Um lindo poema de THIAGO DE MELLO, um dos poetas de meu coração
Como nasce um vôo de pássaro
súbito e simples
(ninguém – talvez nem o próprio pássaro
- sabe jamais em que instante vai se erguer),
nascem também as pontes do coração
entre as criaturas humanas.
Nem sabem que vão nascer.
Pontes que são como os vôos
dos grandes pássaros belos,
são como os vôos das águias,
que certeiras e alto voam,
Perenes de sortilégios,
São como o vôo sereno
do condor pastando alturas
Também são como o dos suaves passarinhos,
em peleja pelo pão de cada dia;
vôo alegre e cristalino das asas amanhecendo,
Antes de tudo essas pontes
são como os vôos que chegam.
Chegam sempre.
Ainda que algumas se façam tardas,
jamais se fazem retardatárias,
Não sofrem de tempo as coisas
nascidas do coração.
Nascem as pontes e se alçam,
Certeiras de seus destinos
Como as águias de seus rumos
- e se vão, levando alvuras,
aconchegos, mansidões:
pontes de amor sobre um mundo
já quase alheio a milagres,
como um vôo de alvas asas
contra o azul já anoitecendo.
Por mais que muitos desabem
(acaso por desamadas),
embora tantas se calem
(talvez porque recusadas)
mesmo que muitas se percam
depois de perdido o pouso,
- nenhuma ponte de amor
se estende jamais em vão.
Pois algo sempre perdura
de tudo a que ela deu rumo:
seja um resto de recado,
um fragmento de canção
leve lembrança de alvura,
ou sejas apenas a sombra
de uma ternura. Pois algo
das pontes – feitas de infância
e de amor – sempre perdura.
Como contra o sol, o vôo
de um pássaro cuja sombra
se projeta e vai cavando,
bem de suave, um rastro eterno,
no manso verde do mar.
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