floquinhos

sábado, 27 de dezembro de 2008

LEMBRANÇAS NA MADRUGADA


Num dia de aniversário, muita saudade...

Nas minhas madrugadas insones faço incursões pelo tempo, viajo em minha memória, atravesso espaços, transcendo, recebo carinhosamente meus doces fantasmas, meus amores que já se foram, para longas conversas... Hoje a madrugada é de saudades, de lembranças, de voltar no tempo e reviver momentos, retomar emoções. É madrugada de mais um 27 de dezembro, uma data muito especial porque era a data do aniversário do Ubirajara, o meu Bira. Então, é com ele que hoje converso...

Dezembro sempre foi um mês especial em nossas vidas. Num dia 14 dele, nos casamos, no dia 27 sempre festejávamos seu aniversario, alem de ser mês de Natal, marcar o fim de cada ano... E foi dezembro o mês que a vida escolheu para leva-lo de mim...
Hoje fecho meus olhos e o imagino aqui, ao meu lado, neste pequeno mas acolhedor quarto, na casa de nossa filha e quero conversar um pouquinho com você, meu amor, como o fazíamos antigamente, quando o sono nos abandonava e, lado a lado, na nossa cama, mãos entrelaçadas, tínhamos longas e doces conversas, lembra? Era tanto assunto! No principio falávamos de nos, de nossos sentimentos, de nossos sonhos, de nossos planos para o futuro, mas logo foram chegando nossos filhos e tínhamos então muito mais assunto, muito mais casos, muito mais histórias para contar e a noite ia avançando e quando, mansamente, o sono ia fechando meu olhos, ouvia lá longe sua voz perguntando baixinho: “Duzinha, minha flor, já dormiu?”. Por vezes eu nem respondia só me aconchegava mais em você que, como num ritual passava a mão por meus cabelos dizendo ”dorme com Deus, minha querida” e meu sono era tranqüilo, porque me sentia protegida.
Ah, como foi difícil conseguir dormir depois que você se foi... Eu me encolhia no meu lado da cama, sentindo ainda maior o vazio que você deixara, fechava meus olhos e ficava ali, imóvel, esperando o suave toque de suas mãos em meus cabelos, o som de sua voz, em quase sussurro, em meus ouvidos... e tudo o que tinha eram as lágrimas que escorriam pelo meu rosto e a dor da ausência que apertava meu coração...

E lá se foram seis anos desde seu último aniversário, quando já quase se despedindo da vida, pediu-me que fizesse um linda festa e que convidasse seus melhores amigos. Queria um almoço de aniversário, escolheu o menu, bacalhoada, e quando chegou a hora, fez questão que o enfermeiro o levasse para a sala, para participar do almoço... Entendi depois que você só estava querendo uma festa de despedida, só estava querendo abraçar cada amigo, cada filho, irmão, netos, enfim, todos os seus amores, antes de nos deixar... E assim foi feito, e vi, engasgada, cada um deles receber seu abraço e uma palavra sua de agradecimento, de despedida.

Meu amor, você deu a todos nós uma lição de força e coragem, uma lição de amor a vida e de como sair dela com dignidade e respeito pelo que ela lhe ofereceu. E sempre que chega este dia meu coração se afoga nas saudades, minha alma se encolhe nessa ausência dolorida que o tempo, apesar de sempre se encarregar de mitigar nossas feridas, de nos mostrar novos caminhos, de amainar nossas mágoas, apesar disso tudo, não conseguiu ainda amenizar dentro de mim...


Que Deus o tenha em Suas mãos, meu amor...


Dulce Costa
Winchester, 27 de dezembro de 2008

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