floquinhos

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Porque nasci entre espelhos...



OS ESPELHOS

Porque nasci entre espelhos
existo para além da minha imagem
que será minha
quando me encerrar
no espelho final da minha vida.

Porque nasci entre espelhos
meu amor
ao amor que tu me deres
não posso devolver
nada mais que a minha vida passageira
meu espelho paralelo
meu amor
que só sem mim me podes possuir.

Porque nasci entre espelhos
tenho pressa
de encontrar-me face a face

e a minha imagem mudou
quando te amei
porque nasci
e fui nascendo sempre
por amar-te
até ficar sozinho
sem mim
no espanto encruzilhado de o saber
cresci sozinho para além de mim
perdi a própria sombra
e vivo onde não sei quem estou a ser.

Quando a morte chegar
quando eu chegar à morte
quando
eu
morrer
e de mim não sobrar nem a memória
que me foi alma durante a minha vida,
entre espelhos lentamente revelado
os olhos cerrarei.
E porque ausente
terei sido
inteiro.

(Helder Macedo)

sábado, 29 de janeiro de 2011

Lágrimas turvam a vista...



"Se tu choras por ter perdido o sol, as lágrimas te impedirão de ver as estrelas."

(Antoine de Saint-Exupery)

O que dizem as flores?...



A linguagem das flores

Não imagino que haja uma única mulher no mundo que não se sensibilize com uma flor, que não se emocione ao receber uma flor. Flores são mensageiras por si só de sentimentos, denunciam sonhos e paixões secretas. Como? Ora, elas tem lá sua linguagem. Eu era ainda bem jovem quando comecei a aprender ouvindo conversas de minha irmã com minha prima sobre essa linguagem e seu significado. Ao oferecer flores a uma mulher – era absolutamente proibido pensar em dar flores, fossem quais fossem, para um homem – então, ao se oferecer flores a uma dama, a uma jovem, sempre se tinha o cuidado de escolher cuidadosamente não só a espécie, mas também a cor. Só um homem apaixonado ofereceria rosas vermelhas. E nunca a uma jovem. As jovens receberiam as cor-de–rosa ou as brancas, símbolos de delicadeza e pureza, respectivamente. E esse não era um costume surgido naquela época, absolutamente. Conta-se que na  Turquia do Século XVIII usavam-se flores como códigos para mensagens, o chamado Código do Turcos. Na França de 1800 havia um código também, que ficou conhecido como La Langage des fleurs.  E a Inglaterra Vitoriana teve também seu código, amplamente respeitado e usado, um pouco mais complexo, porem, porque a forma como se ofertava  ou recebia uma flor demonstrava sentimentos e significava respostas, por exemplo,  uma rosa vermelha, já aberta,  era demonstração de admiração pela beleza feminina, já um botão fechado, com espinhos, queria dizer que o pretendente temia, mas nutria esperança. Se a dama ao receber  o botão o virasse  recatadamente, para baixo, significava que não precisava temer, mas também ao deveria ter esperança, quer dizer, um solene “não”.... rs... Se o colocasse nos cabelos, estaria pedindo cuidado, cautela, mas se o pusesse sobre o coração... ah! suprema glória (rs) o amor era correspondido...
E assim, através dos tempos essa linguagem veio sendo usada, em formas um tanto diferentes, mas sempre com um significado mais ou menos semelhante. Hoje, entretanto, parece que essa linguagem caiu em desuso. Então, quando uma linda e famosa musica da MPB afirma que as rosas não falam, vê-se ai um engano. Elas falam sim, através de suas cores elas são mensageiras doces e delicadas de sentimentos, elas falam de paixões, de desencantos. Quando jovem, sabíamos que a rosa vermelha era paixão, a cor-de-rosa, delicadeza, a branca pureza, a amarela desespero, Não havia, então, muitas outras tonalidades de rosas, mas essas bastavam para os objetivos pretendidos pelos enamorados. E com a mudança dos tempos, foi sendo permitido aos homens receberem flores também, sem um maior constrangimento e os cravos foram os primeiros a ganharem essa honra,
Achei num livro uma lista de flores “falantes” e, como mera curiosidade coloco abaixo as mais conhecidas, e na próxima vez que você for oferecer flores para a pessoa amada, lembre-se de usar essa linguagem linda e perfumada como reforço suas palavras.

Amarílis - Orgulho
Camélia - Perfeição
Cravo - Ai, meu pobre coração!
Crisântemo - Estou apaixonado
Margarida - Inocência
Miosótis - Amor verdadeiro
Gerânio - Tristeza
Madressilva - Meiguice
Jacinto - Mágoa
Íris - Mensagem
Jasmim - Graça e elegância
Alfazema - Desconfiança
Lírio - Pureza
Narciso - Vaidade
Orquídea - Beleza
Amor-perfeito - Pensamentos
Peônia - Vergonha e timidez
Rosa vermelha - Amor, paixão
Rosa cor-de-rosa- Delicadeza
Rosa branca - Pureza
Girassol - Altivez
Tulipa - Declaração de amor
Violeta - Modéstia
  

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

A Primavera chegará, mesmo que...



"A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la."

(Cecilia Meireles)

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Um passado que não passou...


Saudade é amar um passado que ainda não passou,

É recusar um presente que nos machuca, 
É não ver o futuro que nos convida..


(Pablo Neruda)

Hibernando... Outra vez!...


(Vista através da janela de meu quarto, ao acordar - vejam os carros mergulhados na neve)

Pois é!... E cá estamos nós hibernando, de novo... Escolas fechadas, o branco da neve cobrindo tudo, e uma algazarra dos kids que, ao saberem que não haveria aulas hoje, esqueceram o sono que sentem todas as manhãs, na hora de sairem da cama, para correrem para a cama da mãe. Cada um de um lado, lá está minha filha, envolvida pelo carinho dos filhos, rindo, conversando, contando coisas, aproveitando para viver um momento bom, enquanto a neve cai intensa, lá fora, bloqueando os caminhos, segurando o rítmo agitado do dia a dia.
E como é preciso aprender a tirar proveito de cada momento, vamos transformar o que seria um dia de tédio, onde as pessoas trancadas dentro de suas casas ficam sem saber o que fazer, em um dia de alegre convivência, de se estar junto, de repartir momentos. Um bom livro, um filme na tarde, com direito a pipoca, brincadeiras para os meninos, até um joguinho de dominó em família pode ser divertido quando se está de bem com a vida.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Para quem gosta de escrever, um convite...


A Lu Cavichioli, uma querida amiga do Prosa, está abrindo as portas de seu delicioso "Empório do Café Literário" para quem gosta de escrever, com o lançamento de um conto interativo onde  escritores  e (ou) aprendizes, juntam-se para formar um único trabalho. Segundo palavras da própria Lu, "o conto interativo tem como objetivo maior abrir espaço para a criatividade em conjunto com a interação, resultando numa experiência agradável e recreativa".
Gostaria de sugerir aos leitores e amigos do Prosa que gostem de escrever,  uma passadinha lá no Empório e, se quiserem participar também, posso garantir que serão todos muito bem recebidos pela nossa anfitriã.

Onde se acha a minha vida?...



Pergunto-te onde se acha a minha vida.
Em que dia fui eu. Que hora existiu formada
de uma verdade minha bem possuída

Vão-se as minhas perguntas aos depósitos do nada.

E a quem é que pergunto? Em quem penso, iludida
por esperanças hereditárias? E de cada
pergunta minha vai nascendo a sombra imensa
que envolve a posição dos olhos de quem pensa.

Já não sei mais a diferença
de ti, de mim, da coisa perguntada,
do silêncio da coisa irrespondida.



(Cecília Meireles)

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Uma inexplicável sensação de saudade...


Você já sentiu um pote inteirinho de uma saudade inexplicável, sem saber de que ou de quem, derramando-se sobre seu coração pelas notas de uma música? Uma música que não faça parte de nenhum momento, bom ou ruím, de sua vida, mas que ao envolver seu espírito faça você sentir vontade de chorar? Não? Pois eu já. Acredite, não tenho como explicar, mas é assim que eu me sinto sempre que ouço "One more kiss, dear" (Vangelis), da trilha musical de Blade Runner. Essa música me transporta não sei para quando, não sei para onde, mas me carrega na saudade... 
E hoje ela fica ai, como fundo músical do Prosa, porque é dia de saudade, de nostalgia...

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Amor com amor se paga?...


AS SEM-RAZÕES DO AMOR

Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.



(Carlos Drummond de Andrade)

Ao Alexander, com carinho...


Cada criança tem suas brincadeiras prediletas. O Alexander, por exemplo, passa grande parte do tempo entre seus legos, montando, remontando, brincado. Tem uma enorme paciência e um grande cuidado na montagem e o resultado é sempre muito bom. Esta réplica da Torre de Londres foi montada com mais de quatro mil e duzentas pequenas peças, num trabalho de dois dias - tempo muito pequeno se levarmos em conta o nível de dificuldades apresentado e a idade do kid. 
Colocar este vídeo aqui, no Prosa, é uma forma de dizer ao Alexander que seu trabalho merece destaque, e porque não?  Coisas de avó? Até pode ser, mas ele vai ficar tão feliz... rs... E quer coisa melhor para uma avó do que ver seus netos felizes? Pois é! Não tem mesmo... rs...  Então, pedindo licença aos amigos e leitores do Prosa, vamos declarando que, por aqui, hoje é dia do Alexander.

(Para ouvir o vídeo, por favor, desligar a música acima)

I love you, kid. Very, very much...

domingo, 23 de janeiro de 2011

Poesia para uma manhã fria...



CANÇÃO DO AMOR IMPREVISTO


Eu sou um homem fechado.
O mundo me tornou egoísta e mau.
E a minha poesia é um vício triste,
Desesperado e solitário
Que eu faço tudo por abafar.
Mas tu apareceste com a tua boca fresca de madrugada,
Com o teu passo leve,
Com esses teus cabelos...
E o homem taciturno ficou imóvel, sem compreender
nada, numa alegria atônita...
A súbita, a dolorosa alegria de um espantalho inútil
Aonde viessem pousar os passarinhos.

(Mario Quintana)

sábado, 22 de janeiro de 2011

O que não se perdeu...


"Lembro-me do passado, não com melancolia ou saudade, mas com a sabedoria da maturidade que me faz projetar no presente aquilo que, sendo belo, não se perdeu."

(Lya Luft)

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Numa fase meio sem graça...


Definitivamente chego a conclusão que a palavra e eu andamos de relações estremecidas, brigadas a ponto de  nem nos aproximarmos muito uma da outra. Não sei se por estar tantos meses ausente de meu cantinho, vivendo em terra estranha e gelada, não sei se por uma rotina que não é minha, o fato é que ando um tédio só, repetindo-me e repetindo-me, de tal forma que nem eu mesma aguento ler meus textos... Falta-me inspiração ou falta-me motivação, sei lá, a verdade é que cansei de buscar e buscar fotos, usar frases ou poemas que atualmente nem andam me dizendo muita coisa. Parafraseando Drummond diria "eta fase besta, meu Deus!".... 
Poderia abrir um jornal e depois de le-lo, comentar um ou outro artigo, mas os jornais atualmente só estampam as tantas tristezas, maldades e calamidades que assolam o mundo - acho até que sempre foi assim, eu é que não andava com esta pontinha de descrença que me ronda agora... E para que faria eu isso, se todos os leitores  deste espaço já têm diante de si, todas as noites, na TV de suas salas, esse desfilar de tristezas?... Se sempre quis oferecer aos amigos do Prosa momentos de paz, de ternura, de um certo encantamento pela vida, como poderia agora ficar martelando sobre coisas que os deixariam tristes ou revoltados? Não! Não poderia fazer isto por aqui. Teria que abrir um outro blog, que seguisse uma outra linha. Não, meus amigos, podem ficar tranquilos que nem estou cogitando isso.
E aí? Aonde ficamos? A que conclusão chegamos, o Prosa e eu? A nenhuma? Ô pobreza!... Pobreza de espírito, de idéias, de emoções doces, de... sei lá mais de que.  Só sei que preciso dar uma sacudidela em mim mesma, Está na hora de uma reciclagem e eu prometo aos meus amigos que vou tentar. vou revirar meu baú de memórias em busca de lembranças que ainda não estejam desgastadas pelo tempo ou por terem sido já comentadas, vou tentar retornar ao caminho da ternura, da poesia, de mim. 
Se vou conseguir? Ah, isso já é uma outra história. mas pelo menos vou tentar. Prometo que vou.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Na tarde que cai, Fernando Pessoa...


Apontamento

A minha alma partiu-se como um vaso vazio. 
Caiu pela escada excessivamente abaixo. 
Caiu das mãos da criada descuidada. 
Caiu, fez-se em mais pedaços do que havia loiça no vaso.
Asneira? Impossível? Sei lá! 
Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu. 
Sou um espalhamento de cacos sobre um capacho por sacudir.
Fiz barulho na queda como um vaso que se partia. 
Os deuses que há debruçam-se do parapeito da escada. 
E fitam os cacos que a criada deles fez de mim.
Não se zanguem com ela. 
São tolerantes com ela. 
O que era eu um vaso vazio?
Olham os cacos absurdamente conscientes, 
Mas conscientes de si mesmos, não conscientes deles.
Olham e sorriem. 
Sorriem tolerantes à criada involuntária.
Alastra a grande escadaria atapetada de estrelas. 
Um caco brilha, virado do exterior lustroso, entre os astros. 
A minha obra? A minha alma principal? A minha vida? 
Um caco. 
E os deuses olham-o especialmente, pois não sabem por que ficou ali.


(Alvaro de Campos)

A Foto do Dia (6)


A Biblioteca Pública de Winchester (Winchester Public Library) toma um ar tão carrancudo, assim envolta em neve... Mas não deixa de ser imponente...

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

It's snowing again...


Especialmente para Maria Antonieta (minha nora), porque sei o quanto ela gostaria de estar aqui (com sua câmera) num momento destes...


Com meu pedido de desculpas pelo amadorismo do vídeo... Afinal, é meu primeiro vídeo...
Um dia eu consigo, viu? rs...

Um futuro confiscado?...



"Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar."

(Carlos Drummond de Andrade)

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

A Foto do Dia (5)

Estava encantada fotografando as novas cortinas de gelo que pendiam do telhado quando minha filha chegou de viagem e, ao ver o meu empenho todo, foi logo avisando que por mais bonito que aquelas cortinas pudessem parecer, eram um transtorno e deviam ser quebradas, para não danificarem as calhas, sobrecarregadas com a quantidade de neve que acabara por virar gelo... Mais uma vez a natureza mostra suas duas faces...
Em foto tirada agora a tarde, o bosque visto da janela da área, na parte de trás da casa, através de uma das lindas cortinas de gelo.


Do azul dourado ao cinza chumbo...


A segunda-feira começa linda, iluminada, cheia de sol. Dia consagrado a Martin Luther King, meio feriado, os kids em final de semana com o pai, só voltam a tardinha, minha filha viajando, a casa em completo silêncio. Nem a Baby miando, como costuma acontecer quando os humanos da casa demoram para descer. Deve ser o frio e a preguicinha de sair da "toca" que ele ocasiona pela manhã. Confesso que não é fácil sair da cama, do aconchego dos edredons, e correr para o chuveiro, numa manhã assim. 
Recostada na cabeceira de minha cama, posso ver através da janela as copas das árvores douradas pelo sol em contraste com o céu azul, a fumaça que sai da chaminé de uma das casas vizinhas anunciando que a lareira lá está acesa, aquecendo um pouco mais a sala onde, possivelmente um de seus moradores, sentado ao lado, saboreia um café quentinho, lê o jornal do dia, ou, o que é mais provável, assiste-o pela TV.
E o pensamento voa alto, imaginando as TVs brasileiras ocupadas com mais uma tragédia, dessas que parece não terem mais fim, não terem solução, Meu coração fica apertado ao pensar em tantas vidas ceifadas, em tanta tristeza... Até quando, meu Deus? Até quando aqueles que assumiram a responsabilidade de zelar por esse povo, de suprir suas necessidades básicas, vão continuar postergando suas obrigações para com a sociedade e fazer jus aos votos de confiança e esperança que receberam desse mesmo povo sofrido? Até quando vão fechar os olhos para os tristes caminhos que essa gente percorre numa pobreza e num descaso que não tem mais fim? Até quando?...
Agora, depois de mais uma tragédia, todos se mobilizam, falam, comentam, prometem... Prometem... Caras contraídas, chorosas, mostram-se nas telas das TVs, comunicando futuras soluções que nunca se concretizam, pois no próximo ano, desgraçadamente, tudo vai acontecer de novo... 
E toda a beleza que passa através da janela, todo o dourado do sol sobre a cidade e o bosque, toda a calma de uma manhã azul ficam transformadas em cinza chumbo dentro de mim. Sei bem que o mundo não é lá muito justo. Sei bem que enquanto uns nadam em conforto e privilégios, outros reviram latas de lixo nas ruas para poder sobreviver. Sei bem que, como diziam meus antigos, "o mundo sempre foi assim"... Mas precisa ser assim, Meu Deus?... Precisa?...

domingo, 16 de janeiro de 2011

A foto do Dia (4)


(clique para ampliar)

Quando a neve acumulada sobre o telhado começa a derreter, vai formando lindas cortinas de gelo.
Imagino que a semelhança entre estas e as cortinas de luzes usadas nos beirais das casas, como decoração de Natal, não seja mera coincidência... Ambas são muito lindas.


Coloquei uma segunda foto para que vejam esta outra cortina, menor, mas tão bonita quanto a da janela (do quarto dos kids). Esta formou-se na área de entrada da casa.

sábado, 15 de janeiro de 2011

A Foto do Dia (3)


O dia amanhece assim, todo azul, muito lindo, numa temperatura de... acredite se quiser... dezoito graus centígrados abaixo de zero...  

Para ouvir estrelas...



Via Láctea 

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso"! E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora! "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las:
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas".

(Olavo Bilac)

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

A Foto do Dia (2)

A neve sobre os arbustos, como as nuvens que vemos as vezes no céu de verão, parece formar estranhas ciraturas...

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Nosso primeiro dever seria...


"Somos demasiado frívolos: buscamos o atordoamento das mil distrações, corremos de um lado a outro achando que somos grandes cumpridores de tarefas. Quando o primeiro dever seria de vez em quando parar e analisar: quem a gente é, o que fazemos com a nossa vida, o tempo, os amores. E com as obrigações também, é claro, pois não temos sempre cinco anos de idade, quando a prioridade absoluta é dormir abraçado no urso de pelúcia e prosseguir, no sono, o sonho que afinal nessa idade ainda é a vida"

(Lya Luft)

A Foto do Dia (1)

O dia amanheceu azul, lindo, de uma beleza de cartão postal. O sol batendo nos galhos ressequidos e cobertos pela neve, no bosque, parecia cobri-los de dourado. As aulas recomeçaram, porém com duas horas de atraso, o suficiente para que fosse feita a limpeza dos caminhos e pátios das escolas. A vida volta ao normal.
Assim, minha alma de fotógrafa amadora "maluqueceu" e, aproveitando um convite de milha filha para ir com ela a Harvard, fui clicando pelos caminhos tudo o que foi possível, para guardar essa beleza toda de uma paisagem branca e azul, não só no fundo de minhas retinas. E, como gostaria que alguns dos meus pacientes amigos vissem essas fotos, e não querendo cansar ninguém, pensei em abrir uma série de pequenas postagens diárias, que chamarei de "A Foto do Dia" e que aqui estará independente das outras postagens. 
Começo com este lindo pinheiro, coberto de neve, como se espera ver quando se pensa em uma linda árvore de Natal. E espero que gostem de, pelo menos, uma ou outra das fotos que passarão por aqui.


quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Cantigas...


Andorinha


Andorinha lá fora está dizendo:
— "Passei o dia à toa, à toa!"


Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste!
Passei a vida à toa, à toa . . .



(Manoel Bandeira)

A snow storm... again...


Faz dois dias que começaram a falar, por aqui, em nova nevasca para esta madrugada de quarta-feira. Mas ontem o céu estava azul, dando o direito da dúvida a esta estranha em terra alheia. Mesmo assim, a casa ficou toda de sobreaviso. A tardinha fomos ao supermercado comprar alguns artigos de última hora e o encontramos cheio de gente fazendo suas compras para uma reserva caso  "the snow storm" os impedisse de sair de casa por dois ou três dias. Aí comecei a acreditar que realmente teríamos muita neve. E a confirmação veio a noite, quando o superintendente das escolas de Winchester deixou um recado no celular de minha filha - recado transmitido sempre a todos os pais de alunos, quando alguma coisa diferente acontece -  avisando que as aulas estariam suspensas hoje - para alegria dos kids, pois um feriado assim, no meio da semana, ainda mais inesperado, caia do céu. Minha filha então ligou para um dos serviços de retirada de neve da frente das garagens das casas e já deixou acertado que eles viriam fazer a retirada, sempre que uma certa quantidade de neve tivesse se acumulado nas passagens, com é lei por aqui - a prefeitura cobra pesadas multas se as passagens de pedestres, ou de carros, não forem devidamente desobstruídas. Casa abastecida, retirada da neve acertada, tudo arranjadinho para enfrentar o que viesse por ai...
Acordo hoje com a cidade no meio da maior neve!... A janela de meu quarto semi coberta pela dita cuja, jogada lá pela força do vento e, lá fora, tudo branquinho, fofinho, geladinho, ou melhor, geladérrimo!!! 
O vento sopra forte la fora, mas o calorzinho dentro da casa aquece e reconforta. Passa um pouco da sete da manhã e todos ainda dormem. O café da manhã de hoje promete ser muito mais agradável, com todos a mesa e os meninos sem pressa pelo horário da passagem do ônibus, o que vai-nos permitir saborear calmamente os deliciosos Waffles regados com "maple syrup", acompanhados de morangos e creme chantilly - uma gostosura reservada aos dias especiais, quando não se tem hora para nada...  Depois teremos um dia todinho para estarmos em companhia uns dos outros, o que é o melhor de tudo isso. Um dia tão feio lá fora, precisa ter calor, alegria e amor familiar que possa transformar o frio inverno e o isolamento que ele impõe, em agradáveis momentos... 
Deem uma espiadinha pela minha janela e vejam só que paisagem mais desolada...


Foi esta a visão que tive ao acordar, da janela de meu quarto, com as vidraças toldadas pela neve


E olhando através dela, foi exatamente assim, embaçada, que vi a paisagem branca desta manhã.


Os caminhões começam a tentar desobstruir as ruas para a passagen dos carros  (dos poucos que se atreverem a sair de suas garagens, hoje)






segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Soneto a quatro mãos

)

Tudo de amor que existe em mim foi dado
Tudo que fala em mim de amor foi dito
Do nada em mim o amor fez o infinito
Que por muito tornou-me escravizado.

Tão pródigo de amor fiquei coitado
Tão fácil para amar fiquei proscrito
Cada voto que fiz ergueu-se em grito
Contra o meu próprio dar demasiado.

Tenho dado de amor mais que coubesse
Nesse meu pobre coração humano
Desse eterno amor meu antes não desse.

Pois se por tanto dar me fiz engano
Melhor fora que desse e recebesse
Para viver da vida o amor sem dano.



(Vinicius de Moraes / Paulo Mendes Campos)

Por aqui (ainda) alguns ecos do Natal...



Joaninha costumava correr solta pelas ruas em brincadeiras com suas amiguinhas, pulando corda e amarelinha, brincando de roda, de boneca, desenhando sobre a calçada, com pedaços de carvão que pegava na cesta ao lado do fogão, aproveitando a doce liberdade que era privilégio daqueles tempos.
Era uma rua antiga, habitada por imigrantes europeus. Eram os primeiros anos da década dourada do século passado...  Era um mundo que, visto através do prisma do tempo, era pura magia...
Era manhã de Natal e, como em todas as manhãs de Natal, as crianças reuniam-se nas portas das casas para exibir o presente que Papai Noel havia deixado para cada uma delas. Havia uma quase igualdade naqueles presentes, posto que havia uma quase igualdade em cada um daqueles lares habitados por famílias menos favorecidas. Mas, naquele ano foi diferente.
Dois ou três meses antes, mudara-se para um dos casarões uma pequena família que, diferente das outras, tinha uma melhor posição social. Um casal e uma única filha, uma menina que parecia frágil e doentia, que com seus lindos vestidos e seus sapatos graciosos, destoava claramente das outras meninas.
Naquela manhã, as meninas, num alarido, exibiam suas bonecas, simples, feitas de pano (algumas por suas próprias avós) que Papai Noel havia deixado em seus sapatinhos, quando Maria Lúcia, pelas mãos de sua mãe, passou por elas carregando nos braços a mais linda visão que já havia povoado seus pequenos mundos... Uma boneca de porcelana! Linda, ricamente vestida, longos cabelos arrematados por um delicado chapéu, nos pés graciosos sapatinhos dourados. Fez-se silencio a sua passagem.
Bocas entreabertas de espanto, olhinhos esbugalhados de admiração, não conseguiam dizer palavras.
Ao perceber o impacto que causara entre suas pequenas vizinhas, a petulante garota semicerrou os olhos, levantou o queixo num gesto de enfado e, virando-se para a mãe, disse: “Veja, mamãe, as pobretonas estão com inveja da minha bonequinha...” A um “não liga...”, da mãe, ambas apressaram o passo e foram sumindo no final da rua.
Mal refazendo-se do espanto, Joaninha saiu correndo em direção a sua casa onde encontrou a mãe preparando o almoço de Natal. Segurando-a pelo avental, como a exigir atenção, foi logo contando o que se passara lá na rua e dizendo que Papai Noel não era justo, porque dava aquela menina que já tinha tudo, seu mais lindo presente e a elas, que nada tinham, ofertava simples bonequinhas de pano.
A mãe envolvendo-a num abraço, tentando segurar as lágrimas que insistiam em marejar-lhe o olhar, buscando palavras para explicar o inexplicável, mal conseguiu murmurar: “A minha filha, o mundo é um caminho de injustiças.

Quase cinquenta anos depois, cumprindo um ritual sagrado para seu Natal, Joaninha chegava aquele orfanato, com as amigas, carregando tantos e tão lindos brinquedos para que os pequenos órfãos, já nascidos injustiçados, tivessem, pelo menos, um Papai Noel mais justo...

domingo, 9 de janeiro de 2011

Há pessoas que...



"Há pessoas que nos falam e nem as escutamos, há pessoas que nos ferem e nem cicatrizes deixam mas há pessoas que simplesmente aparecem em nossas vidas e nos marcam para sempre."

(Cecilia Meireles)

sábado, 8 de janeiro de 2011

Em uma separação...


"Aqueles que se amam e são separados podem viver sua dor, mas isso não é desespero: eles sabem que o amor existe."

(Albert Camus)

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Nas madrugadas do tempo...


Acordou com o barulho do vento que dançava entre os galhos ressequidos do bosque e, imaginando o frio que deveria estar fazendo lá fora, enrodilhou-se entre os lençóis, numa tentativa inútil de voltar a dormir. Era madrugada e ela sempre tivera um quezinho pelas madrugadas quando, a casa em silêncio e a cidade semiadormecida, davam-lhe a falsa sensação de que a paz reinava sobre o mundo, sobre os homens.

Sem conseguir voltar a dormir, saiu da cama e, apanhando o robe que repousava sobre a poltrona, envolvendo-se em seu aconchego, dirigiu-se até a janela. Ao abrir as cortinas deu com a beleza da neve caindo sobre o gramado, iluminada apenas pela fraca luz que vinha do poste de iluminação colocado quase em frente a casa.

E sem saber bem porque, viu-se em outra madrugada insone, diante de uma outra janela, depois de acordada pelo zunir do vento que corria por entre as casas daquela rua antiga, prenunciando uma tempestade de verão. Reviu-se jovem e cheia de sonhos, sem a menor consciência do que a esperava pelas esquinas do tempo, dos longos caminhos que ainda haveria de percorrer até chegar aquele momento.

Naquela outra madrugada, lágrimas escorriam-lhe pelo rosto, lavando-lhe a alma daquela tristeza que lhe parecia sem fim e que, a luz do tempo, demonstrou ser nada mais, nada menos, do que uma tempestade num copo d’água... Ah, as doces paixões da adolescência!... Ah, a primeira paixão, quase sempre não correspondida, quase sempre inesquecível... A imagem dele ainda bailava em sua mente, congelada pelo tempo, numa linda figura de príncipe encantado... Seus olhos castanhos, seu sorriso límpido de quem anda de bem com a vida, sua voz, seus cabelos, seu porte... Vindos através dos anos, rodopiavam em torno dela, revestindo-a de saudade... Saudade dele, dela, da juventude que um dia habitara aquele corpo alquebrado e que ficara lá longe, dos sonhos que a acalentaram, de tudo o que o tempo reteve em seus caminhares...

Sentindo o frio da madrugada, deixou a janela, sentou-se na poltrona, encolhida, cobrindo as pernas com uma manta e, antes de abrir o livro que a esperava sobre a mesinha lateral, ainda ficou uns minutos cogitando sobre o quão bom era sentir tão doce saudade... Tão bom ter tais momentos guardados dentro de si, mostrando que a vida foi vivida com intensidade, com paixões, com sonhos, com esperanças, com amor... Lembranças que mostravam claramente que valera a pena cada passo percorrido nesse longo caminhar... Que razão tinha nosso Fernando Pessoa ao afirmar que “tudo vale a pena se...”