floquinhos

domingo, 18 de janeiro de 2009

É NOITE... FAZ TANTO FRIO!...


Noite muito fria de sábado, cidade silenciosa, escura, ainda coberta de neve, nem uma alma passando em suas ruas... Aliás, raramente alguém passa a noite por estas ruas, pelo menos caminhando. Todos usam seus carros para tudo. No verão, durante o dia ainda se podem ver ruas movimentadas, todo mundo em busca de sol, da alegria da estação, mas agora é tempo de se estar recolhido, faz frio demais lá fora.
Diante da janela meus olhos acabam por perderem-se na semi-obscuridade dos gramados brancos pela neve e minha alma rebelde aproveita para mergulhar na noite, atravessando o tempo e o espaço, em busca de um sonho que já nem existe mais dentro de mim... Mas se o sonho inexiste, porque a teimosia da alma em busca-lo? Ah, deve ser pela força do hábito, penso... Travessa, ela adivinha meus pensamentos, conhece-me bem, e num meio sorriso insinua que sou uma tola, que não sei nem o que se passa dentro de mim... E tenta escapar novamente...
Recolho-a sob protesto, ela insiste em partir, eu a retenho, quero-a hoje em seu devido lugar, sem desassossegos, sem ânsias, sem rebeldias. Tento um dialogo sobre minha necessidade de me sentir serena, nesta noite em que uma certa tristeza anda rondando meu coração, vazio, solitário, inquieto... Zangada ela se encolhe no fundo de mim e se fecha para qualquer ponderação. Ela se sente carente, eu me sinto temerosa. Ela busca um sonho que foi lindo. Eu respeito o tempo que levou esse sonho.
Fecho as cortinas, apago a luz, enrodilho-me na poltrona, fecho meus olhos ao sentir lágrimas deslizando lentamente sobre meu rosto...
Faz muito frio lá fora... Há um frio cortante aqui dentro...


Dulce Costa
Winchester, 17 de janeiro de 2009

2 comentários:

Anônimo disse...

Que bem que escreve, Dulce!
Atrevo-me a dizer que, da forma como o faz, até a trsteza se torna bonita.

UBIRAJARA COSTA JR disse...

Obrigada, Lourdes.
Há uma música muito linda de Tom Jobim e Vinícius de Moraes que diz - "que o poeta só é grande, se sofrer" - imagino que com isso eles tenham querido dizer que quando se está triste, a alma aflora em toda a sua sensibilidade. É bem mais fácil descrever a dor do que a alegria. Como, em contrapartida, é muito mais fácil viver uma alegria do que uma dor...
Beijos