floquinhos

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Mais uma estrela que se apaga...

Tony Curtis encantava os olhos das meninas sonhadoras dos anos dourados

Ele povoava os sonhos de todas as meninas da época. Com seus olhos azuis, seu sorriso cativante, seus cabelos montados em topete, não havia adolescente que não o namorasse de longe, que não tivesse entre seus cadernos uma foto dele, que não deixasse tudo para ir ao cinema suspirar quando sua imagem enchia a tela de encantamento. Na parede de meu quarto de menina sonhadora havia prendido uma foto linda, quase igual a esta que ilustra este post e adormecia admirando seus lindos olhos azuis, garota tola que eu era... E porque os padrões de beleza masculina mudaram, ele hoje talvez nem encantasse, mas nos anos dourados ele realmente causava um rebuliço...
O tempo correu, décadas se passaram, e muito raramente ouvia-se falar do galã de outrora. Hoje deparo com a noticia de sua morte e não consigo espantar a tristeza, um certo pesar, pois é mais um retalho de minhas lembranças que se apaga, que se extingue... Pouco a pouco, são tantas as partidas, são tantas as ausências próximas, distantes, reais ou irreais... Tantas...
Tony Curtis, ídolo de minha adolescência, volta hoje a ser notícia porque partiu deste mundo, aos 85 bem vividos anos. A adolescente que um dia fui, lamenta saber de sua partida. A mulher madura que hoje sou, agradece a ele pelos lindos sonhos que despertou naquela menininha tímida que um dia foi.

Tony Curtis, em foto recente.

Pelos caminhos de minha cidade...


Pois é, meus amigos, quando fico muito tempo longe de minha cidade, volto numa corujice só, com olhos de primeira vez, encantada com pequenas coisas, com paisagens cotidianas e até sem graça. Mas é o jeito de matar saudades desta incompreendida Sampa que, como toda cidade, detém tantos e tão controversos sentimentos sobre ela. Há os que a amam, há os que a odeiam, há os que a invejam. Só não há quem a ignore. Uns amam com razão e com motivo, outros amam porque aqui nasceram, porque aqui é seu ninho. E são bem variados também os motivos de quem a odeia. Uns igualmente com razão, pela vida triste e miserável que aqui levam, outros porque não conseguem entende-la, e outros ainda, sem nem mesmo conhecê-la, apenas por ouvirem dizer, apenas por uma questão de antipatia pessoal, ou até mesmo por "bairrismo", esse bichinho que rói-rói até sem motivo ou sem razão. Exatamente como acontece com todas as grandes cidades do Brasil, do mundo.
Mas, seja como for, cheguei com saudades e resolvi dar uma voltinha por ela e levar comigo os amigos que queiram me acompanhar nesse passeio. Vamos lá...


Cidade de mil faces, com bairros típicos como o da Liberdade, que abriga a colônia japonesa, com suas lojas, restaurantes, vida cultural. Aqui o Tori, portal de entrada para o bairro.

Uma das ruas de comércio do bairro, cuja iluminação é feita com lanternas típicas, o que dá um ar diferente, muito bonito ao lugar.


E agora, uma passadinha pela Vila Madalena, bairro cultural, com seus estúdios, ateliés de arte, lojas e restaurantes... Tem nome mais bonitinho para uma rua do que "Purpurina"? Fica logo ali, bem pertinho aqui de casa.

Agora vamos para a região da Paulista. Vocês pensavam que Bombril era só nome de esponja de aço com mil e uma utilidades? Nada disso. É também cinema de arte, alías um dos preferidos de minha neta.

E já que falamos em Avenida Paulista, vamos encerrar este pequeno giro por Sampa com as cores do entardecer na mais elegante das avenidas. Obrigada pela companhia e fica já o convite para outros passeios pelos meus caminhos, pelos caminhos de minha cidade.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

As fases da vida...


Há dias em que você acorda criança, a alma brincando de roda, pulando amarelinha, sob um céu lindo e azul de Primavera... Há dias em que você acorda adolescente, só doces lembranças, imagens, sorrisos e olhares acalentando a alma e despertando saudades imensas... Há dias em que você acorda simplesmente mulher, alma cheia de desejos, projetos, sonhos... Há dias em que você acorda madura, serena, confiante no que lhe resta para caminhar. Mas há também dias em que você acorda vazia, só querendo que haja um canto onde você possa se enrodilhar, fechar os olhos, chorar.
São as fases que todas nós, mulheres, vivemos dentro de nós. Como apregoou Cecília Meireles, em um de seus lindos e doces poemas, "temos fases, como a lua..." Tantas e tão distintas fases... De alegria, de confiança, de medo, de paixão, de indiferença, de tristeza. Tantas são as nossas fases! É como se abrigássemos várias e tão diferentes mulheres dentro de nós, quando, na verdade, é a junção de todas essas fases que fazem de nós mulheres mais ou menos interessantes, mais ou menos aguerridas, mais ou menos preparadas para os embates da vida.
E como parece ser inevitável que passemos por elas, suponho que tudo o que possamos fazer seja simplesmente aprender a viver cada uma delas e de cada uma delas tirar sempre um ensinamento, um proveito que nos permita um melhor caminhar pela vida.
Vamos recordar as fases da sensível Cecília?

Lua Adversa (Cecília Meireles)

Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha

Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Lembrar... Esquecer...


"Lembrar é fácil para quem tem memória. Esquecer é difícil para quem tem coração."

(William Shakespeare)

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Um não se perder...


"Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca."

(Clarice Lispector)

domingo, 26 de setembro de 2010

E porque chove lá fora...


O dia amanheceu todo em cinza e parece querer desfazer-se em água, água que cai em forma de chuva densa, cadenciada, que dá ao corpo uma certa letargia, uma preguiça infinita, uma vontade de se deixar ficar... Que põe na alma um sentimento de nostalgia, de desencanto, uma certa tristeza... E neste momento caem tão bem os versos de Cecília...

Inscrição na Areia


O meu amor não tem
importância nenhuma.
Não tem o peso nem
de uma rosa de espuma!

Desfolha-se por quem?
Para quem se perfuma?

O meu amor não tem
importância nenhuma.

(Cecília Meireles)

sábado, 25 de setembro de 2010

Entre o poeta e o leitor...

Leitura (Arcangelo Lanelli - Desenho a carvão - 1945)

O SILÊNCIO

Convivência entre o poeta e o leitor, só no silêncio da leitura a sós. A sós, os dois. Isto é, livro e leitor. Este não quer saber de terceiros, não quer que interpretem, que cantem, que dancem um poema. O verdadeiro amador de poemas ama em silêncio...

(Mario Quintana)

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

E a vida tem que continuar...


Hoje foi uma daquelas manhãs em que a vontade era não sair da cama, do aconchego dos lençóis, do silêncio e da semi-obscuridade do quarto. Sem abrir os olhos, virei para o outro lado, puxei as cobertas por sobre a cabeça, numa tentativa de voltar a dormir, voltar a sonhar. Qual nada!... Sonho partido não volta... Mas tão bom foi o sonho! Claro que você estava lá! E as ruas que costumávamos percorrer de mãos dadas há tanto tempo atrás. E a sua presença ficou além do sonho, ficou em mim, como se bastasse estender a mão para tocar seu corpo... Tão forte impressão que quando dei conta de mim abraçava o vazio, envolvia sua ausência... Quando dei conta de mim, as lágrimas molhavam o travesseiro enquanto meu corpo se enrodilhava sobre si mesmo, como se buscasse proteção contra a tristeza de não te-lo mais comigo.
E foi exatamente na sua lembrança, na sua força, no seu amor, que busquei coragem para sair do torpor que insistia em tomar conta de mim e, já no chuveiro, água lavando o corpo, lágrimas lavando a alma, fui pouco a pouco me recompondo, voltando a mim e à minha realidade. Afinal, era isso que você esperava de mim, não era? Que estes problemas que vão surgindo no dia a dia e que às vezes parecem se avolumarem e ficarem quase fora de controle fossem olhados como obstáculos transponíveis? Não era?... Sabe, meu amor, eu pensei que tivesse aprendido essa lição, mas nem sempre tenho tanta confiança em mim mesma. Há momentos em que tudo o que eu queria era ter seu ombro para apoiar minha cabeça, suas mãos para segurar as minhas, sua calma para orientar meus passos, você... simplesmente você comigo.
Mas, é primavera, a estação da esperança, o sol lá fora tenta rasgar as nuvens, o bem-te-vi enche o ar com seu canto atrevido, e a vida tem que continuar...

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

As lindas estações do amor e da ternura...


É Primavera por aqui !...
E o dia amanheceu sorrindo, iluminado, azul, da cor da primavera. Estamos entrando na estação das flores e dos amores, da beleza e da alegria. O sol invade meu espaço, atravessando despudoradamente a vidraça, sem pedir licença, trazendo luz ao meu mundo interior. Minha alma canta a beleza do dia, a beleza da vida em seu esplendor.
E eu trago a cada um dos meu amigos, deste lado de baixo do Equador, uma flor e um voto de muita luz e muita cor em seus caminhos, nesta primavera...


E é outono lá para os lados de cima do Equador, onde as mudanças na paisagem acontecem muito rapidamente, trazendo consigo ternas cores, luz, beleza, deixando-a só harmonia para os olhos, para os sentidos. Outono, afinal, é a estação da elegância, do sonho, e também do amor, mas do amor ternura, companheiro, amigo, terno, duradouro. Do amor alma a alma, coração a coração. Do amor estar junto, caminhar de mãos dadas, lado a lado, numa cumplicidade só...
E eu trago a cada um dos meus amigos desse hemisfério, também, uma flor e um voto de muita luz em seus caminhos neste doce outono que por lá se instala hoje...

terça-feira, 21 de setembro de 2010

De volta pro meu aconchego...


Por exatos três meses estive em terras de Tio Sam, curtindo a companhia de minha filha, de meus netos. E comigo, através do Prosa, vocês viveram um pouco desses meses incríveis que por lá estive. Agora, de volta ao ninho, retomo minhas atividades no blog daqui do meu cantinho em Sampa, já anunciando uma próxima estada por lá, porque dificil seria perder um outono no Hemisfério Norte, passando por uma festa de Halloween, um jantar no Thanksgiving, a primeira neve a branquear o gramado. Mas dificil, dificil mesmo, seria recusar o pedido dos kids na hora em que me abraçavam na despedida... "Vovó, por favor, volta logo, vai... vem pro Halloween... Não vai ter graça sem você..." E a vovó se derrete toda e concorda em voltar logo, mesmo porque, preocupada com a saúde de minha filha, que vai se recuperando de um problema de coluna, de um terrivel crise de ciática e, como acontece com toda mãe, a prioridade fica toda para o bem estar da minha filhota.
Tinha alguns assuntos a serem resolvidos por aqui, alguns agendamentos de contas, essas coisas do cotidiano que nos envolvem e não podem ficar para depois, por isso voltei, mas em umas semanas, lá vou eu de novo...
Bom, lá ou cá, vamos estar sempre juntos, o Prosa vai estar sempre de portas e coração abertos para receber cada um de meus queridos amigos...

sábado, 18 de setembro de 2010

E agora, José?


Este poema de Drummond, creio, é dos mais conhecidos, se não na íntegra, pelo menos em partes e a pergunta"E agora, José?" fica no ar, fica na mente...

JOSÉ

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, - e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja do galope,
você marcha, José!
José, para onde?

(Carlos Drummond de Andrade)

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Para fechar a noite, poesia...


Lágrimas Ocultas

Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era q'rida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida.

E a minha triste boca dolorida
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!

Florbela Espanca

O sol que entra pela vidraça...

(Imagem Google)

O dia está lindo demais, azul, ensolarado, mas um friozinho chega com o vento que vem do mar. Dias assim fazem-me lembrar de meus verdes anos quando, livres e soltas, aproveitávamos os últimos dias de férias antes do reinicio das aulas, correndo, brincando nas ruas do velho bairro, pulando corda, jogando amarelinha, tempo das cantigas de roda.. Doces anos de minha infância, num tempo tão diferente deste em que vivemos. Tempos melhores? Piores? Quem sabe? Sei apenas que eram diferentes. Creio mesmo que ser feliz depende muito de cada um de nós, tenhamos lá a idade que for.
Minhas bonecas eram feitas de pano, tinham olhinhos de retróz (linha) e cabelo de fios de lã, toscamente feitas, mas eu as achava lindinhas demais. A bola que os meninos usavam para a "pelada" nas tardes do bairro era feita de meias velhas. Mas o jogo era acirrado, pra valer. Muitos de nós mal tinhamos um sapatinho para calçar nossos pés, mas isso não impedia que correcemos por todo o lado. Não existia ainda a vitrine de ilusões em forma de comerciais de TV para nos deixar tristes por não termos determinados (lindos) brinquedos.
E fico aqui comparando infâncias, a minhas, a de meus filhos, a de meus netos... Cada qual com suas diferenças, mas todas muito bem vividas, todas transformadas (hoje ou mais para a frente) em doce saudade. Saudade despertada em mim pelo sol que entra pela vidraça e vem aquecer meus pés que repousam sobre o tapete, descalços como no tempo em que corriam livres e soltos pelas velhas ruas do meu velho Bairro do Brás.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

As coisas mais leves...


No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas que o vento não conseguiu levar: um estribilho antigo, um carinho no momento preciso, o folhear de um livro de poemas, o cheiro que tinha um dia o próprio vento...

Mário Quintana

terça-feira, 14 de setembro de 2010

A doce poesia de Florbela...


Conto de fadas

Eu trago-te nas mãos o esquecimento
Das horas más que tens vivido, Amor!
E para as tuas chagas o ungüento
Com que sarei a minha própria dor.

Os meus gestos são ondas de Sorrento...
Trago no nome as letras duma flor...
Foi dos meus olhos garços que um pintor
Tirou a luz para pintar o vento...

Dou-te o que tenho: o astro que dormita,
O manto dos crepúsculos da tarde,
O sol que é de oiro, a onda que palpita.

Dou-te, comigo, o mundo que Deus fez!
Eu sou Aquela de quem tens saudade,
A princesa de conto: "Era uma vez..."

Florbela Espanca

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Um sábio conselho...


"Cuidado com as palavras pronunciadas em discussões e brigas, que revelem sentimentos e pensamentos que na realidade você não sente e não pensa... Pois minutos depois, quando a raiva passar, você delas não se lembrará mais... Porém, aquele a quem tais palavras foram dirigidas, jamais as esquecerá..."

(Charles Chaplin)

domingo, 12 de setembro de 2010

"A garden party", neste domingo de fim de verão...

Hoje o "Em Prosa e Verso", fugindo um pouco de sua linha, abre espaço para falar sobre uma festa.
Nossa querida amiga Ofrit e seu marido Avi, abriram os jardins de sua casa para receberem os amigos, em comemoração aos cinco aninhos que sua filha mais nova, Lotem, completou hoje. Uma festa muito animada onde a criançada pôde divertir-se a valer enquanto os pais, entre agradáveis conversas, puderam saborear pratos deliciosos da cozinha de Israel.

(clicar nas fotos para ampliar)


E, na hora do "Happy Birthday to you", a delícia de um bolo de sorvete que ...


para alegria da pequena Lotem, era todo cor-de-rosa.


Vejam o encanto espalhado no rosto da linda aniversariante...


Um grupo conversa na área...


enquanto outros se espalham pelo imenso gramado que circunda a casa.


Foram horas muito agradáveis, numa festa ao estilo americano, com toques da cultura judáica.

Agradecendo aos Loeb pela gentil acolhida, deixamos nosso beijo muito especial para Lotem, neste dia só dela. Parabêns, pequena princesa!

sábado, 11 de setembro de 2010

Numa praça, ao amanhecer...

(Foto: Blog "Guardador de Nuvens")

Um caminho pela vida

Caminhava como se amparasse nos ombros todo o peso do mundo... Mas era o peso do tempo, o peso da vida que arqueavam suas costas, essa mesma vida que branqueara seus cabelos, tornara frágil aquele homem que parecera nascido para lutar por um lugar ao sol, esse sol que brilhara tão pouco para ele.
De origem humilde, seu pai fora carroceiro e sua mãe findara sua vida no velho tanque da pequena casa da vila onde nascera, lavando roupas para fora. Júlio, apesar da pobreza em que vivia, crescera feliz nas brincadeira entre os meninos do bairro, Frequentara o Grupo Escolar, fizera sua primeira comunhão na Igreja Matriz, e sua maior alegria eram as matinês de domingo no Cine Ideal. Aos quatorze anos já trabalhava como entregador no armazém da esquina de sua casa, aos dezesseis passara a aprendiz de sapateiro, na sapataria de seu tio Mario, profissão que adotaria e levaria pela vida a fora, e que lhe proporcionaria o ganho para sustentar, embora modestamente, sua família.
Conhecera Maria, a que se tornaria sua esposa, numa quermesse da igreja de São Vito. Moça humilde, operária em uma tecelagem, e que, como ele, não tinha medo do trabalho,. Apaixonados, e como usava ser na época, namoraram, noivaram e só se casaram quando a casinha que os abrigaria estava mobiliada. Uma casa simples, que Maria cuidava com muito carinho. Os filhos foram nascendo, dois meninos e uma menina, e sempre foram a alegria e o orgulhos do casa. Cada um deles foi traçando seu próprio destino e aos poucos a casa que se enchera de risos com as crianças foi ficando novamente vazia na medida em que elas foram crescendo, casando, gerando seus próprios filhos. Alegria que voltava nos almoços de domingo, quando todos se reuniam..
Mas a vida levara-lhe um dia sua querida Maria e Julio sentiu então o peso da solidão, a dor de ser incompleto. O carinho dos filhos e netos não bastavam para arrefecer a saudade, a falta que sua companheira de tantas décadas fazia em sua vida. Acordava nas madrugadas sentindo a cama vazia, sentindo um frio na alma e quantas vezes, não conseguindo mais dormir, saia para a rua e ia sentar-se na pequena praça onde esperava o nascer do sol, como fizeram, Maria e ele, inúmeras vezes...
E os primeiros raios de sol iam encontrar aquele homem sentado no tosco banco sob a árvore da praça, olhos marejados de lágrimas, um meio sorriso abrindo-se no rosto triste e os lábios murmurando, como numa prece… “Bom dia, minha Maria, aonde quer que você esteja..."

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

MEUS POETAS DO CORAÇAO - Fernando Pessoa

Nesta madrugada insone, busco companhia entre meus poetas do coração e eis que Fernando Pessoa aceita meu convite e vem sentar-se na poltrona a um canto do quarto, a falar-me da vida e da intensidade de seus sentimentos... Ele fala através de seus versos e eu, embevecida, escuto, aprendo, absorvo, sonho...

Não sei quantas almas tenho


Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: "Fui eu?"
Deus sabe, porque o escreveu.

(Fernando Pessoa)

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Basta-me um pequeno gesto...


Timidez

Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...

- mas só esse eu não farei.

Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes...

- palavra que não direi.

Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,

- que amargamente inventei.

E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...

e um dia me acabarei.

(Cecília Meireles)

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Uma sobremesa para quatro...

Ontem foi feriado por aqui (Labor Day), mas como o comercio funciona ainda com maior força nos feriados, fomos a loja da Appel, no Burlington Mall, onde minha filha ia comprar uns acessórios para seu computador. E, nesse mesmo mall há um restaurante, diria melhor, uma confeitaria, bem parecida com as tradicionais confeitarias dos anos dourados, tocha cheia de charme, a “Cheesecake Factory”. Um lugar lindo, sofisticado, que além dos maravilhosos cheeesecakes, ainda servem massas e saladas de dar água na boca, só de pensar, onde almoçamos depois da compra feita na Apple. Philip e eu nos deliciamos com um espaguete a carbonara (devo dizer que os pratos são generosos, assim dividimos o nosso e ainda sobrou macarrão), Angélica optou por uma massa com camarões, coração de alcachofras e cogumelos, enquanto que o Alexander, por ser mais “enjoado” para comer, escolheu uma prosaica pizza de queijo. Gosto é gosto, ora... que se há de fazer. Mas se ele foi pouco exigente na hora do prato principal, esbanjou criatividade na hora da sobremesa. Enquanto o Philip pediu um chessecake de abacaxi, minha filha e eu ficamos no “expresso”, o pequeno Alexander escolheu no menu uma sobremesa especial de sorvete de baunilha entre dois discos de torta doce, rodeados por morangos caramelizados e com uma pequena montanha de chantilly por cima. A garçonete, vento o tamanho do kid que pedira aquela sobremesa ainda avisou que era um prato gigante, mas ele insistiu e lá veio ela com o que vocês podem ver na foto... Maravilhosa sobremesa, deliciosa, mas... servia, no mínimo, dois adultos. Doce de mais para uma criança, principalmente como o meu pequeno Alexander que parece ter o estomago de um passarinho, sempre tão enjoado para comer.
Resultado? Foi uma festa,... Rimos muito da carinha dele e, claro, tivemos que “fazer o enorme sacrifício” de ajuda-lo a devorar sua “pequena” sobremesa...


Vejam o tamanho da sobremesa...



,,, que acabou sendo compartilhada por todos nós...

A vovó acabou provando também o cheesecake do Philip... Tudo tão bom!...

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

A semana começa com Drummond


NÃO SE MATE

Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe
o que será.

Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
reserve-se todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão,
se é que virão.

O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você,
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas,
vitrolas,
santos que se persignam,
anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de quê,
pra quê.

Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém, ninguém sabe nem saberá.

(Carlos Drummons de Andrade)

sábado, 4 de setembro de 2010

Cenas do fim de mais um verão...

Apesar das intensas chuvas que cairam em boa parte da noite, o sábado amanheceu ensolarado, com um céu todo azul e uma aragem fresca que agita as folhas das árvores e traz um certo frescor a este dia que promete ser bem quente, bem típico de um restinho deste verão que parecia estar terminendo, mas voltou com força total.


O sol atravessa a copa das árvores do bosque, pondo um rendilhado sobre as pedras, sobre seus troncos, esparramando-se por sobre o solo que já acolhe as folhas caídas que anunciam a chegada do outono...



Mas o jardim continua florido, embora as folhas já andem perdendo seu verde brilhante, que cede lugar a tons menos vivos. Pouco a pouco o cenário vai mudando, umas cores vem substituido outras...


E as rosas, já esmaecidas, ainda alegram a vista, com sua beleza, e os sentidos, com seu perfume delicado.



E as crianças... Ah, as crianças aproveitam o último final de semana antes do reinício das aulas, "bicicletando" e brincando pelas tranquilas ruas da cidade. Afinal, terminam as férias de verão...

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

O amor antigo...

(Mas dizem que o amor perfeito é aquele que nunca se realiza...)

O AMOR ANTIGO

O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige, nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.

Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
o antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.

(Carlos Drummond de Andrade)

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Como um rio...


O RIO

Ser como o rio que deflui
Silencioso dentro da noite.
Não temer as trevas da noite.
Se há estrelas no céu, refleti-las
E se os céus se pejam de nuvens,
Como o rio as nuvens são água,
Refleti-las também sem mágoa
Nas profundidades tranqüilas.

(Manuel Bandeira)

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Lembro-me...


"Lembro-me do passado, não com melancolia ou saudade, mas com a sabedoria da maturidade que me faz projetar no presente aquilo que, sendo belo, não se perdeu."

(Lya Luft)