Há dias em que a cabeça parece estar vazia, os pensamentos quedam-se quietinhos, falando baixinho, de si para si, lá num cantinho da alma, como se não quisessem que eu os ouvisse e os repreendesse, porque são um tantinho malucos... A casa tem um ar de saudade, ou de nostalgia, como preferir, e nem o sol que brilha lá fora consegue iluminar o dia.
Talvez a dualidade que se faz em mim com a aproximação do Natal, talvez esse estar mais só num tempo que era nosso, talvez (e nem eu mesma quero admitir isso) o Natal tenha perdido seu brilho com a sua ausência.
Enfeito a casa, monto a árvore, a mesma árvore que compramos juntos num distante tempo como este em que tudo era luz na minha vida. E cada bola, cada sino, cada laço tem uma lembrança, e as que comprei depois, sozinha, não têm o mesmo brilho. Falta seu toque. Coloco o lindo anjo ao lado da árvore e penso que você não o viu, como não viu a Sagrada Família que deixo sobre um pequeno aparador no hall do elevador, para saudar e abençoar quem chegue por aqui. E também não viu a lareira toda enfeitada, exatamente como você gostaria, mas sobre o piano, na tela de um quadro que reproduz a doçura do seu olhar, você sorri, parecendo aprovar esta minha disposição de manter as tradições que cultivamos durante tantos anos.
No terraço, as luzinhas piscantes que iluminam a noite, na janela as velas tremeluzentes que indicam que nesta casa existe paz, cultiva-se o amor e vive-se o espírito de Natal. E sob a árvore coloco já alguns presentes, e se você ainda estivesse comigo o seu certamente já estaria lá, despertando sua curiosidade, tentando adivinhar o que eu teria escolhido desta vez...
Mas você já não está e eu tenho que seguir em frente, como era seu desejo, tenho que tentar ser feliz, como você me fez prometer que seria, tenho que oferecer aos nosso filhos e netos a alegria que sempre encontraram em nós neste mês de Natal... Neste mês que marca seu aniversário de nascimento e de partida, neste mês que escolhemos para nosso casamento, neste mês que eu ainda amo, por tudo e apesar de tudo...
24 comentários:
Tocante, pela ternura, pela lucidez e pela beleza dos sentimentos expressos.
A magia do Natal a despir a alma, suavemente!
Mil estrelas luminosas!
Lidia
Ah, as coisas que acontecem nesta época de Natal, os sentimentos que se desnudam...
beijos
Muito lindo este despir dos seus sentimentos minha querida!
Alivia a alma....
Vou ler o post anterior
Beijinhos desta tua amiga além-mar.
Maria,
obrigada.
Realmente alivia. Nem sempre consiguimos guardar o que nos vai lá no fundo d'alma.
beijos
Dulce,
quantas 'datas' você pode lembrar apenas nesse mês maravilhoso de Dezembro...
quanta saudade e ternura!
Chegou a me emocionar!!!
Bjssssss
Graça
Realmente dezembro é um mes de lembranças, saudades, emoções, alegrias, um mês de magia.
Beijos
Cara Dulce,
Recordar alivia, quando não se trata de um saudosismo patológico que entristece. Mas recordar com o objectivo de colher forças para continuar no melhor caminho possível, beneficiando da experiência do passado, é muito positivo. Desejo que passe um Natal muito Feliz, com energias positivas e reconfortantes.
Beijos
João
João,
Asseguro-lhe que meu recordar é doce, ajuda-me a encontrar um caminho, a cumprir meus dias com amor e serenidade.
Obrigada por sua atenção e pelas palavras amigas,
Um Natal Feliz para você também
Dulce
Querida amiga Dulce,
Com tanta coisa para recordar nesta data, não deve ser fácil controlar todas essas emoções...concordo.
Mas é como diz recordar é reviver os momentos bons e é ainda mais para si com todos os filhos e netos...só pode ser uma enorme alegria.
Sabe que são as pessoas que eu mais amei na minha vida e que já se foram que eu mais recordo, às vezes com nostalgia e muita saudade, mas sempre, sempre co muito amor.
Beijos
Ná
Oi Dulce, esse texto mexeu e remexeu meu interior.
Se você ficou, era porque suportaria essa falta, mesmo com tanta saudade.
Texto cheio de ternura e brilhante como tuas luzinhas interiores minha amiga.
Por isso te convido a passear no Alamedas. Passa lá, vai ser reconfortante pra ti.
http://anjosealamedas.blogspot.com
Meu beijo de afeto minha linda.
Lu C.
DULCE
outro beijinho para ti...
GOSTAR
Gosto
Gosto de ser
Gosto de estar
Gosto de viver...
Mas...
Sei que...
É muito difícil
Ser...
Estar...
E...
Viver...
Mas...
Continuo a teimar
Porque gosto... e então
Sinto...
Que sou...
Que estou...
E que vivo...
Porque...
Para conseguir...
É preciso... persistir...
LILI LARANJO
Dulce:
suas palavras chegaram lá no fundo e invadiram um espaço sensível que teimamos em não trazer à tona. Deixaram patente que o importante são as lembranças que fazem com que a vida se torne sempre responsavelmente bela. Suas sábias palavras atestaram o sentido maior da maturidade.
Beijos carinhosos.
Tento manter essa coragem. O Natal na minha casa sempre foi uma festa de família. Juntava-mo-nos todos em casa de meus pais. Tios primos irmãos cunhados sobrinho. Sempre mais de 30 pessoas. Este ano meu pai se foi, meu tio António também. E está muito difícil.
Um abraço
OLÁ QUERIDA DULCE, FOSTE DESFILANDO A TUA VIDA PASSADA E PRESENTE COM TERNURA E CARINHO... ADOREI AMIGA...ABRAÇOS DE AMIZADE,
FERNANDINHA
Que lhe posso dizer mais, Dulce? Que compreendo bem o que sente, porque infelizmente também por mim perpassam , durante a época natalícia, esses sentimentos de perda.
Fui perdendo a alegria à medida que os meus foram desapaecendo e hoje, apenas tenho por companhia uma bela senhora de 95 anos. A única bola colorida que resta da outrora recheada árvore de Natal que enchia a casa de alegria.
Ná
Mas é ássim mesmo, as lembranças ficam mais aguçadas por essa época, mas temos que vive-la com a maior alegria prossivel para que os nossos não se entristeçam com nossos pequenos sofreres.
Beijos
Obrigada, Lu
e enquanto as luzinhas interiores conseguirem iluminar a alma, vamos vivendo cada momento co emoção e alegria.
Vou passear pela sua alameda, pois sei que lá existe paz. Obrigada
beijos
Lili,
Muito obrigada, um grande beijo para você... Amei o poemas, lindo...
Boa noite, amiga
Dulce minha amiga...eu fico indgnada mas morro de rir...
Com esse meu marido eu casaria mil vezes...
Bjka e é um prazer ter vc aqui.
Maria Teresa
A vida ensina, conduz, modela a alma. E, realmente, a maturidade traz uma certa paz, uma imensa serenidade ao espírito.
beijos
Elvira
É mesmo muito difícil, principalmente quando há perdas recentes, ainda magoando o coração, mas minha amiga, temos mesmo que continuar, já que outras pessoas estão ao nosso lado, esperando nosso afeto, nossa alegria.
É preciso tentar sempre.
Beijos
Fernandinha,
Muito obrigada, querida amiga. Assim vamos seguindo pela vida, tentando fazer mais ameno o caminha dos que estão ao nosso lado.
beijos
Carlos
E que presente, a cada Natal, poder ter ainda essa linda senhora a seu lado, não, meu amigo? E certamente já deve ter-se dado conta de que para ela você é a Estrela Guia na Noite Santa, a que lhe traz conforto, a que ilumina seus pensamentos, dá sentido aos seus dias...
Imagino a saudade, o vazio, até a tristeza. Sei bem como devem ficar seus corações. e entendo porque o Natal não mais tem um sentido mágico para você.
Beijo, Carlos
Beth
Tá bom!... eu também fiquei indignada e confesso, dei lá umas risadinhas ao ler a historinha que deixou lá no seu post, mas casar mil vezes??? rs... Corajosa essa menina... rs...
bjs.
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