Aproveitando o friozinho gostoso desta tarde, pequei na estante um livro que ainda não tinha lido e fui aconchegar-me em meu sofá predileto, para um bom momento de leitura. Afinal era José Saramago, um dos escritores de meu coração... E com ele fui passeando por Portugal, esse lugar para mim encantado, berço de minha família e de muitos e queridos amigos. E, de cidade em cidade, de aldeia em aldeia, acabei por encontrar-me em Sacoias, terra de minha mãe, de onde ela falava sempre com muita saudade.
Confesso que a imagem aberta diante de mim por Saramago era bem diferente da que trazia em meu coração pelas histórias e fatos que minha mãe contava. Ela nunca me falou sobre uma aldeia triste, vazia... Ela contava histórias de uma menina que corria solta pelas ruas entre casas de pedra, que pastoreava ovelhas nos campos, de uma família que se reunia numa enorme cozinha, em volta do lume, nas noites de rigorosos invernos, e eu fantasiava aquela infância tão diferente da minha...
De qualquer forma, hoje meu post é dedicado a minha mãe, com muita saudade, saudade que doi mais por saber que já não a tenho ao pé de mim para podermos comparar as visões - a dela e a de Saramago.
Deixo abaixo um parágrafo do livro para quem tiver curiosidade. E uma foto econtrada no Google...
"... Logo a saída de bragança, alí adiante, está a escura e silenciosa aldeia de Sacoias. Entra-se nela como em outro mundo. Vista a disposição das primeiras casas, a curva que o caminho faz, dá vontade de parar e gritar: - Está alguém? Pode-se entrar? - O certo é que ainda hoje o viajante não sabe se Sacoias é habitada. A lembrança que guarda deste lugar é a de um ermo, ou, talvez mais exactamente, de uma ausência. E esta impressão não se desfaz mesmo quando lhe pode sobrepor uma outra imagem quando já vinha de regresso, de três mulheres dispostas de maneira teatral nos degraus de uma escada, ouvindo o que, inaudivelmente para o viajante, outra lhes dizia, enquanto suspendia a mão sobre um vaso de flores. Tão parecido isto é com um sonho que o viajante, afinal, chega a suspeitar que nunca esteve em Sacoias."
Confesso que a imagem aberta diante de mim por Saramago era bem diferente da que trazia em meu coração pelas histórias e fatos que minha mãe contava. Ela nunca me falou sobre uma aldeia triste, vazia... Ela contava histórias de uma menina que corria solta pelas ruas entre casas de pedra, que pastoreava ovelhas nos campos, de uma família que se reunia numa enorme cozinha, em volta do lume, nas noites de rigorosos invernos, e eu fantasiava aquela infância tão diferente da minha...
De qualquer forma, hoje meu post é dedicado a minha mãe, com muita saudade, saudade que doi mais por saber que já não a tenho ao pé de mim para podermos comparar as visões - a dela e a de Saramago.
Deixo abaixo um parágrafo do livro para quem tiver curiosidade. E uma foto econtrada no Google...
"... Logo a saída de bragança, alí adiante, está a escura e silenciosa aldeia de Sacoias. Entra-se nela como em outro mundo. Vista a disposição das primeiras casas, a curva que o caminho faz, dá vontade de parar e gritar: - Está alguém? Pode-se entrar? - O certo é que ainda hoje o viajante não sabe se Sacoias é habitada. A lembrança que guarda deste lugar é a de um ermo, ou, talvez mais exactamente, de uma ausência. E esta impressão não se desfaz mesmo quando lhe pode sobrepor uma outra imagem quando já vinha de regresso, de três mulheres dispostas de maneira teatral nos degraus de uma escada, ouvindo o que, inaudivelmente para o viajante, outra lhes dizia, enquanto suspendia a mão sobre um vaso de flores. Tão parecido isto é com um sonho que o viajante, afinal, chega a suspeitar que nunca esteve em Sacoias."
(José Saramago - Viagem a Portugal)
10 comentários:
Dulce:
Como você, tenho boas recordações de lugarejos portugueses tão encantadores. A divergência das visões entre o que lhe contaram e o relato de Saramago provavelmente tenha sido motivada pelo cansaço do viajante que por ali passou e que não saboreou suficientemente as histórias impressas nas fissuras dos muros de pedra.
bjos
Maria Teresa
Ou as lembranças de minha mãe carregavam a doçura dos tempos de criança...
Beijos
Dulce
Na minha modesta opinião, confie na sua mãe. Se aos olhos dela a aldeia era bonita, não é por Saramago ser Nobel da Literatura que deixa de o ser. Ele nem é arquitecto, nem paisagista.
Além disso,se todos gostássemos do mesmo, o Mundo seria tão monótono...
E já agora que diria um transmontano que entrasse na Azinhaga do Ribatejo e ficasse com a água do Tejo pelos joelhos? Será que ia gostar da terra de Saramago?
Não creio.
Beijinhos
Lourdes
Lourdes
Sem a menor dúvida, querida amiga, fico com as lembranças de minha mãe, pois são parte dela que ficaram em meu coração. Foi seu pequeno mundo até ela vir para o Brasil, aos 17 anos.
Beijos e obrigada.
O que foste lembrar minha amiga Dulce! Sabes, ainda hoje há crianças a correrem nas aldeias de Trás os Montes e outros recantos de Portugal. Eu as vi e são felizes como o quê!
beijos e um sorriso com luz!
Pitanga
Imagino a beleza de se ver crianças soltas, felizes, exatamente como minha mãe o fazia e gerações depois dela continuam fazendo nas aldeias de Reás-os-Montes...
Obrigada, Mila.
Beijos
Dulce,ontem tive tanta coisa para tratar que,apesar de ler,ñ comentei.
Hoje volto.
As típicas Aldeias portuguesas alimentaram o imaginário português,durante muito tempo.
Beijo.
isa.
Isa
Pelo menos lá em casa, em minha infância e juventude, nosso imaginário era alimentado pelas flores da Madeira e pelas ruas de Sacoias...
Beijos e bom dia.
Como o trabalho me obriga a viajar muito por Portugal, este livro do Saramago tem sido muitas vezes de grande utilidade.
Carlos
O livro é ótimo, gosto muito dele.
Posso perguntar-lhe se conhece Sacoias? Mera curiosidade... rs...
Beijo
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