floquinhos

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Não tem jeito!... Mãe é chorona, mesmo...

O lindo sorriso de "minha menina"

A tarde vai se pondo sob um céu azul, com algumas nuvens douradas lá no horizonte e eu fico aqui, hoje, coração cheio de lembranças... Estava até bem poucos minutos conversando com minha filha através do Skype. Eu aqui no meu pequeno escritório e ela na sala de embarque do Aeroporto de Boston, enquanto aguardava a hora de seu voo para Paris e, após uma conexão, Tunísia!... Vai para um congresso de Astronomia/Astrofisica. Tão bonita, auto-suficiente, mulher forte, corajosa, vai vencendo seus medos e seus obstáculos, um a um. Quando de seu divórcio, há um ano, confesso que temi por ela. Mesmo conhecendo sua força, temi. Não foi fácil, mas passou, ela retomou sua vida, impulsionou sua carreira, em outra instituição, está feliz e os meninos estão muito bem.
Depois que desligamos o Skype, fiquei aqui, na sala que começa a ficar em penumbra, recordando os passos de minha menina, seus projetos, seus sonhos, sua trajetória. E, como toda e qualquer mãe, acabei derramando algumas lágrimas de emoção, de alegria, de saudade, já que minha filhotinha mora tão longe e só podemos estar juntas por dois ou três meses ao ano, quando vou para estar com ela e os kids. Mas, como toda e qualquer mãe, sinto-a feliz e fico feliz também, recompensada pela vida.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

A casca dourada e inútil das horas.


Seiscentos e sessenta e seis

A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas: dá tempo...
Quando se vê já é sexta feira...
Quando se vê, passaram sessenta anos!
Agora, é tarde para ser reprovado...
E se me dessem - um dia - uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio
seguia sempre em frente...
e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.

(Mario Quintana)

Num dia nublado... Vinícius.


Senhor, eu não sou digno

Para que cantarei nas montanhas sem eco
As minhas louvações?
A tristeza de não poder atingir o infinito
Embargará de lágrimas a minha voz.
Para que entoarei o salmo harmonioso
Se tenho na alma um de-profundis?
Minha voz jamais será clara como a voz das crianças
Minha voz tem a inflexão dos brados de martírio
Minha voz enrouqueceu no desespero...
Porque cantarei
Se em vez de belos cânticos serenos
A solidão escutará gemidos?
Antes ir. Ir pelas montanhas sem eco
Pelas montanhas sem caminho
Onde a voz fraca não irá.
Antes ir - e abafar as louvações no peito
Ir vazio de cantos pela vida
Ir pelas montanhas sem eco e sem caminho, pelo silêncio
Como o silêncio que caminha...

(Vinicius de Moraes)

quarta-feira, 28 de abril de 2010

A quatro mãos...


"A quatro mãos escrevemos o roteiro para o palco de meu tempo: o meu destino e eu.
Nem sempre estamos afinados, nem sempre nos levamos a sério."

(Lya Luft)

terça-feira, 27 de abril de 2010

Morre o teu sonho?...


Enquanto morrem as rosas

Morre a tarde. Erra no ar a divina fragrância.
Fora, a mortiça luz dos crepúsculos arde.
Nas árvores, no oceano e no azul da distância
Morre a tarde...

Morrem as rosas. Minhas pálpebras se molham
No pranto das desesperanças dolorosas.
Sobre a mesa, pétala a pétala, se esfolham,
Morrem as rosas...

Morre o teu sonho?... Neste instante o pensamento
Acabrunha o meu ser como um pesar medonho.
Ah, por que temo assim? Dize: neste momento
Morre o teu sonho?...

(Manuel Bandeira)

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Um texto impecável, que recomendo.


O Carlos Albuquerque, do excelente blog "Conversas Daqui e Dali". brinda hoje seu leitores com um texto impecável que gostaria de recomendar aos amigos e leitores deste meu espaço. Nele, e respondendo a um desafio do Carlos Barbosa de Oliveira, do também excelente "Crônicas do Rochedo", Carlos (o Albuquerque) canta seu amor por Luanda, a cidade onde nasceu e que o viu crescer, "A Cidade de Sua Vida", de uma maneira que nos encanta. Estou certa que vão gostar e que não conseguirão ficar indiferentes à magia vinda das terras de África.

Um nome que nos estremece...


Há um nome que nos estremece

Há um nome que nos estremece,
como quando se corta a flor
e a árvore se torce e padece.

Há um nome que alguém pronuncia
sem qualquer alegria ou dor,
e que, em nós, é dor e alegria.

Há um nome que brilha e que passa,
que nos corta em puro esplendor,
que nos deixa em cinza e desgraça.

Nele se acaba a nossa vida,
porque é o nome total do amor
em forma obscura e dolorida.

Há um nome levado no vento.
Palavra. Pequeno rumor
entre a eternidade e o momento.

(Cecília Meireles)

Segunda Feira, sol, alma preguiçosa...

(Entre a Av. Paulista e a Favela do Morumbi, o sol passeia generoso...)

Este é um daqueles dias em que a palavra não chega, a alma parece estar meio entorpecida, os dedos parecem ter dificuldades para deslizar por sobre o teclado, mal obedecem o comando... E, no entanto, o dia está lindo, todo azul, o sol esparramando-se por sobre a cidade sem pena nem dó, dourando tudo, desde os elegantes arranha-céus da Avenida Paulista aos barracos das favelas ou, melhor dizendo, das comunidades da cidade, passando pelas tradicionais mansões dos Jardins, tudo igualmente iluminado por essa luz que chega doce neste outono... Ah, pelo menos o sol é democrático e derrama seus raios em porções iguais por sobre ricos e pobres, belos e feios, alegres e tristes, santos ou demônios... Não faz diferença entre seus súditos (não chamam ao sol Astro-Rei?).
Mas a alma, mergulhada hoje na síndrome da segunda-feira, preguiçosa, pede um cantinho para estar, música para enlevo, paz para o momento... Pede Elvis. Aí o tem...

domingo, 25 de abril de 2010

E como Quintana passasse diante do espelho...


O Espelho

E como eu passasse por diante do espelho
Não vi meu quarto com as suas estantes
Nem este meu rosto
Onde escorre o tempo.

Vi primeiro uns retratos na parede:
Janelas onde olham avós hirsutos
E as vovozinhas de saia-balão
Como para-quedistas às avessas que subissem do fundo do tempo.

O relógio marcava a hora
Mas não dizia o dia. O Tempo,
Desconcertado,
Estava parado.

Sim, estava parado
Em cima do telhado...
Como um catavento que perdeu as asas!

(Mario Quintana)

sábado, 24 de abril de 2010

Meus Poetas do Coração - Manuel Bandeira

(Astor Piazzolla)

Foi lúdico, foi romântico, foi realista, foi cáustico, foi Poeta... Foi Manuel Bandeira.
Quando jovem, acometido por uma tuberculose, achou que seus dias chegavam ao fim e dessa amarga certeza nasceu um de seus mais marcantes poemas. Não dos mais belos, porém dos mais conhecidos: Pneumotórax. O médico estava redondamente enganado e Bandeira viveu mais de oitenta anos, numa trajetória de poesia e sentimentos que nos legou uma obra magnífica. Para os que ainda não leram, ai está...

Pneumotórax

Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e não foi.
Tosse, tosse, tosse.

Mandou chamar o médico:
- Diga trinta e três.
- Trinta e três... trinta e três... trinta e três...
- Respire.
................................................................................
- O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.


(Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho ( Recife, 19/04/1986 - Rio de Janeiro, 13/10/ 1968) - poeta, crítico literário e de arte, professor de literatura e tradutor)

Os caminhos do mundo


"Mesmo que a rota da minha vida me conduza a uma estrela, nem por isso fui dispensado de percorrer os caminhos do mundo."

(José Saramago)

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Como a flor guardada num livro...


"Eu te guardo no fundo da memória, como guardo num livro, aquela flor que marca a tua delicada história... "

(Guilherme de Almeida)

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Vocês gostam de fotos antigas?


Maria Antonieta, minha nora, que me conhece muito bem, sabe o quanto eu gosto de antiguidades, sabe do respeito que eu tenho pelas coisas do passado, e sabe o quanto me enlevam as fotos antigas.
Sempre que recebe algum e-mail referente a isso ela tem a gentileza de encaminha-lo para mim, como o fez ontem. Fotos lindas, engraçadas ou curiosas, fizeram-me rir, levaram-me pelo tempo até a minha adolescência com a foto do Tony Curtis, mexeram com meu coração com as de Marlon Brando e Elvis, evocaram tramas políticas com a da Marilyn ao lado do JFK, mas a do Sean Connery!!! My God!... Que fotinho mais comprometedora... Diria mesmo, suspeita!... rs... E pensar que uns tempos depois ele seria o primeiro, o mais charmoso e carismático James Bond do cinema, aquele machão incontestável, sedutor... U-la-la!... O que uma criatura não faz para alcançar a fama... rs...
Nem digo mais nada, apenas convido-os a olhar algumas das deliciosas fotos do e-mail. Ah, sim... E vejam que lindinhos os Beatles ainda adolescentes, tão comportadinhos, em nada fazendo antever a revolução que causariam no mundo...

(Clique na imagem para ampliar)

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Quantos labirintos tem meu coração?...


O som que preenche este cantinho, inunda minha alma:


“Quantos labirintos tem meu coração

Pra eu me perder

E te encontrar?...

Quantas avenidas tem o seu olhar,

Pra eu te seguir

e me guiar?

Meu coração me leva

perto demais do seu...”


Não é lindo? Perco-me nos versos dessa canção, na doce voz da Elba e vou me embrenhando pelos labirintos da alma, mergulhando nos sonhos, criando uma realidade irreal, dando asas à imaginação, caminhos ao coração...

Ah, a magia que a música desperta em mim!... Tivesse eu cem anos e a música faria de mim uma menina, no despertar da vida, nos primeiros passos do sonho...


Fecho meus olhos e sigo cantarolando, acompanhando a canção, pelos labirintos do sonho...

, , ,

"Seu coração nem sabe porque

O meu amor, é tão igual ao seu..."


terça-feira, 20 de abril de 2010

Um Noturno para uma noite de luar...

NOTURNO

Volto a cabeça para a montanha
e abandono os pés para o mar.
- Coitado de quem está sozinho
e inventa sonhos com que sonhar!

Minhas tranças descem pela casa abaixo,
entram nas paredes, vão te procurar.
Envolvem teu corpo, beijam-te os ouvidos.
- Querido, querido, devias voltar.

Meus braços caminham pelas ruas quietas;
caminhos de rios, fluidez de luar... -
levam minhas mãos por todo o teu corpo:
- Querido, querido, devias voltar.

Partem os meus olhos, parte a minha boca.
Na noite deserta, ninguém vê passar,
pedaço a pedaço, minha vida inteira,
nem na tua casa me escutam chegar,

Meu quarto vazio só pensa que durmo...

Coitado de quem está sozinho
e assiste o seu próprio sonhar!

(Cecília Meireles)

No Reino Encantado de Guilherme de Almeida... (1)


No velho parque

No velho parque dos fatais encantamentos
passam de leve, sob o luar,
dois vultos lentos.

E a lua, no ar
da noite diáfana, perpassa
cheia de céu, cheia de luz, cheia de graça...

E os vultos vão, cheios de graça, de mãos dadas,
cheios de luz, cheios de céu,
pelas estradas...

Vão como um véu,
flutuando quase. E a lua cheia
confunde a sombra dos dois vultos sobre a areia.

Um beija-flor... Um pensamento.

(O beija-flor visita meu terraço todas as manhãs. Uma adorável companhia para o meu café)

"Já que se há de escrever, que pelo menos não se esmaguem com palavras as entrelinhas."

(Clarice Lispector)

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Para começar a semana...


A Poesia de Manuel Bandeira...

Desencanto

Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

- Eu faço versos como quem morre.

(Manuel Bandeira / 1912)

sábado, 17 de abril de 2010

Caminho bem na minha solidão,,,


Confidência para ser gravada na lâmina da água

Caminho bem na minha soli∂ão,
porque sei de mim mesmo o que perdi.
Não tenho mais precisão de mentir,
Enfrento cara a cara o desamor
que mal me disfarcei. Não fui capaz
de ser o que sonhei, Fiquei aquém
das palavras ardentes que inventei
para que um dia triunfasse o amor,
Porque não dei com medo de perder,
o diamante mais puro no meu peito,
inutil de fulgor se consumiu.

(Thiago de Mello)

Lembro-me do passado...


"Lembro-me do passado, não com melancolia ou saudade, mas com a sabedoria da maturidade que me faz projetar no presente aquilo que, sendo belo, não se perdeu."

(Lya Luft)

sexta-feira, 16 de abril de 2010

O tempo dentro do espelho (4)


O tempo passa? Ai, quem me dera! O tempo
fica dentro de mim, testando fica
ou me queimando, mas sou eu quem canto
eu que me queimo, o tempo nada faz
sem mim que lhe permito a minha vida.
De mim depende, sou sua matéria,
esterco e flor do chão da minha mente,
o tempo é o meu pecado original.

(Thiago de Mello)

quinta-feira, 15 de abril de 2010

O que tenho para oferecer-te?


Canção na plenitude

Não tenho mais os olhos de menina nem corpo adolescente, e a pele translúcida há muito se manchou.
Há rugas onde havia sedas, sou uma estrutura agrandada pelos anos e o peso dos fardos bons ou ruins. (Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia.)
O que te posso dar é mais que tudo o que perdi: dou-te os meus ganhos. A maturidade que consegue rir
quando em outros tempos choraria, busca te agradar quando antigamente quereria apenas ser amada. Posso dar-te muito mais do que beleza e juventude agora: esses dourados anos me ensinaram a amar melhor, com mais paciência e não menos ardor, a entender-te se precisas, a aguardar-te quando vais, a dar-te regaço de amante e colo de amiga, e sobretudo força — que vem do aprendizado. Isso posso te dar: um mar antigo e confiável cujas marés — mesmo se fogem — retornam, cujas correntes ocultas não levam destroços mas o sonho interminável das sereias.

(Lya Luft)

O tempo dentro do espelho (3)


Para cumprir-se, o tempo necessita
de tudo o que já fiz e se aproveita
da moça adormecida na campina
perante a minha dor adolescente;
dos cabelos de minha mãe tão moça,
tão valente na proa da canoa;
da lágrima no olhar do meu amigo
me dizendo "que pena, eu vou morrer";
do meu primeiro filho perguntando
"para onde vai o mar quando é de noite?",
da tua mão na minha dentro da água;
do medo que eu senti na cordilheira,
dos cavalos correndo no vulcão
assustando as estátuas solitárias
com seus olhos de pedra me espreitando;
da pele do meu peito que murchou;
do espelho sempre intacto em que se esconde
o pretérito mais do que imperfeito
da minha vida.

O tempo é a minha sina
aderida a meu sonho além da aurora,
a frágua do meu cântico futuro.

(Thiago de Mello)