Chovia torrencialmente quando Marta, cumprido seu horário de trabalho, entrou em seu carro , no estacionamento do banco, ainda sem saber se tomaria o caminho de casa ou se daria uma passadinha no shopping para comprar o livro que estava querendo ler. Poderia aproveitar para fazer um lanche e assim não teria que se preocupar em ir para a cozinha naquela noite. Estava cansada, física e mentalmente, as últimas duas semana tinham sido difíceis e ela só queria aproveitar o final de semana para por suas idéias e sua vida em ordem.
Nunca imaginou que fosse tão difícil recomeçar, que o fim de um casamento há muito falido pudesse deixa-la tão abatida, tão sem expectativas... Afinal, foram dez anos de vida em comum que, por sinal, de em comum já não tinha nada há muito tempo.
Jorge e ela haviam sido apaixonadíssimos um pelo outro e estruturaram um viver de total dependência mutua, viver que se prolongou por seis ou sete anos, até que aconteceu aquela viagem de Jorge a Londres, onde ficaria trabalhando por dois meses, tempo que para ela pareceu tão longo ... Percebeu a mudança logo na chegada do marido no aeroporto. Não houve aquele beijo caloroso, cheio de saudade com que ela costumava ser presenteada a cada vez que ele voltava de uma de suas viagens de trabalho e, no dia a dia, ele foi se afastando cada vez mais, foi ficando indiferente, meio frio, distante. Quando ela questionava tal mudança ele dava como desculpa o cansaço pelo excesso de trabalho. E assim os anos foram se passando e cada um foi ficando para o seu lado até que, finalmente, Jorge tomara a decisão pelos dois. Aceitara uma transferência para Londres aonde passaria a viver, e quando ela perguntou quando iriam, ele sentou-se a seu lado no sofá da sala, tomou-lhe as mãos e, olhando-a friamente nos olhos, disse-lhe que o casamento estava acabado, que eles não tinham mais nada em comum, e que ele estava vivendo um novo amor. Conhecera-a em sua primeira viagem a Londres e, desde então vinham mantendo um relacionamento a distancia, encontrando-se a cada viagem que ele fizesse a Europa, pois sempre tirava uns dias para estar com ela em Londres.
Já havia resolvido tudo, a separação seria amigável e ela poderia ficar com todos os bens do casal, ele não queria nada alem da liberdade para recomeçar sua vida.
Marta sentiu o mundo desabar sob seus pés, mas tentando manter-se serena diante daquele homem que fora a razão de sua vida por tantos anos, tentando segurar as lágrimas que teimavam em rolar por seu rosto, apenas assentiu com a cabeça perguntando quando ele partiria... mas nem conseguiu ouvir a resposta. Correu a trancar-se no quarto onde chorou toda a sua dor.
Ele partira havia uma semana e agora ela teria que encontrar novos caminhos para sua vida. A chuva batia forte contra os vidros do carro, os pneus iam deixando um caminho no asfalto logo coberto pela força da água; Marta sabia que o recomeço seria difícil, mas havia uma vida pela frente, uma vida que ela começava a enfrentar. Enxugou os olhos, estacionou o carro na vaga encontrada, respirou fundo e partiu em busca de seu destino.
Dulce Costa
Campinas, 19 de fevereiro de 2010
Nunca imaginou que fosse tão difícil recomeçar, que o fim de um casamento há muito falido pudesse deixa-la tão abatida, tão sem expectativas... Afinal, foram dez anos de vida em comum que, por sinal, de em comum já não tinha nada há muito tempo.
Jorge e ela haviam sido apaixonadíssimos um pelo outro e estruturaram um viver de total dependência mutua, viver que se prolongou por seis ou sete anos, até que aconteceu aquela viagem de Jorge a Londres, onde ficaria trabalhando por dois meses, tempo que para ela pareceu tão longo ... Percebeu a mudança logo na chegada do marido no aeroporto. Não houve aquele beijo caloroso, cheio de saudade com que ela costumava ser presenteada a cada vez que ele voltava de uma de suas viagens de trabalho e, no dia a dia, ele foi se afastando cada vez mais, foi ficando indiferente, meio frio, distante. Quando ela questionava tal mudança ele dava como desculpa o cansaço pelo excesso de trabalho. E assim os anos foram se passando e cada um foi ficando para o seu lado até que, finalmente, Jorge tomara a decisão pelos dois. Aceitara uma transferência para Londres aonde passaria a viver, e quando ela perguntou quando iriam, ele sentou-se a seu lado no sofá da sala, tomou-lhe as mãos e, olhando-a friamente nos olhos, disse-lhe que o casamento estava acabado, que eles não tinham mais nada em comum, e que ele estava vivendo um novo amor. Conhecera-a em sua primeira viagem a Londres e, desde então vinham mantendo um relacionamento a distancia, encontrando-se a cada viagem que ele fizesse a Europa, pois sempre tirava uns dias para estar com ela em Londres.
Já havia resolvido tudo, a separação seria amigável e ela poderia ficar com todos os bens do casal, ele não queria nada alem da liberdade para recomeçar sua vida.
Marta sentiu o mundo desabar sob seus pés, mas tentando manter-se serena diante daquele homem que fora a razão de sua vida por tantos anos, tentando segurar as lágrimas que teimavam em rolar por seu rosto, apenas assentiu com a cabeça perguntando quando ele partiria... mas nem conseguiu ouvir a resposta. Correu a trancar-se no quarto onde chorou toda a sua dor.
Ele partira havia uma semana e agora ela teria que encontrar novos caminhos para sua vida. A chuva batia forte contra os vidros do carro, os pneus iam deixando um caminho no asfalto logo coberto pela força da água; Marta sabia que o recomeço seria difícil, mas havia uma vida pela frente, uma vida que ela começava a enfrentar. Enxugou os olhos, estacionou o carro na vaga encontrada, respirou fundo e partiu em busca de seu destino.
Dulce Costa
Campinas, 19 de fevereiro de 2010
12 comentários:
Gostei desta história. Há sempre uma Primavera à nossa espera... e a andorinha poderá encontrar outro beiral onde fazer o seu ninho...Nos caminhos desencontrados, ás vezes, tropeçasse com a felicidade!
Beijo amigo e bom fds
Graça
Dulce,
saudades!
primeiro, parabéns pelo lindo conto, que estou aqui, lendo e relendo, sem me cansar... vc escreve muito gostoso e muito bem e sabe disto!!!
Quero que transmita um pequeno recado meu à sua linda personagem Marta: diga-lhe que o mundo está à sua espera, e que um novo amor a espera na próxima esquina, ou no próximo café, ou em algum outro lugar qualquer a que for...
Sorte, ela já teve, de se livrar de quem não a amava!rs
Lindo, amei.
Belíssima história, Dulce. Tenho de reconecer que ela reflecte a cobardia de muitos homens e a força de muitas mulheres. Esta história, infelizmente, não é a excepção, mas sim a regra. Normalmente, os homns portam-se muito mal nas situações de divórcio.
Graça Pereira
É verdade, minha amiga, embora dificil, um recomeço sempre se dará e a vida refeita certamente ira presentea-la com novos caminhos.
São tantas as "Martas" espalhadas por este mundo de Deus...
Beijos, obrigada e boa noite
Graça
Obrigada, querida amiga, que bom que gostou.
Mas tenho certeza que sim. E quando tudo tiver passado ela vai olhar para trás e perceber que a vida está muito melhor, que ela se sente mais senhora de si, que pode finalmente moldar sua propria vida, escolher seus caminhos.
Vejo isso em minha filha, recem-saida de um doloroso divorcio e que é hoje uma mulher feliz.
Beijos e obrigada
Carlos
Pois, é, meu amigo, infelizmente reflete sim. História até semelhante foi vivida por minha filha, recem-saida de um doloroso divórcio. Muito sofrimento porque inesperado, no entanto, ela é hoje uma mulher em paz com a vida e consigo mesma, desenvolvendo muito mais sua carreira, criando seus filhos com dignidade e amor, muito mais confiante, segura e serena.
Foi um momento ruim, muito ruim, mesmo, mas hoje ela está linda, feliz... Ele? Nem tanto...
História sensível e comovente, Dulce.
A separação de casais, o divórcio choca-me. Aconteceu com meus pais, estava eu no início da adolescência. Marcou-me.
Jurei, então, a mim próprio, que se um dia o amor me batesse à porta seria sentimento para toda a vida, fazendo dele uma partilha a dois, de fidelidade e respeito mútuo. Assim tem sido, e bem,já lá vão mais de quatro décadas sobre o meu casamento.
Beijos
Carlos
Também sempre preservamos, meu marido e eu, nosso casamento que se estendeu por quarenta e quatro anos e só terminou com a morte dele. Hoje as uniões são bem menos duráveis...
Beijo, obrigada e bom final de semana
Minha querida Dulce,eu já fui "Marta"
eram os meus filhos bem pequenos:6 e 9 anos.
Como foi? Difícil,como sempre.Ñ houve lealdade! Descobri...
E depois? Ele saiu!
Depois esta Marta olhou o espelho,os
Filhos amados,as aulas e os seus queridos Alunos.Pediu a Deus Saúde,
Força,para educar quem ñ pedira para nascer!
Deus ouviu! Ñ lhe prometeu facilidade,
ñ lhe prometeu rapidez!
Mas Disse-lhe q.ela ia vencer!
10 anos passados,doente,uma mão à frente e outra atrás,com um filho,
ele pediu para voltar.
Com pena,mas sem Amor aceitou.
Foi horrível! Ele morreu em casa,doente e tratado pela "Marta".
Hoje essa Marta está só pq. assim quer,mas AMA a VIDA!Fresca!Avó!
Criou 2 Filhos de quem se orgulha!
Trabalhou duramente e...embora tenha "Dias e dias", ri,sorri e tb.
chora.
Perdoou? Sim. Mas ñ esqueceu.
Como podia,né?
Beijoo.
isa.
PS:- Para que as Martas nunca percam a ESPERANÇA!
Dulce:
Ainda bem que o sol desponta todo dia, não é? Nós, seres humanos, somos grandes felizardos!
Beijos.
Isa
São tantas as Marias, não , minha amiga? Imagino como deve ter sido dificil para você, mas admiro sua grandeza de sentimentos demonstrada pelo perdão e mais ainda pelos cuidados dispensados a quem tanto a faz sofrer.
E sua recompensa veio no amor de seus filhos e na chegada de seus netos.
Que lição de vida, querida amiga!...
Obrigada por este comentário, beijos e boa noite.
Maria Tereza
Saber e poder recomeçar leva-nos a caminhos mais seguros e mais iluminadps.
Beijos e boa noite
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