Acordo com o sol entrando pela janela e antes mesmo de abrir os olhos imagino o dia luminoso, azul. O canto dos passarinhos inunda minha alma. Nesta pequena cidade o silêncio do amanhecer só é quebrado pela algazarra dos pássaros que vivem entre as árvores do bosque que fica atrás da casa. Lembro-me de que é sábado e até poderia ficar um pouco mais entre os lençóis, mas como poderia perder um amanhecer assim? Ergo-me da cama, abro as cortinas e deixo que meus olhos se percam entre o azul do céu sem nuvens de uma manhã de verão. Um avião corta o céu em direção a Boston, talvez, e um carro cruza a rua. Lá se foi o delicioso silencio do amanhecer, levado pela fria tecnologia, tão decantada nestas últimas décadas...
E como se fora um filme, as últimas décadas de meu caminhar vão se desenrolando em minha mente. O mundo de minha infância era quase tão tranquilo quanto esta manhã antes da passagem do avião, do carro. Acordava-se com o canto dos canários que meu pai criava, com as vozes das pessoas da casa ou da vizinhança, uma gente simples, que amava a vida apesar de todas as suas dificuldades, que conseguia transformar qualquer coisa em motivo de alegria e riso. que fazia de seu dia a dia um motivo para cantar, para ser feliz. Por isso havia tanta música no ar. As mulheres cantavam sempre enquanto realizavam suas tarefas caseiras, (pois não dizem que quem canta seus males espanta?) os homens passavam pelas ruas assobiando, havia sempre um rádio ligado, cujo som nos chegava atrevido, sem pedir licença e nem sempre trazendo o som que gostaríamos de ouvir ... Eram alegres aqueles despertares.
E o tempo seguindo em sua caminhada foi modificando esses sons bem de acordo com as mudanças céleres a que o mundo se viu submetido, década após década, mercê o progresso com que a tecnologia nos brindava. E foi tanta tecnologia, tanto progresso que hoje, lá em casa, preciso de janelas anti-ruído para poder dormir melhor, e ainda me considero privilegiada por morar num bairro aonde ainda se acorda com o canto arreliento dos bem-te-vis que vivem entre as árvores das redondezas, ao romper do dia. E ainda tenho beija-flores que visitam meu terraço em busca do néctar que sempre preparo especialmente para eles a cada manhã. E fico me perguntando como pode uma cidade como São Paulo, abrigar tantos pássaros? Só não se vê mais os bandos de pardais ao entardecer sobrevoando a cidade, retornando para os parques que os abrigavam, que era lindo de se ver, tão bom ouvir seu chilrear...
Volto a realidade do hoje com o som que vem do quarto vizinho anunciando que os kids já acordaram, que o dia começa e que é hora, pois, de mergulhar nesse novo dia. E lá vou eu, cantarolando uma canção que ficou dançando em minha cabeça desde ontem... "... as vezes no silêncio do meu quarto..."
Em winchester, na doce manhã do dia oito de agosto do ano de dois mil e nove.
8 comentários:
OI DULCE...
MUITO LINDO SEUS TEXTOS...AMO TUDO O QUE LEIO AQUI.
BJAOOO E UM BOM FINAL DE SEMANA.
oi, Joéliton
Muito obrigada.
Que bom que gosta do que encontra por aqui. Fico feliz.
Bom dinal de semana para você também.
Olá Dulce. Venho um tanto apresada para tentar dar uma palavra amiga,cheguei ontem e foi muito bom,conheci a Ná e o Marido,passamos um belo dia em boa companhia de amigos. Ao ler este texto,nos deixa a lembrança de menina com o cantar dos pássaros na janela,gostei de ler.
Beijinho bfs
Lisa
Imagino como deve ter sido agrdaável o dia passado entre amigos, a Ná e o marido, num lugar tão aprazível. Vi as fotos no blog da Ná, vocês todos são muito simpáticos, gente bonita, com jeito de quem estava mesmo feliz.
Adorei. E só lamento viver tão longe porque adoraria poder estar com vocês um dia.
Beijos
Dulce, desculpa se andei afastada esses dias mas ontem meus pais vijaram para Portugal e então tudo fica meio fora de ordem. Eles têm 86 anos e é preciso dar uma atenção maior.
Olha esse teu amanhecer é tudo de bom e tudo o que queremos, nós que vivemos em cidades com Rio e São Paulo onde até os bem-te-vis que cantam agora na minha varanda estão voando "de banda".
Bom fim de semana junto dos kids.
Pitanga
Ah, Mila, que bom ter seus pais ainda por perto. Ele moram em Portugal?
Minha amiga, beija-flor voar de banda é demais... rs... adorei.
beijos
Não, eles não moram lá mas vão lá todos os anos. Eles são do Porto.
boa noite
Pitanga
Boa noite, Mila.
Tenha um lindo domingo.
beijos
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