Por isso trago hoje para vocês mais um pensamento de um dos meus escritores do coração:
(Albert Camus)




1 - Mobiliario chinês, com entalhes em marfim / 2 - Réplica em miniatura do Taj Mahal, em alabastro
1 - Na parte destinada as crianças, um grande painel com aves naturais do país, empalhadas






Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.
E pelas trilhas, no caminho para o lago, vamos descobrindo belezas, como as delicada flores do campo que trago aqui para embelezar a manhã dos amigos e leitores do prosa...
E trago também para mostrar para vocês, como curiosidade, um dos vários hidrantes, pintados de vermelho, que ficam espalhados por todo o bosque, prontos para serem usados pelos bombeiros da cidade, ao menor sinal de incêncio. Há algumas outras curiosidades espalhadas por esse bosque, mas deixo para traze-las numa outra postagem. Por hoje ficam a ida ao lago e as flores que se encontram pelos caminhos. E, claro, ai está o lago... Escrevo diante da janela aberta.
Minha caneta é cor das venezianas:
Verde!... E que leves, lindas filigranas
Desenha o sol na página deserta!
Não sei que paisagista doidivanas
Mistura os tons... acerta... desacerta...
Sempre em busca de nova descoberta,
Vai colorindo as horas quotidianas...
Jogos da luz dançando na folhagem!
Do que eu ia escrever até me esqueço...
Pra que pensar? Também sou da paisagem...
Vago, solúvel no ar, fico sonhando...
E me transmuto... iriso-me... estremeço...
Nos leves dedos que me vão pintando!
(Mario Quintana)