floquinhos

domingo, 5 de dezembro de 2010

Aconteceu em dezembro.


Arranjou cuidadosamente as flores em um vaso colocado sobre a cômoda de seu quarto de dormir, enquanto tentava dominar aquele sentimento de impotência diante do tempo, que a rondava desde a véspera quando, ao procurar um livro de poesias entre as estantes daquela livraria ouvira uma voz que vivia em sua saudade pronunciar seu nome. Erguera os olhos e dera com o mesmo olhar instigante, meio malicioso que rondara tantos de seus sonhos durante sua adolescência.

Pega assim, de surpresa, pela vida, ficara ali, livro entreaberto nas mãos que agora tremiam, como acontecia sempre que se via diante dele. E aquele sorriso, o mesmo que sempre a desarmava quando se abria em seu rosto de traços fortes, bem delineados, jeito de quem sempre soube o que esperar da vida... E aquela voz envolvente que nem o tempo conseguira mudar...

Não era mais o jovem atlético, insinuante, que tinha diante de si... Não!... Tinha agora, diante de si um elegante senhor, olhando-a com surpresa, e quando estendeu a mão para cumprimenta-lo e ele a reteve entre as dele, a confusão se fez maior em seu coração, ante a emoção que a dominou e que ela procurou disfarçar quando, com voz trêmula, perguntou-lhe como a havia reconhecido, tantas décadas depois. E ele só sorriu e disse:

- Seus olhos... Nunca os esqueci.

O toque do telefone tirou-a de seus pensamentos e, antes mesmo de atender, sabia que era ele. Sentiu, então, que tinha diante de si a possibilidade de realizar aquele sonho que imaginara irrealizável, já que a vida, passando, fizera-a também passar pelo tempo, esse implacável tempo que deixara nela, indeléveis, suas marcas... No corpo e na alma.

Mas, afinal, não dizem por ai que nunca é tarde para sonhar?...

Reclinou-se por sobre o vaso aspirando o aroma delicado das rosas encarnadas que recebera, mergulhou a alma na esperança e partiu em busca do tempo perdido...


10 comentários:

Anônimo disse...

Tão lindo!
Tão suave!
Tão doce!
Beijo.
isa.

UBIRAJARA COSTA JR disse...

Isa

Beijos pra você também, Isa, e muito obrigada...

franciete disse...

Há minha queria, tem três coisas que jamais são recuperadas, o tempo perdido, a palavra dita e a pedra atirada.
Mas sonhar faz tão bem ao ego e porquê?
não sonhar, beijinhos de luz e muita paz.

UBIRAJARA COSTA JR disse...

Franciete

Concordo com você, sim... Por isso é preciso cautela ao falar, cuidado com o tempo e atenção com as pedras que se colocam no caminho...
Que bom que ainda podemos sonhar, não?
Beijos

Paloma disse...

DULCE, me arrepiei de emoção ao ler
este texto.
Sabe, há sentimentos guardados que
por mais que os anos passem, não se
acabam e,para nós, a pessoa amada
permanece do mesmo jeito, embora o
tempo tudo modifique. O olhar e o
sorriso não mudam jamais.

Beijos,com carinho.

UBIRAJARA COSTA JR disse...

Paloma

Talvez seja por isso que digam por ai que os amores perfeitos são os que nunca se realizaram...
Beijos, obrigada e bom final de domingo.

Pitanga Doce disse...

Espero que a personagem não tenha ido muito longe nem esperado muito mais tempo do que havia passado, para encontrar o que perdeu. O tempo ou ela mesma.

Beijos, Dulce, e faz calor.

UBIRAJARA COSTA JR disse...

Pitanga Doce

Também espero, minha amiga... Mas acho que ela e o tempo se perderam pela vida...
beijos em tarde já quase escurecendo ( faz=se noite por volta das 4 - 4:30 PM... E faz frio, apesar do céu tão azul (Agora, 1 grau).

Pitanga Doce disse...

Dulce, "do lado de lá" o cenário também é branco e os dias são curtos. Hoje o céu se desfez em água todo o dia. É tão lindo, mas dá para pensar...demais.

UBIRAJARA COSTA JR disse...

Pitanga Doce

Sei como é, minha amiga... A chuva torna a gente introspectiva, nostálgica mesmo... Mas é sim, muito lindo. Gosto de chuva!...
Beijos e boa noite.