floquinhos

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Lembranças de Natal


Não sei bem porque, hoje acordei pensando nos Natais de antigamente, os de minha infância, passados lá no velho casarão. Não havia todas essas luzes, tantas cores, tudo era muito simples, como simples eram as coisas no meu "antigamente"... Houve tempo em que nem tínhamos uma árvore de Natal... E pouco a pouco as imagens foram se formando em torno de mim, trazendo um pouco mais de magia ao meu dia.

Os Natais de minha infância eram felizes, apesar das dificuldades. E é com saudade que me lembro da nossa maratona nas tardes do dia 24 de dezembro, quando saíamos em busca de capim para alimentar as renas do Papai Noel. Sim, porque elas estavam famintas e cansadas de tanto rodar pelo mundo, e tinham sede também; então fazíamos uma roda com o capim e dentro dessa roda colocávamos uma vasilha com água e ao lado nossa cartinha escrita com letrinhas inseguras, onde contávamos como fôramos obedientes durante o ano e por isso mesmo gostaríamos muito de ganhar este ou aquele presente, presente esse que já fora discutido antecipadamente e acordado por nossos pais, dependendo da disponibilidade financeira do momento. Íamos para a cama cedo, querendo que a noite passasse depressa e mal o dia clareasse, lá estávamos nós, pulando de alegria, diante dos pequenos pacotes que nos tinham sido deixados ao lado da vasilha de água agora vazia e dos restos do capim que saciara a fome das renas. Constatávamos felizes que as reninhas tinham apreciado o capim e que Papai Noel ficara contente com nossos cuidados para com seus animais... e corríamos a abrir os presentes, num alarido que despertava os adultos que vinham, felizes com nossa alegria, desejar-nos um Feliz Natal! Eram simples, singelos, felizes os dias de Natal de minha infância...

11 comentários:

Agulheta disse...

Querida Dulce.
Recordar é viver a vida mais um pouco,e falando em Natal,penso que víamos doutra maneira,hoje os meninos tem muito e por onde escolher,mas a verdadeira magia se esta a perder lentamente.
Beijinhos doces.
Lisa

UBIRAJARA COSTA JR disse...

Lisa

Sim, os valores eram outros, vivia-se de forma mais simples, as crianças sonhavam o ano inteiro com o Natal, quando ganhariam o brinquedo desejado. Hoje elas nem esboçam o desejo de ter alguma coisa e já seus pais correm a comprar, assim perdem-se certos valores... Já não lhes negam nada.
Certo ou errado, não sei... Só o tempo dirá.
beijos e boa tarde

Graça Pereira disse...

Como esquecer natais tão maravilhosos como esses da tua infância?? Tinham magia!! Engraçado esse costume de dar de comer ás renas(coitaditas palmilharam o mundo...) e de deixar a carta para o Pai natal junto á água, local onde velhote de barbas teria mesmo que ver... Eu acho um encanto!
Nós, desse tempo não éramos mais felizes?? Eu acredito que sim!
Acho que vou ler outra vez o teu Natal...seduziu-me!
Um beijo amigo
Graça

UBIRAJARA COSTA JR disse...

Graça

Na verdade, precisávamos de tão pouco para sermos felizes... Corríamos soltos pela rua em brincadeiras de roda, pular amarelinha, corda, e esperávamos ansiosamente apenas duas datas ao ano: nosso aniversário e o Natal, que era quando ganhávamos brinquedos.
Outros tempos...
Beijos

Maria Emília disse...

Olá Dulce,
Bonita a sua história. Há dois anos passei o Natal no Brasil. A certa altura encontrei-me a pensar: Como nos seria mostrado o Natal se o menino tivesse nascido num país tropical?
Um grande beijinho,
Maria Emília

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Querida amiga Dulce,

Acho que agora só nós é que valorizamos ainda o verdadeiro espírito do Natal.
As lembranças dos nossos Natais em tempos de poupança, quando um presente ou dois por criança era um luxo, e era sempre algo que nos fazia falta, que tinha utilidade.

Era sim uma alegria...

Estou-me a lembrar que a minha irmã mais velha foi primeiro para a Escola, claro.
Então os meus pais aproveitaram o Natal para lhe oferecer uma caneta nova de pena, sabe como é??? das que era preciso molhar no tinteiro para escrever... e eu também queria, fiquei com ciúmes.

Eu queria pelo menos tentar escrever com ela, nas a Jú não me deixava.
Então eu fui de noite à pasta dela, procurei e procurei e nada.
Voltei para a cama aborrecida e dei com a minha irmã com a caneta na mão a olhar para mim...
tentei roubá-la e na luta a caneta/pena acabou por aparecer espetada na cabeça dela,ahahahaha!
Agora estou-me a rir, mas na altura apanhamos as duas uma palmadita do meu pai e lá se desinfectou a golpe mínimo da cabeça dela...
Aprendi a nunca mais mexer nas coisas dela.

Vê lá o que eu me fui lembrar.

Beijinhos doces

UBIRAJARA COSTA JR disse...

Maria Emilia

Mas nós, aqui no Brasil, seguimos todas as tradições eurpéias até pouco tempo, em razão das nossas raizes.
Hoje a influência americana é que predomina, na decorção, pelo menos.
Beijos

UBIRAJARA COSTA JR disse...

Ná,
mas que história... risos... Ah, crianças... iguais em qualquer tempo, em qualquer época, em qualquer lugar.
Adorei sua história e cada um de nós tem tantas histórias de Natal para contar, não é? E isso torna esta época fascinante...
beijos

Vitor Chuva disse...

Olá Dulce!

Lendo a sua bonita história de tempos que já lá vão, acho que vou pegar no mote dado e contar, também, um pouco acerca da minha noite de Natal.Começo por dizer que não tinha todo esse seu trabalho de ter que procurar capim e dar água às renas. No meu tempo de criança o Pai Natal ainda não fazia parte do quadro natalício em Portugal:as prendas eram trazidas pelo menino Jesus que descendo pela chaminé as deixava no sapatinho colocado sobre a lareira- ou borralho como era chamado na aldeia. Em lugar da àrvore de Natal havia um presépio, montado pelos pais, tendo nós por missão ir aos pinhais apanhar o musgo para o mesmo - esse era o nosso trabalho,que fazíamos com muito entusiasmo!
O melhor de tudo, era de facto o momento em que se acordava, cedinho, após uma noite agitada, e se decobria o que o Menino tinha deixado... o que nunca era muito - mas sabia sempre tão bem!E os pais, atentos, estavam sempre lá para presenciar aquele momento de alegria - que fazia a sua felicidade.
Até que um dia,inevitavelmente, descobríamos que o menino Jesus não vinha assim de tão longe como diziam,nem se enfarruscava a descer pela chaminé: Ele, afinal, morava mesmo ali no quarto ao lado ...Parte do encanto e sortilégio da ocasião perdiam-se, então. De certo modo, naquele momento, deixávamos de ser crianças e a ocasião nunca mais seria exactamente a mesma, embora continuasse a haver prendas.As boas recordações, contudo, essas ficariam para sempre!

Beijinhos.
Vitor

Elvira Carvalho disse...

Quando eu era menina (e já lá vão tantos anos) o Natal era uma festa. Meus pais, e meus avós diziam que na noite de Natal o Menino Jesus vinha recompensar os meninos bons e trazer presentes. Nós vivíamos num barracão de madeira que em tempos fora habitado por 4 casais e respectivos filhos, mas no qual ficaram apenas os meus pais, quando os outros casais se foram. O barracão tinha um salão com 11 metros ao fundo do qual tinha um fogão, constituído por duas fileiras de tijolos com uma grelha em cima, e um forno de tijolo onde minha mãe cozia o pão.
Pelo Natal todos os anos vinham meus avós do Norte e se juntavam lá em casa com alguns dos filhos, - meus tios.
Não havia rádio, nem TV, nem sequer luz eléctrica. Mas haviam 3 candeeiros a petróleo, que na noite de Natal ficavam acesos até depois da meia noite. Antes do Natal meu pai colhia no pinhal perto da nossa casa, muitas pinhas, que debulhava. Partia alguns pinhões para comermos e os outros eram para jogarmos. Ele mesmo fazia uma piorra com o Rapa Tira Põe e Deixa. Ou então jogávamos ao "Pinhas alhas" que era assim. Cada um tinha 50 pinhões para começar o jogo. Pegávamos uns quantos na mão fechada, e dizíamos para os parceiros "Pinhas alhas" e o outro respondia "abre a mão e dalhas"
"Sobre quantas?" E saía um número. Se fosse a quantidade que tínhamos na mão, tínhamos que dar os nossos pinhões. Mas se errassem tinham que nos dar tantos pinhões quantos tínhamos.E era o nosso entretém.
Pelas 10 horas, meu pai dizia que tínhamos de ir para a cama e mandava-nos pôr os tamancos junto ao fogão para o Menino Jesus deixar os presentes.
E nós lá deixávamos os tamanquitos e íamos para a cama na esperança de que nesse ano o menino Jesus deixasse uns brinquedos iguais aos dos filhos do capitão que geria a Seca do Bacalhau, onde os meus pais trabalhavam e nós vivíamos.
Mas no dia seguinte era sempre a mesma coisa. Uma tremenda decepção, pois lá só havia meia dúzia de rebuçados e dois ou três figos secos. Lembro-me que um ano, decidi esperar acordada a chegada do Menino Jesus para lhe perguntar porque é que deixava lindos brinquedos aos filhos do capitão que eram meninos ricos a quem não faltava nada e a nós que éramos tão pobres que não tínhamos nada só deixava rebuçados.
Consegui manter-me acordada e quando ouvi barulho, levantei-me e apanhei a minha mãe a pôr os rebuçados nos tamancos.
Fiquei tão revoltada, pensei que o Menino Jesus não queria saber de nós, fartei-me de chorar, e foi a
minha avó que para me acalmar, me explicou que o Menino Jesus não vinha dar prendas a ninguém que era uma tradição dizerem isso porque fazia anos que Ele nascera, mas que na verdade as prendas eram dadas pelos pais e os meus não tinham dinheiro que desse para outra coisa que não os rebuçados.
Foi um choque e um alivio ao mesmo tempo.
Desculpe o comentário tão longo, mas este texto despertou recordações adormecidas.
Um abraço

UBIRAJARA COSTA JR disse...

Vitor

Obrigada por dividir conosco os Natais de sua infância. São tão bonitas recordações que moram em nós e sempre voltam a povoar nossas mentes, provocando saudades.


Elvira

Agradeço a você também estar dividindo suas noites de Natal, mostrando-nos como eram e as emoções que as crianças sentiam.

Vitor e Elvira, as lembranças que nos contam são lindas, mostram um outro tempo, onde as crianças tinham sonhos bem mais simples, mas tinham uma alegria autêntica e na simplicidade do momento havia encanto e magia.
Descobrir que Pai Natal não existia, ou que o Menino Jesus não trazia presentes, era um momento triste para qualquer criança, mesmo porque eram quase sempre as crianças maiores, com uma pontinha de maldade, que gostavam de quebrar esse encanto.
Aqui no Brasil, aí em Portugal, vivemos nós outros tempos, outras magias, outras alegrias ou mesmo outras tristezas, mas vivemos, na verdade, um tempo encantado que volta ano a ano a nos fazer companhia, uma doce companhia acompanhada de saudade...

beijo Vitos

beijo Elvira

E muito obrigada. Adorei suas histórias e espero que outros amigos sigam o exemplo e nos contem sobre as noites de Natal de suas infâncias.