Acordou ouvindo o canto estridente do bem-te-vi mas foi se deixando ficar entre os lençóis, no aconchego de sua cama. Não tinha compromissos urgentes, era senhora de seu tempo agora, nesse seu caminhar pelo outono da vida. Ficou ali, de olhos fechados, coração apertado, tentando entende o que era tão claro. Lá fora o pássaro entoava seu canto de liberdade, enquanto seu pobre coração, mais uma vez prisioneiro, lamentava o que ela entendia ser um último sonho perdido. Mais uma vez um engano, mais uma vez apenas um brincadeira que a vida fizera com ela. Como era possível que ela não aprendesse? Como pôde ter-se deixado levar daquela maneira? Seria tão grande a carência, tão dolorida a solidão que permeavam sua alma, que a cegavam para a realidade, que a transformavam numa criatura tola, crédula, inconseqüente o bastante para acreditar no impossível?
Ele chegara mansamente, trazendo palavras de admiração, alegando identidades, semelhanças de vida, abrindo sua vida e seu coração, contando suas coisas, expondo suas fragilidades e, aos poucos fora tomando espaço em seus dias, apossando-se de seus pensamentos com um suposto encantamento aonde havia um certo lugar encantado e, nesse lugar, musica, poesia, afeto, carinho, café ao amanhecer, chá ao cair da tarde, chuva molhando a cidade, e um imenso luar que os pegara desprevenidos e inundara suas almas...Suas?... Não, de modo algum, e só agora percebia... Só a dela, tola, crédula, ingênua alma, só ela fora inundada de sentimentos, de sonhos, de esperanças, porque a dele, certamente envolvida em novos encantamentos logo esquecera a dama, a rainha, a mulher inesquecível...
Sem explicações, voltou repentinamente a ser apenas o amigo e todo o encantamento que havia espalhado ficou pesando como um fardo dolorido no coração daquela mulher que não conseguia entender mais nada. Num dia ele fora todo carinho e já num outro tornara-se apenas uma gentil presença, distante, quase fria. E talvez nem coubessem mesmo explicações. Seriam desculpas apenas, que ela não queria, não precisava, não merecia ouvir.. E lá permaneceu, catando migalhas de carinho, enquanto tentava doutrinar seu coração, faze-lo entender que acabara, que fora só mais uma ilusão e que, dali para a frente, ele precisaria de uma couraça para não mais ser atingido porque, ao continuar agindo assim, traria ainda muitas dores e muito sofrimento para sua alma. Tentava explicar aquele desvairado coração que o momento era de paz e não de guerra consigo mesmo. Queria muito que ele entendesse que a espera deles só havia a solidão das noites vazias, a falta da mão doce e terna que os conduziria pelo sonho, a ausência de uma presença querida que os aconchegasse, que os aninhasse... Porque aquela era a hora certa e precisa de enfrentar a realidade nua e crua e essa realidade mostrava, como primeira lição, que ela precisava aprender a ser só, porque cada vez mais solitários seriam seus caminhos dali para a frente.
Dulce Costa
São Paulo, no amanhecer de 12 de julho de 2008
Ele chegara mansamente, trazendo palavras de admiração, alegando identidades, semelhanças de vida, abrindo sua vida e seu coração, contando suas coisas, expondo suas fragilidades e, aos poucos fora tomando espaço em seus dias, apossando-se de seus pensamentos com um suposto encantamento aonde havia um certo lugar encantado e, nesse lugar, musica, poesia, afeto, carinho, café ao amanhecer, chá ao cair da tarde, chuva molhando a cidade, e um imenso luar que os pegara desprevenidos e inundara suas almas...Suas?... Não, de modo algum, e só agora percebia... Só a dela, tola, crédula, ingênua alma, só ela fora inundada de sentimentos, de sonhos, de esperanças, porque a dele, certamente envolvida em novos encantamentos logo esquecera a dama, a rainha, a mulher inesquecível...
Sem explicações, voltou repentinamente a ser apenas o amigo e todo o encantamento que havia espalhado ficou pesando como um fardo dolorido no coração daquela mulher que não conseguia entender mais nada. Num dia ele fora todo carinho e já num outro tornara-se apenas uma gentil presença, distante, quase fria. E talvez nem coubessem mesmo explicações. Seriam desculpas apenas, que ela não queria, não precisava, não merecia ouvir.. E lá permaneceu, catando migalhas de carinho, enquanto tentava doutrinar seu coração, faze-lo entender que acabara, que fora só mais uma ilusão e que, dali para a frente, ele precisaria de uma couraça para não mais ser atingido porque, ao continuar agindo assim, traria ainda muitas dores e muito sofrimento para sua alma. Tentava explicar aquele desvairado coração que o momento era de paz e não de guerra consigo mesmo. Queria muito que ele entendesse que a espera deles só havia a solidão das noites vazias, a falta da mão doce e terna que os conduziria pelo sonho, a ausência de uma presença querida que os aconchegasse, que os aninhasse... Porque aquela era a hora certa e precisa de enfrentar a realidade nua e crua e essa realidade mostrava, como primeira lição, que ela precisava aprender a ser só, porque cada vez mais solitários seriam seus caminhos dali para a frente.
Dulce Costa
São Paulo, no amanhecer de 12 de julho de 2008
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