Quando menina, num modo de vida muito mais tranquilo que o de hoje, as crianças costumavam brincar nas ruas, em frente as suas casas, num alarido, numa alegria bem própria delas. Brincadeiras de roda, pular amarelinha, esconde-esconde, pular corda, toda uma gama de brincadeiras que nos consumia o tempo livre, o tempo que parecia não passar. Mas estivéssemos onde estivéssemos, por mais entretidos que fosse nas brincadeiras, quando surgia lá na esquina da Rua Piratininga a figura alta e forte do Padre Jesuíno, parávamos tudo para correr a tomar-lhe a benção e a pedir-lhe um santinho. O Padre Jesuíno era o Pároco da Igreja Matriz do Brás, e era temido pela meninada, principalmente quando iam ao confessionário, já que ele sempre aplicava penitências mais severas, ainda que fossem pequeninos os pecados. Quando entrei na adolescência, já não mais correndo a pedir santinhos ao padre, já tomando-lhe a benção com mais respeito do que medo, afinal ele era um lider espiritual, e lideres espirituais não devem impingir medo e sim respeito, tinha já em meu missário tantos santinhos que nem lhe cabiam, obrigando-me a guardá-los numa latinha decorada, entre os pequenos tesouros de minha infância. E foi o mesmo Padre Jesuíno a quem escolhi para celebrar meu casamento, alguns anos depois.
E porque essa lembrança agora? Porque, folheando "Boitempo", as reminiscências de infância de Drummond, deparei-me com uns versos que fizeram-me voltar a infância, versos que deixo aqui para vocês porque sei que alguns amigos vão também viajar no tempo com eles...
E porque essa lembrança agora? Porque, folheando "Boitempo", as reminiscências de infância de Drummond, deparei-me com uns versos que fizeram-me voltar a infância, versos que deixo aqui para vocês porque sei que alguns amigos vão também viajar no tempo com eles...
O PADRE PASSA NA RUA
Beijo a mão do Padre
a mão de Deus
a mão do céu
beijo a mão do medo
de ir para o inferno
o perdão
de meus pecados passados e futuros
a garantia de salvação
quando o padre passa na rua
e meu destino passa com ele
negro
sinistro
irretratável
se eu não beijar a sua mão.
(Carlos Drummond de Andrade)
14 comentários:
Hoje, são raras as crianças que pedem a benção ao Padre.
Carlos
Pois é, meu amigo... outros tempos, outros costumes. E, convenhamos. os padres andam lá tão confiáveis? Outroa pareciam viver em pedestais
Sabes Dulce, tenho lembranças diferentes dos padres da minha infãncia. Eram todos mau humorados e davam medo. E para mim que era e sempre fui pequena,eles me pareciam enormes com aquela batinas pretas. Ainda bem que mudaram. O Padre Marcelo é pioneiro.
beijos Dulce em segunda de Sol lá fora.
Pitanga Doce
É verdade, mudaram sim. Pelo menos parecem mais proximos de seus paroquianos, como o Padre Marcelo, e vários outros padres que chegam através da música e tentam inserir mudanças. A igreja católica, por aqui, andou perdendo terreno para as evangélicas, então é preciso que aconteçam algumas mudanças que reaproximem os fiéis de suas igrejas.
Por aqui dia azul, com aragem bem fresquinha, quase chegando ao friozinho. Outono ensolarado.
Beijos e boa tarde, Mila.
PS - estive la na árvore, adorei seu post de hoje, tendei deixar comentário, mas o Blogger não deixou (rs) Logo mais eu tento de novo. Mas minha amiga estava inspiradíssima!...
Dulce,
Excelente semana,com boas energias sempre!
Mari
Mari Amorim
Muuito obrigada e uma ótima semana para você também.
Hoje são poucas as crianças que pedem a bênção ao Padre.
Recordo isso e a paz que sentia.
Beijoo.
isa.
Isa
Já s∫ao outros os costumes, não é, minha amiga?
Beijos e uma boa noite para você.
Dulce
Eu fui uma das que viajou até aos tempos de infância, quando ia à aldeia. Juntamente com as minhas primas e amigas íamos esperar a chegada do padre que, a troco de um beijo na mão, nos dava os santinhos que nós coleccionávamos e colocávamos também no Missal. Hoje em dia, as crianças são absorvidas por outros interesses e, muitos deles acham ridículas as nossas atitudes de outrora.
Mas são doces recordações de tempos em que dávamos valor às mais simples coisas, porque não havia nem a oferta nem as possibilidades de hoje.
Beijinhos
Lourdes
Outros tempos minha amiga Dulce, agora o Padre passa e já ninguem lhe pede a benção!
Muito obrigada pelo apoio no concurso, se venci devo-o a todos os que estiveram comigo.
Beijinhos,
Ana Martins
Lourdes
Tempos bem mais amenos, tempo em que as crianças ainda não se viam cercadas de tantas e tão diferentes atraçoes. Acho até que dá para entender porque elas não acham a menor graça nas histórias que lhes contamos hoje...
Mas são tão caras essas nossas lembranças, não?...
Beijos
Ana Martins
Pois é, Ana. Aqui em São Paulo o padre passa como que perdido na multidão, sem que lhe notem a presença, ainda mais que a batina não o veste quando vai a rua...
Fiquei muito feliz com seu prêmio, muito merecido. Mais uma vez, parabéns.
Beijos
Muy interesante esta historia. siempre es un gusto leerte..
Un abrazo
Saludos fraternos...
Adolfo Payés
Bom dia, meu ammigo e muito obrigada por estar sempre aqui no Prosa, muito obrigada por seus comentários sempre tão amáveis.
Beijos
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