floquinhos

terça-feira, 30 de março de 2010

Viajando pelo tempo...

Alguns dos leitores deste blog que, como eu, têm “um pouqinho” mais de cinqüenta anos (rs) talvez já tenham recebido um arquivo PPS, sobre os comerciais nos anos dourados denominado Teste de DNA (Data de Nascimento Antiga) - e, certamente, riram com saudades daqueles bons tempos, tão simples, singelos, até. Pois recebi, por e-mail, esse arquivo acompanhado por um texto, que me levou num lindo passeio pelo tempo e que gostaria de partilhar com vocês. - Se passei no teste? Claro que sim... Com louvor! rs... Vivi tudo isso e muito mais. E foi um privilégio. Mas, passemos ao texto:


(Jeca Tatu antes do Biotônnico e Coca Cola em seus primórdios... rs)


“Dentre os 45 casos listados (no PPS), eu vivenciei todos. Do Grapette, leite em vidro (Campinas era Leco e não Vigor), Pomada Minâncora (por sinal tenho uma latinha pela metade até hoje), anágua, Gillette Azul, caderneta de armazém, cera Parquetina (quem são os amigos da Etelvina? Cito Pox e Parquetina), Leite de Colônia, Biotônico Fontoura, até coisas que ainda subsistem como carrinhos de rolimã, queimada...

Cada produto destes (e tantos outros não presentes no anexo, como Pílulas de Vida do Dr. Ross, Xarope São João, Phimatosan, Rum Creosotado), deu sua contribuição ao conhecimento e à melhoria da sociedade da época. Eram mensagens simples, fortes, diretas, fáceis de entender e absorver, lastreadas em boa sonoridade e excelente poesia. Obviamente, à luz das evoluções havidas, hoje não se aceitam certas verdades apregoadas, porém na época era assim.

Vejamos, por exemplo, o Biotônico Fontoura, que se tornou um case de marketing. Cândido Fontoura era um farmacêutico de Bragança Paulista e, como todo bom farmacêutico da época, fazia lá suas alquimias. Assim, preparou uma mistura à base de álcool, ervas e sais de ferro para tratar de sua mulher que, anêmica, não tinha apetite. Outras pessoas souberam e foram pedir o mesmo elixir. Vista a aceitação, bastaria divulgar. Quem poderia fazer isso? Seu amigo José Bento de Monteiro Lobato, de Taubaté...

Como o amarelão era a doença predominante, as pessoas andavam descalças e as necessidades eram feitas onde se estivesse no momento, Candinho logo percebeu que educar trabalhadores e homens da roça no uso de botinas era a melhor arma contra a verminose, acoplada ao seu elixir contra anemia. Estava ali o quadro com o qual um criador de propaganda sempre sonha. E Monteiro Lobato foi fulminante: criou desenhos dos animais caseiros todos usando botas: galo, peru, porco... Anúncios nos principais meios da época, sem se esquecer dos almanaques.

Se não bastasse essa contribuição aos usos & costumes, mais tarde a indústria fundada por Cândido Fontoura associou-se à Wyeth e viria a ser a primeira fábrica de penicilina da América do Sul (Via Anchieta, SBC, que tive o privilégio de conhecer), cuja inauguração contou com a presença do próprio descobridor, Sir A. Fleming.

Na minha mente ainda ecoam os versos musicados do anúncio: b–a BA, b–e BE, b–i BI, O TÔNICO FONTOURA!

Enquanto o rádio era a mídia mais forte, haviam outras de grande respeito também, entre elas os painéis dos bondes. Enquadravam-se como nacionais e produtos anunciados em São Paulo & Rio eram concomitantemente anunciados em Campinas, Santos e outras cidades. Se fosse selecionar o texto mais conhecido e atrevido, diria o do Rhum Creosotado, da autoria de Manuel Bastos Tigre, poeta e publicitário pernambucano, considerado também por suas sacadas humorísticas:


Veja, ilustre passageiro
O belo tipo faceiro
Que o senhor tem ao seu lado.
E no entanto, acredite.
Quase morreu de bronquite
Salvou-o o Rhum Creosotado.

Nos anos 50, esses versos habitavam todos os bondes. Sentado em qualquer banco, tinha-se de ler esse reclame afixado na parte interna superior, geralmente ao lado do marcador do número de passageiros. Cada vez que alguém pagava, o cobrador acionava a maquineta que fazia um tlim-tlim. Querendo ou não, o olhar sempre se erguia e novamente a poesia era lida... Consta que Bastos Tigre foi também criador do slogan “Se é Bayer, é bom...”

Este tema daria para gastar todo o tempo que se queira...”

(Clóvis Gouvêa)

Obrigada, Clóvis.

12 comentários:

ney disse...

Bela viagem. Saudades desses bons tempos. Que venham outros, serão bem-vindos. Abraço/ney.

UBIRAJARA COSTA JR disse...

Ney

Foi mesmo, uma linda viagem, uma volta no tempo.
Obrigada, Ney e uma boa noite para você.

Vitor Chuva disse...

Olá Dulce!

Viajar ao passado percorrendo os muitos anúncios que foram sendo criados ao longo do tempo - alguns extremamente reveladores da sociedade a que então se destinavam - é uma outra forma de aprender a história dum país; e talvez mais apelativa do que a que encontramos no "pesado" livro de história ...

Beijinhos; boa semana.
Vitor

Unknown disse...

Querida Dulce,
uma linda viagem que deixa um sorriso na alma!

Beijinhos,
Ana Martins

UBIRAJARA COSTA JR disse...

Vitor

E, sem dúvida alguma, uma forma bem agradável de estudá-la, não acha?
Beijos e obrigada

UBIRAJARA COSTA JR disse...

Ana

Verdade, amigal, a alma fica mesmo sorrindo.
Beijos e boa noite

Pitanga Doce disse...

Dulce, sem querer parecer "teen" que não sou, lembro de alguns produtos vagamente. Lembro da minha mãe usando Minâncora e da Gillette Azul do meu pai. O Leite de Colônia existe até hoje e o Biotônico também.
Sabes, não me lembro muito da minha infância porque não foi das melhores e procuro esquecer.

Gostei da aula. Não sabia que Monteiro Lobato foi o Whashington Oliveto da época. hehe

UBIRAJARA COSTA JR disse...

Bom dia, Pitanga

Mas você é mesmo bem mais nova, Mila. Certamente só lembra do que é menos antigo, mas deve lembrar do leite vendido em litros, do Crush e do Grapette, e dos bondes, não? Talvez no Rio não houvesse o famoso "anúncio" do Rhum Creosotado nos bondes. Havia? Cá em Sampa, não havia bonde sem ele... hehehehe... Bons tempos!...
Beijos

Dora Regina disse...

Dulce, foi uma retrospectiva no assunto comerciais, conheci todos!
Lembro perfeitamente que ia para escola de Bonde e dentro no seu interior tinha essas propagandas, mas usávamos em casa também, tomei muita Emulsão Scoth(horrível,aff!!!)
Obrigada pela partilha!
Um abraço!

UBIRAJARA COSTA JR disse...

Dora Regina, bom dia

Ah, tem razão quanto à Emulsão de Scott... rs...
Bom viajar no tempo, não? Ainda mais sendo de bonde... rs,,,
Obrigada, beijos e Feliz Páscoa.

Pitanga Doce disse...

Dulce, lembro do Crush e do Grapette. Esses duraram bastante. Do rhum , lembro não. Se havia no bonde eu devia ser pequena e não reparava. Ah e eu enjoava no bonde, pode? hehe

beijos Dulce e hoje tô em festa. Chega o meu rapaz.

UBIRAJARA COSTA JR disse...

Pitanga

Mas de qualquer forma, estes ou outros anúncios, sempre os temos atrelados a alguma lembrança.
Ah, eu adorava andar de bonde... E meus filhos também, ainda chegaram a andar de bonde e cada viagem neles era uma festa para a criançada... rs.

Que bom, menina, que o rapaz está em casa... Que tenham uma linda semana juntos e que Páscoa seja muito feliz.

Beijos e boa noite