floquinhos

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Na noite fria, Drummond...


Os ombros suportam o mundo

Chega um ponto em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor
Porque o amor resultou inutil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão, mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos,

Pouco importa que venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
Prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

2 comentários:

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Amiga Dulce,

Não sei...mas fiquei triste com este poema.
A velhice não precisa ser assim, mesmo para quem perdeu ou deixou de amar.
O coração não deve nunca secar.
Oxalá isso nunca nos aconteça.

Beijos

UBIRAJARA COSTA JR disse...



Concordo com você que não precise nem deveria ser assim, mas sabemos que para muitos isso é uma realidade, triste, dura realidade.
E cabe-nos lutar contra isso, envelhecer com serenidade ou pelo menos tentar faze-lo.
beijos