Em minha visita de hoje ao "Crônicas do Rochedo", dei com esta imagem e achei por bem trazer-la para o Prosa, com meu pedido de licença ao Carlos Barbosa de Oliveira, autor do blog, e aqui abordar também esse tema abrangente e revoltante,.
Trago ainda para vocês um texto escrito há alguns dias, por Marta Medeiros, num jornal de Porto Alegre, para complementar esta postagem, porque tenho a quase absoluta certeza de que traduz o pensamento de todos os amigos e leitores do Prosa.
Fatos como os abordados no texto, tão ignóbeis, essa forma bárbara e desumana de punição, causam revolta e indignação, carregam em si uma aura de "impossível que ainda aconteçam"... E essa revolta, essa indignação, geraram um movimento a ser desencadeado hoje pelo mundo em forma de atos públicos. Várias cidades aderiram a ele. Além de todas as listas assinadas em repúdio a essa e outras tantas mortes por lapidação. Impossível ficar indiferente.
Adoçantes não calóricos. Massagem com compressas de ervas quentes. Máquinas high-tech para eliminar a celulite. Modelador térmico para criar cachos naturais. Esmalte de tratamento para unhas frágeis. Clareador de manchas com ácido bio-hialurônico. Hidratante bloqueador de radicais livres. E sigo folheando uma adorável revista feminina, que nos conduz a um mundo onde tudo é lindo, glamuroso e caro, mas sonhar não custa nada, e viro mais uma página, e outra, enquanto penso: uma moça chamada Sakineh Mohammadiz Ashtiani pode morrer apedrejada a qualquer momento por um suposto adultério cometido anos atrás.
Mulheres se candidatam à presidência, dirigem empresas, pedem o divórcio, viajam sozinhas, investem na sua vaidade, mas nenhuma dessas conquistas pode nos orgulhar enquanto ainda houver o costume de enterrar uma criatura no chão com apenas a cabeça de fora para que leve pedradas de diversos homens - e não podem ser pedras GG, tem que ser as de tamanho M, apois exige-se que o suplício seja longo. Que tom de gloss será conveniente para assistir ao badalado evento?
Sei que há diversas outras modalidades de desrespeito aos direitos humanos, inclusive no Brasil, mas neste momento estou vestindo a camiseta da Sakineh. Quero falar sobre o ato primitivo de se apedrejar uma mulher na cabeça até a morte. Não discuto o motivo torpe da condenação, pois nem que ela tivesse matado alguém, em vez de simplesmente ter feito sexo com alguém, seria justificativa. Não há justificativa para a brutalidade. É a lei do Irã, é a religião do Irã, é a tradição do Irã, e daí? Quando meu estômago embrulha, é sinal de que algo bem perto de mim está acontecendo. Distância só existe quando a gente racionaliza, o sentir unifica. O Irã faz parte do mundo em que eu vivo. O meu tempo e o da Sakineh são o mesmo. Somos contemporâneas. Ela não é um personagem, existe. Tem filhos. E se a mobilização internacional não surtir efeito, em breve será enterrada até a altura do busto, com os braços presos para não poder proteger o rosto.
O que dói, mais do que tudo, é reconhecer que avançamos tanto e ainda não conseguimos atingir um grau de humanidade que seja comum a todos, homens e mulheres de qualquer lugar e de qualquer crença. O que podemos fazer por Sakineh? Rezar para que ela seja enforcada, que é o plano B. Ufa, seria um alívio.
Há uma petição circulando pela internet. Acredito tanto na eficiência desses abaixo-assinados como acredito em creme antirugas, mas volto a dizer: sonhar não custa nada.
Trago ainda para vocês um texto escrito há alguns dias, por Marta Medeiros, num jornal de Porto Alegre, para complementar esta postagem, porque tenho a quase absoluta certeza de que traduz o pensamento de todos os amigos e leitores do Prosa.
Fatos como os abordados no texto, tão ignóbeis, essa forma bárbara e desumana de punição, causam revolta e indignação, carregam em si uma aura de "impossível que ainda aconteçam"... E essa revolta, essa indignação, geraram um movimento a ser desencadeado hoje pelo mundo em forma de atos públicos. Várias cidades aderiram a ele. Além de todas as listas assinadas em repúdio a essa e outras tantas mortes por lapidação. Impossível ficar indiferente.
SAKINEH, UMA MULHER COMO NÓS
Adoçantes não calóricos. Massagem com compressas de ervas quentes. Máquinas high-tech para eliminar a celulite. Modelador térmico para criar cachos naturais. Esmalte de tratamento para unhas frágeis. Clareador de manchas com ácido bio-hialurônico. Hidratante bloqueador de radicais livres. E sigo folheando uma adorável revista feminina, que nos conduz a um mundo onde tudo é lindo, glamuroso e caro, mas sonhar não custa nada, e viro mais uma página, e outra, enquanto penso: uma moça chamada Sakineh Mohammadiz Ashtiani pode morrer apedrejada a qualquer momento por um suposto adultério cometido anos atrás.
Mulheres se candidatam à presidência, dirigem empresas, pedem o divórcio, viajam sozinhas, investem na sua vaidade, mas nenhuma dessas conquistas pode nos orgulhar enquanto ainda houver o costume de enterrar uma criatura no chão com apenas a cabeça de fora para que leve pedradas de diversos homens - e não podem ser pedras GG, tem que ser as de tamanho M, apois exige-se que o suplício seja longo. Que tom de gloss será conveniente para assistir ao badalado evento?
Sei que há diversas outras modalidades de desrespeito aos direitos humanos, inclusive no Brasil, mas neste momento estou vestindo a camiseta da Sakineh. Quero falar sobre o ato primitivo de se apedrejar uma mulher na cabeça até a morte. Não discuto o motivo torpe da condenação, pois nem que ela tivesse matado alguém, em vez de simplesmente ter feito sexo com alguém, seria justificativa. Não há justificativa para a brutalidade. É a lei do Irã, é a religião do Irã, é a tradição do Irã, e daí? Quando meu estômago embrulha, é sinal de que algo bem perto de mim está acontecendo. Distância só existe quando a gente racionaliza, o sentir unifica. O Irã faz parte do mundo em que eu vivo. O meu tempo e o da Sakineh são o mesmo. Somos contemporâneas. Ela não é um personagem, existe. Tem filhos. E se a mobilização internacional não surtir efeito, em breve será enterrada até a altura do busto, com os braços presos para não poder proteger o rosto.
O que dói, mais do que tudo, é reconhecer que avançamos tanto e ainda não conseguimos atingir um grau de humanidade que seja comum a todos, homens e mulheres de qualquer lugar e de qualquer crença. O que podemos fazer por Sakineh? Rezar para que ela seja enforcada, que é o plano B. Ufa, seria um alívio.
Há uma petição circulando pela internet. Acredito tanto na eficiência desses abaixo-assinados como acredito em creme antirugas, mas volto a dizer: sonhar não custa nada.
www.liberdadeparasakineh.com.br
Eu já assinei. Agora vou passar meu incrível tônico de renovação celular “future solution”, pois, como qualquer mulher, adoro cuidar da minha pele. (Martha Medeiros)
Fonte: Jornal Zero Hora dia 11 de agosto de 2010.
8 comentários:
Minha querida Dulce,fomos educadas a aceitar e compreender os outros! A aceitar credos religiosos e eu sigo
esses ensinamentos dos meus Pais.
Mas isto é fanatismo.
Ñ é em nome de Deus nenhum!
Ñ aceito!
Beijo.
isa.
Dulce,de fato custa crer que no mun
do de hoje, ainda exista este tipo
de coisas.É um horror!.Infelizmente
não acredito na anulação da pena,
porque o fanatismo e a brutalidade,
imperam nesses paises.
Beijos.
Isa
Tenho por princípio respeitar as opiniões e as crenças alheias. Mas imaginar uma pessoa apedrejada até a morte e com requintes de crueldade?
Triste demais.
Beijos
Paloma
Também não acredito, pois trata-se de um costume milenar, mas não dá para ficar indiferente, não é?
Beijos
Quanta crueldade, em nome de um deus qualquer,a Humanidade cometeu, comete e, provavelmente, continuará a cometer.
Não podemos ficar indiferentes ao que se passa com esta mulher, e outras, e homens também, para não falar das crianças que, mundo fora, morrem todos os dias de maus tratos e fome, sem nunca saberem, sequer, o que é brincar e sorrir.
Abraço, amiga Dulce
Carlos Albuquerque
O homem sempre encontrará motivos para cometer suas maldades. Sejam deuses ou demônios, sejam sonhos megalomaníacos ou demência... Pura crueldade que nada justifica. Lamentavelmente tem sido assim por toda a história da humanidade.
Beijos, Carlos.
Estive ausente durante o fds e só agora encontro este belíssimo post, amiga Dulce.
provoca-me arrepios só de pensar que , como muito bem dz, a única solução que nos resta é desejar que ela seja enforcada em vez de morta à pedrada. Que mundo este em que vivemos e que nos recorda nas suas sábias palavars.
Obrigado, Amiga.
Carlos Barbosa de Oliveira
Pois é, meu amigo, o mundo continua cruel e injusto, desigual, assustador.
Esperemos que o clamor mundial consiga, se não reverter o destino desta mulher, pelo menos impedir que outras venham a sofre-lo também... Mas confesso que não tenho muita esperança nisso...
Um abraço.
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