floquinhos

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

O OUTONO NO LAGO, NA VIDA...


A tarde estava fria, apesar do céu azul, sem uma única nuvem e do sol que se infiltrava por entre os galhos desfolhados das árvores, formando um cenário típico de fim de outono. As águas do lago estavam serenas e refletiam, como num espelho, a vegetação, o azul do céu.
Ela fizera o caminho da casa ao lago absorta em seus pensamentos, e só agora se dava conta da beleza do momento. Sentou-se num dos bancos do mirante e deixou-se ficar ali, tocada pela serenidade do local, tão distraída que nem percebeu a chegada dele. Um pouco sobressaltada respondeu ao cumprimento e assentiu com um leve movimento de cabeça ao pedido de licença dele para sentar-se ao seu lado. Seu nome era John e morava numa das casas ali do outro lado do lago. Vira-a outras vezes em suas caminhadas... e assim foi entabulando uma conversa agradável. A casa tinha ficado grande demais para ele apos a morte da esposa, já tinha pensado em se mudar para um apartamento, talvez em Boston, mas gostava tanto de lá que fora protelando a decisão. Apos a aposentadoria passara a escrever, costumava ousar fingir-se pintor, sempre havia um evento, uma exposição, um espetáculo para ir. Tentava manter-se ocupado, desfrutava do tempo que lhe restava com atividades que lhe dessem prazer, achava que o espírito tinha direito ao belo... e a conversa foi se estendendo, falaram dos filhos, dos amores que haviam partido, dos netos, da alma, da vida...
Quando se deram conta, a tarde caia e o anoitecer era rápido demais naquela época do ano. Percebendo que ela estava insegura em caminhar pelo bosque ao escurecer e querendo protelar um pouco mais a conversa, ele se ofereceu para acompanha-la até a casa. Foram caminhado lado a lado, apressando um pouco o passo para aproveitar o resto de claridade e, quando finalmente chegaram já era praticamente noite. Desculpando-se por te-la retido numa conversa sem fim, ao se despedirem, ele segurou docemente a mão dela entre as suas, causando em ambos uma sensação de conforto, de ternura.. Olhos nos olhos, sorrisos nos lábios, pressentiam que a solidão poderia ser menor dali para a frente...
Ao entrar em casa, fechando a porta atrás de si, ela sentia seu coração leve como há muitos anos não ousava ser. Ah, insano coração, ah, endoidecida alma... E cantarolando, dirigiu-se para a cozinha, pois era hora de preparar o jantar...

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