrar de um momento tão inexpressivo e tão distante? Aviões cruzam os céus de Winchester em grande número, principalmente pela manhã e ao entardecer... Porque esta lembrança agora? Sei lá. Na verdade, quando abri o blog, esta manhã, vinha com a intenção de aqui deixar mais um poema de Quintana, para adoçar o sábado dos leitores do Prosa, e acabei perdendo-me em recordações a um simples olhar pela janela, ao ouvir o costumeiro ronco de um avião que passa completamente alheio, lá longe, no horizonte... E, para não me perder do primeiro objetivo, ai está nosso doce Quintana... Um poema escolhido agora, porque nos lembra a passagem do tempo. Afinal, ontem foi dia de aniversário e o tempo já se faz sentir, já faz refletir sobre o que poderia ter sido e, simplesmente, não foi...

SEISCENTOS E SESSENTA E SEIS

A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo...
Quando se vê, já é 6ªfeira...
Quando se vê, passaram 60 anos...
Agora, é tarde demais para ser reprovado...
E se me dessem - um dia - uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio.
seguia sempre, sempre em frente ...

E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.

(Mario Quintana)

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Estamos aniversariando...

(Alexander adorou seu presente. Legos são seu passatempo predileto)

A casa está em clima de festa. Alexander, meu netinho caçula. completa nove anos hoje. E o que ele está achando de melhor é que a vovó faz aniversário também... "It's a double birthday!" Acordamos com flores, balões, presentes e um lindo bolo cheio de velinhas - juntando as minhas e as do kid, quase não cabiam no bolo... hehehehe. Ele mal começa sua caminhada que, espero, será longa, muito longa, iluminada, plena de sabedoria, muitas alegrias e amor. Eu sigo meus longos caminhos que tem tido momentos lindos, doces, alegres, intercalados com momentos difíceis e doloridos, mas é assim mesmo que são palmilhados os caminhos da vida. E, ao se chegar ao ponto final, a soma destes ou daqueles acaba por determinar uma vida, se bem vivida ou não... Acho que vou levando uma certa vantagem para o lado "bem".
Mas hoje é dia de alegria, alegria que fica maior com a presença dos amigos, com o carinho que venho recebendo desde cedo em forma de e-mails, mensagens, telefonemas... E houve até quem reclamasse porque eu não havia postado nada no Prosa a respeito da data, acreditam? Pois é... Estamos aniversariando em dia de muito calor, de muita algria e de muito amor.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

O tempo... Ah, o tempo!...


"O tempo é uma superfície oblíqua e ondulante que só a memória é capaz de fazer mover e aproximar."

(José Saramago)

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Uma grande ternura...


Minha grande ternura

Minha grande ternura
Pelos passarinhos mortos;
Pelas pequeninas aranhas.

Minha grande ternura
Pelas mulheres que foram meninas bonitas
E ficaram mulheres feias;
Pelas mulheres que foram desejáveis
E deixaram de o ser.
Pelas mulheres que me amaram
E que eu não pude amar.

Minha grande ternura
Pelos poemas que
Não consegui realizar.

Minha grande ternura
Pelas amadas que
Envelheceram sem maldade.

Minha grande ternura
Pelas gotas de orvalho que
São o único enfeite de um túmulo.

(Manuel Bandeira)

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Viver o dia a dia...

Gentis margaridas para meus amigos, sempre tão gentis...

Canção do dia de sempre


Tão bom viver dia a dia...
A vida assim, jamais cansa...

Viver tão só de momentos
Como estas nuvens no céu...

E só ganhar, toda a vida,
Inexperiência... esperança...

E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.

Nunca dês um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar.

Nada jamais continua,
Tudo vai recomeçar!

E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Nas tuas mãos distraídas...

Mario Quintana

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Um lugar que criamos...


"O futuro não é um lugar onde estamos indo, mas um lugar que estamos criando. O caminho para ele não é encontrado, mas construído e o ato de fazê-lo muda tanto o realizador quando o destino."

(Antoine de Saint-Exupéry)

domingo, 1 de agosto de 2010

E o tempo nos traz agosto...


Mais um agosto está começando... Agosto, um mês cheio de mistério, de magia e, para mim, cheio de datas significativas. Os antigos, no Brasil, costumavam dizer que agosto era mês de cachorro louco e talvez seja por isso que é em agosto que a vacinação anti-rábica acontece por lá. Esses mesmos antigos temiam a chegada deste mês, dizendo que nele sempre aconteciam "tragédias" políticas (vejam o suicídio do Presidente Vargas e os fatos que o cercaram e a série de crises políticas e econômicas atribuídas as influências maléficas do mês). Diziam também que nenhum dia poderia ser pior, mais azarado, do que uma sexta-feira treze de um mês de agosto; que era um mês soturno... Talvez por ser um frio e garoento més de inverno, sempre cinzento, fosse mesmo um tanto soturno. Mas até isso perdeu-se nas brumas do tempo, já que as mudanças nas estações climáticas que vêm acontecendo nas últimas décadas roubaram essas tais caractísticas de agosto...
Em contrapartida, aqui pelo Hemisfério Norte, sendo alto verão, é tempo de alegria, de férias, passeios, de muita vida solta pelo ar. É um mês sempre bem vindo, sempre esperado, com dias de muito sol, calor, e as mais belas noites de luar. Um tempo de sonhos e romances...
Soturno e cheio de mistérios, ou alegre e cheio de magia, seja lá como for, agosto é para mim um mês especial, carrregado de doces lembranças e com algumas datas muito especiais a serem comemoradas ou relembradas com corinho, portanto, só posso diizer: Seja bem vindo Agosto, que seus dias sejam benfazejos e amenos... Achegue-se com seu lado bom e iluminado, trazendo paz e harmonia para enfeirar seus trinta e um dias a serem vividos com amor...