floquinhos

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Neste dia dedicado aos mestres...

Vejam o tamanho dos laçarotes que nos faziam usar na cabeça (rs)

Hoje, aqui no Brasil, comemora-se o dia do professor. Um dia de homenagens aos mestres, aos que são responsáveis peloa formação educacional de todos nós, dos primeiros anos escolares à universidade. Não questiono aqui méritos ou deméritos do ensino atual, valores, ou seja lá o que for. Apenas lembro que são pessoas dedicadas, que merecem nosso respeito e nossa gratidão, para sempre. Sinto saudades, até hoje, de algumas de minhas professoras. Presto aqui minha homenagem não so a elas, mas a todos os(as) professores(as) neste dia especial, em forma de crônica.


Lembrando minhas professoras

Final de inverno, o sol brilha radioso por entre os prédios, dando á tarde que começa a cair um nostálgico tom de primavera e o som das crianças que deixam a escola após mais um dia de aulas enche o ar de alegria e musicalidade... Como pássaros que tivessem ficado retidos em gaiolas, ganham a rua como se ganhassem a liberdade dos ares sem fim, rindo, falando, gesticulando, algumas até se despicando, e vão passando por sob minha janela trazendo a meu coração lembranças de tardes iguais a estas onde, como elas, despreocupada, trazia em mim tantas esperanças no porvir...
Vejo as crianças de hoje com tantos afazeres, tantas opções de lazer, tantas escolhas, que não posso deixar de comparar os caminhos que se abrem diante de meus netos com o que tinha aberto diante de mim. Meu caminho não tinha atalhos nem muitas saídas. Crescendo num bairro operário, povoado por imigrantes que, devido às dificuldades da vida, nunca tiveram tempo nem chance para estudos, às crianças do Brás não era exigido mais do que uma nota mediana que as fizessem passar de ano; não tinham o privilégio de crescer entre livros nem de ouvir histórias da humanidade; Os pais mais “cultos” tinham por hábito a leitura de jornais (na maioria das vezes, esportivos), e assim, os pequenos sequer sabiam que com um pouco de esforço poderiam, talvez, chegar a estudar um outro idioma ou mesmo ter acesso a bibliotecas, exposições, museus, dando às suas almas o alimento indispensável para uma compreensão maior e melhor da vida.
Nossos horizontes eram tão limitados que o sonho maior de uma garotinha, quando o tivesse, era o de ser professora, porque sua professorinha era a pessoa mais importante que ela conhecia, não por ser quem lhe ensinasse as primeiras letras ou a tabuada, mas porque ninguém, aos olhos da criança que a comparava com as pessoas que a cercavam, sequer chegava aos pés daquela abnegada mulher que dedicava sua vida á formação dos pequenos seres que lhe eram confiados. Ser professora, naqueles tempos, era um privilégio, embora sua vida não fosse nada fácil, porque o salário era pequeno, o que a obrigava a viver modestamente, mas sempre com muita dignidade. Por isso, eram olhadas com admiração e respeito. Certamente ainda encontramos, nos dias de hoje, muitas e muitas professoras com o mesmo senso de responsabilidade, com o mesmo ideal de vida daquelas maravilhosas mulheres que ajudaram a formar caráter e a moldar o destino de várias gerações.
Tenho especial carinho por minha primeira professora, Dona Adelaide, uma senhorinha delicada que usava de muita autoridade e firmeza no trato com os alunos, sem perder a doçura da voz. Através das brumas do tempo, posso vê-la ainda, cabelos grisalhos, arrumados num coque preso à nuca, óculos que não conseguiam esconder a vivacidade de seus olhos e, não sei se realmente usava sempre roupas escuras mas é assim que me lembro dela, num vestido de seda azul marinho com florinhas brancas estampadas, mangas compridas, gola arredondada, presa por um camafeu. Mas o que me intrigava muito era o fato dela colocar outro par de óculos sobre os que sempre usava, para poder ler de perto. Aquilo para mim era surpreendente e a característica principal dela, pelo menos naquela época. Tive algumas outras professoras que também ficaram carinhosamente guardadas em minha memória, como Dona Mocinha, Dona Odete, que como Dona Adelaide eram também mestras do Grupo Escolar Romão Puiggari no final dos anos 40, início da década de 50. Depois fui para a Escola Industrial Carlos de Campos onde, além das matérias regulares, tínhamos também formação profissional e onde tive também professoras que marcaram minha vida, como as duas professoras responsáveis pelo curso de flores, e que eram o total oposto uma da outra. Enquanto uma era delicada, gentil, de fala mansa e olhar tranqüilo, a outra era extrovertida, bem falante, e parecia trazer um vulcão dentro do olhar.
Claro que temperamentos tão diversos, só poderiam gerar conflitos que quase sempre eram diluídos mercê a mansidão de alma da primeira. Mas um dia, as coisas chegaram a um ponto sem volta e explodiu uma guerra de palavras trocadas entre lágrimas e sussurros de uma e gritos e gestos de outra que, não se conformando com as lágrimas que rolavam pelo rosto da opositora, que aos olhos das alunas poderia fazer dela uma vítima, saiu da classe vociferando:
- Lágrimas de crocodilo!... Agora se faz de vítima e derrama lágrimas de crocodilo!... Crocodilo? Não, crocodilo é muito pra você...
E buscando lá no fundo da alma suas raízes espanholas, encheu o peito e, mãos na cintura, bradou em alto e bom tom antes de virar as costas e sair desabaladamente em direção à porta da oficina de aula:
- Lagartija!... Lagartija!... Eres una lagartija...

Minhas queridas mestras! Saudades imensas de todas essas mulheres a quem devo grande parte de minha formação e que trago presentes em minhas lembranças... Como gostaria de poder abraçar cada uma delas e agradecer pela parte de meu caminho que lhes coube e que elas tão bem souberam aplainar para que meus passos fossem mais seguros em direção ao dia de hoje!...

Dulce Costa
SP/setembro de 2001

16 comentários:

Agulheta disse...

Querida amiga.Os tempos mudam e alguns comportamentos igual,a educação sai de casa dentro da sacola,assim eu foi ensinada,tenho saudades de alguns professores,em partilha com os pais,era diferente de hoje,sei que não respeitam os mesmos,e sei que bons profissionais os há em todos os lugares,como tal o meu respeito para os que se empenham,numa educação para a vida dos futuros homems, e mulheres do amanhã.Eu usei laços nas tranças loiras que tinha,mas eram bem mais pequeninos.
Beijinho e bom fim de semana,até segunda vou sair.

Anônimo disse...

Lindo!
Beijo.
isa.

UBIRAJARA COSTA JR disse...

Lisa

Sinto muita pena quando ouço histórias de desrespeito aos professores e espero que essa situação se reverta, para o bem mesmo dos estudantes que precisam aprender que quem quer respeito deve respeitar os outros.
Obrigada e tenha um lindo final de semana.
Beijos

UBIRAJARA COSTA JR disse...

Isa

Muito obrigada, querida amiga.
beijinhos

FOTOS-SUSY disse...

OLA DULCE, BELISSIMO TEXTO...PARABENS AMIGA...VOTOS DE UMA EXCELENTE TARDE!!!
BEIJOS DE CARINHO,


SUSY

Thusnelda disse...

I do not understand your language rather But :Thanks for the regards from Brazil, it is exciting. Lots of fun pictures. Good wishes for you.

UBIRAJARA COSTA JR disse...

Susy

Obrigada. Você sempre traz uma palavra amiga, gentil.
Ótima tarde para você também.
Beijos

UBIRAJARA COSTA JR disse...

Thusnelda

You are welcome.
Good wishes for you too.
Thanks a lot.

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Minha querida amiga Dulce,

Vim tarde mas vim...
Este é um tema que me diz muito...como aluna tenho as melhores recordações do meu tempo escolar, dos amigos, dos professores, expecialmente da minha mais querida professora, a Prof. Maria Adriana, mas de tanta coisa boa.
Foi o tempo mais feliz da minha vida.

Tem agora a parte menos bonita, a de quando fui professora, mesmo em Escolas Públicas. Foi tão má que durou tão somente um ano lectivo...
As crianças estão dificissílimas, para não dizer insuportáveis e não há legislação que proteja o professor.
Quantos colegas meus foram agredidos fisicamente pelos alunos e pelos pais.
Uma coisa que não dá para entender.

Bem, mas o tema não é esse. Desculpe se me excedi.

Beijos doces,

UBIRAJARA COSTA JR disse...

Fernanda

Absolutamente, Ná. Não excedeu, de forma alguma. Por aqui as coisas são iguais, principalmente nas escolas públicas que em meu tempo de menina e jovem, eras as melhores, as mais conceituadas e são hoje descreditadas. Vejo essa mudança com muita tristeza pelo carinho que tenho pelas mestras e pelo que se pode antecipar de um mundo formado por pessoas que não se respeitam. Sim, porque essas crianças estão crescendo sem o respeito por quem quer que seja.
É lamentavel, principalmente para os alunos de boa índole e respeitadores, que ficam perdidos nesse contexto. E olhe que são muitos... Uma pena.
Beijos e obrigada.

heli disse...

Dulce.
Bela homenagem aos professores.
Hoje foi um dia festivo na minha escola.Tive uma tarde muito agradável, com homenagem feita pelos alunos e pela direção da escola.Nessa confraternização, estivemos refletindo sobre o nosso papel na sociedade e quanto é importante desempenhar um trabalho com qualidade.
Abraços curitibanos...
heli

Lourdes disse...

Olá Dulce
Linda crónica que me tocou de forma especial, fazendo-me sentir um pouco de saudades dos meus antigos alunos.
Bom dia para todos os professores.
Obrigada e um beijinho

UBIRAJARA COSTA JR disse...

Heli,

Sem dúvida nenhuma, minha amiga. É isso que faz a diferença e é ai que está parte do caminho.
Beijos

UBIRAJARA COSTA JR disse...

Lourdes

É um carinho e uma homenagem a todos os professores d'aquem e d'alem mar.
Beijos

Anônimo disse...

Sabe que reflicto muitas vezes sobre a condição da criança de ontem e de hoje, Dulce? E sabe que não trocava a vida de criança que fui, pela vida das crianças de hoje, sempre metidas na escola á espera que alguém as vá buscar?
A sua homenagem aos professores é de uma enorme sensibilidade e poderia abranger alguns dos profesores que tive.
Na China, onde vivi alguns anos, o professor é respeitado toda a vida pelos seus alunos, porque a sociedade chinesa, apesar das suas contardições, tem um enorme respeito pelos mais velhos e pelos profesores primários que ensinam a ler e escrever. Sempre achei isso muito bonito.

UBIRAJARA COSTA JR disse...

Carlos

Também não trocaria a minha. Tenho deixado aqui em vários posts, retalhos de minha infância que falariam por si só de tempos mais tranquilos, mais livres, tempos em que a criança tinha direito à infância.
A China tem uma tradição milenar de respeito aos mais velhos, aos sábios, e é de se supor que os mestres sejam venerados, mesmo.
Tem razão, é mesmo muito bonito.