Uns vivem sonhando em partir, outros partem como quem não vai a lugar algum, outroa ainda fazem da partida uma festa. Mas há os que ficam felizes por não terem que partir. Fernando Pessoa fez da véspera de não partir um lindo momento.
NA VÉSPERA de não partir nunca
Ao menos não há que arrumar malas
Nem que fazer planos em papel,
Com acompanhamento involuntário de esquecimentos,
Para o partir ainda livre do dia seguinte.
Não há que fazer nada Na véspera de não partir nunca.
Grande sossego de já não haver sequer de se ter sossego!
Grande tranqüilidade a que nem sabe encolher ombros
Por isso tudo, ter pensado o tudo
E o ter chegado deliberadamente a nada.
Grande alegria de não ter precisão de ser alegre,
Como uma oportunidade virada do avesso.
Há quantas vezes vivo
A vida vegetativa do pensamento!
Todos os dias sine linea
Sossego, sim, sossego...
Grande tranqüilidade...
Que repouso, depois de tantas viagens, físicas e psíquicas!
Que prazer olhar para as malas fitando como para nada!
Dormita, alma, dormita!
Aproveita, dormita!
É pouco o tempo que tens!
Dormita!
É a véspera de não partir nunca!
2 comentários:
Ah, Dulce, adorei essa sensação da véspera de não partir nunca. Tão gostosa que nem senti aquele friozinho na barriga(rs). Eu acho que o Mario Quintana também era um pouco assim, já que escreveu:
"Eu sempre que parti, fiquei nas gares. Olhando, triste, para mim..." Mário Quintana, Porto Alegre 21/10/71. Acho que vou colocar no meu blog também.
Não fui! Abraço/ney.
Sabe, Ney, foi exatamente em voce que pensei quando li esses versos, naquelas nossas conversas sobre viagens. Sabia que gostaris. Vai ficar ótimo no seu blog.
bjs/
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