A noite foi de bom sono e, no entanto, madruguei - ou, com diria meu pai: "despertei com a aurora" e como acontece sempre, palavra puxando palavra, acabamos por chegar a um lindo poema de Drummond, nosso Poeta Maior...
"Aurora, entretanto eu te diviso,
ainda tímida, inexperiente das luzes que vais acender
e dos bens que repartirás com todos os homens.
Sob o úmido véu de raivas, queixas e humilhações,
adivinho-te que sobes,
vapor róseo, expulsando a treva noturna.
O triste mundo fascista se decompõe ao contato de teus dedos,
teus dedos frios que ainda não se modelaram,
mas que avançam na escuridão como um sinal verde e peremptório.
Minha fadiga encontrará em ti o seu termo,
minha carne estremece na certeza de tua vinda.
O suor é um óleo suave, as mãos dos sobreviventes se enlaçam
os corpos hirtos adquirem uma fluidez,
uma inocência, um perdão simples e macio...
Havemos de amanhecer.
O mundo se tinge com as tintas da antimanhã
e o sangue que escorre é doce, de tão necessário
para colorir tuas pálidas faces, aurora."
(Parte do poema "A noite dissolve os homens", de Carlos Drummond de Andrade)
8 comentários:
Minha querida
passei para deixar um beijinho e desejar um bom fim de semana.
Sonhadora
Vim correndo...
Andei de "casa em casa"...Ah,se este
oceano ñ fosse "tanta água"!!!
Beijo.
isa.
Querida Dulce. Que belo madrugar este,com as cores da aurora,e as palavras de Drummond! Lindo simplesmente,para ler nesta tarde de inverno.
Beijinho de amizade Lisa
Apesar de saber que me dissolve, a noite fascina-me, Dulce. Nada a fazer
Sonhadora,
Obrigada.
Beijos para você também
Isa
Ah, minha amiga... tanto mar... tanto mar...
beijinhos e obrigada pela visita
Agulheta
E bom porque pode ser compartilhado com os amigos que por aqui passam...
Beijos e obrigada
Carlos
A mim também, meu amigo, principalmente as madrugadas, quando a alma parece ganhar asas, voa longe... E nada a fazer além de mergulhar nas doces horas que precedem o amanhecer...
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