floquinhos

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

NUMA MANHA SEM INSPIRACAO


Sem inspiração, mas com muitos parênteses

Certamente já houve dias em que vocês acordaram assim, com a alma em branco, sem a menor idéia ou inspiração, não houve? Pois hoje estou assim. Acho que tantas festas, tanta neve, tanto azul mesclado ao cinza, tantos sentimentos (lembrando Fernando Pessoa) nesses últimos dias, ou semanas, acabaram com minha inspiração para os escritos que, normalmente, já não é grande coisa... rs.... Então fico eu a olhar o céu, as árvores, os telhados branquinhos de neve, neve... neve... e o branco da neve vai cobrindo meus pensamentos, minha vontade, que é de ficar na minha poltrona favorita (que está longe, lá em Sampa), um bom livro (hora de reler Cem anos de solidão), um chá quentinho sobre a mesinha ao lado, a lareira acesa, manta sobre os joelhos (que a idade não me permite mais facilidades quanto ao clima), um Adágio de Albinoni tocando ao fundo, docemente...
Mas volto a realidade da distancia do meu cantinho do coração, mesmo porque nestes quase nove meses passados por aqui, acabei construindo um outro, igualmente acolhedor, aonde posso ler, ouvir minhas musicas prediletas, viajar pelo mundo através do meu laptop, em trocas de e-mails e bate-papos com pessoas distantes e queridas. Só sinto falta dos meus livros, já que a biblioteca de minha filha (e a pública, aqui de Winchester) é maravilhosa, mas quase toda em inglês e eu nunca gostei muito de ler em outro idioma que não fosse o meu bom português, quando posso mergulhar livremente nos pensamentos do escritor, quando posso divagar pelas linhas e parágrafos sem o menor esforço (ou quase... rs...), deixando minha alma descobrir mundos e sentimentos, participar de ações e momentos, muito, mas muito raramente tendo que ir em busca de um dicionário, bem ao contrario do que acontece quando leio num outro idioma, do francês ao inglês, passando pelo espanhol, sempre um (ou uns) dicionário ao lado, para evitar mal entendidos contidos ou escondidos entre as linhas... Quer dizer, contidos ou escondidos para mim, que não sou nenhum luminar em matéria de idiomas... rs... Mas, de qualquer forma, mesmo com tais restrições, sempre consigo um bom momento, principalmente nas madrugadas em que o sono resolve não me visitar.
E no final, entre um cantinho e outro, lembro de um filme muito antigo, um dos grandes clássicos do cinema de Hollywood, “O mágico de Oz” quando Dorothy descobre que “There’s no place like home”, e eu completo com um outro dizer muito usado por aqui: “Home is where the heart is”... E como “my heart” anda pendendo entre cá e lá, chego a conclusão, muito feliz para mim, que acabei tendo dois lugares muito especiais aonde posso viver meus momentos, sonhar meus sonhos mais loucos, divagar em viagens pelo tempo e pelo espaço, bater longos papos com minha alma tresloucada, enfim ser eu mesma em toda minha louca plenitude... Posso pisar no mundo real ou viajar no mundo da lua aqui mesmo, neste meu pequeno mas acolhedor quarto da casa de minha filha, em Winchester, ou na minha casa, na minha sala, no meu terraço, lá em Sampa...
E, enquanto a vida assim mo permitir, vou seguindo meus caminhos, com amor e muita, mas muita divagação, que minha alma não deixa por menos...

Dulce Costa
Winchester, na manhã do segundo dia de 2009

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