floquinhos

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

A PALAVRA E EU - Será que nos entendemos?


Thiago de Mello encerra seu “A palavra desconfia” com os versos:

“Estrelada, a palavra se insinua,
me deslumbra, mas quando quero tê-la,
ela se esquiva, mal permite a pele
e inefável me espia impenetrável.”

Se ele, poeta de primeira linha, briga com a palavra, tem lá seus dias em que ela lhe foge, imaginem só a minha dificuldade... Eu, escrevinhadora muito amadora, que só tem como tema as coisas do coração... Imaginem como me sinto em determinados dias quando, sentada aqui diante desta telinha tento transpor sentimentos que se fecham, pensamentos que se calam, emoções que se encolhem... Percebo-me envolta por uma nuvem que me embaralha as idéias, dando-me a sensação de inexplicável cansaço, perdida num labirinto escuro e aparentemente sem saída, de embotadas palavras que surgem sem sentido, sem rumo
Fecho os olhos e procuro no passado, próximo ou distante, algum enlevo, alguma história que mereça ser contada, mas parece que tudo já foi dito, pelo menos tudo o que poderia ser significativo, poderia despertar interesse. Olho em volta e o dia se faz num marasmo, num cinzento imperdoável. Mesmo o sol que entra pela janela parece esmaecido. Busco dentro de mim uma noite estrelada, um imenso luar sobre as águas do lago, mas sinto que chove lá fora... Relembro amores vividos ou sonhados, e eles me parecem tão sem sentido, assim perdidos na distância que o tempo interpôs entre nós.
Reconheço que hoje a palavra está de mal comigo e preciso respeitar-lhe a vontade. Pode ser que mais tarde, ou amanhã talvez, ela chegue generosa, fácil, iluminada, e aí então eu consiga, numa conversa comigo mesma, contar coisas da vida, da alma, de mim.. Por enquanto, volto aos livros - afinal há uma pilha deles bem razoável à espera de serem lidos, aqui ao meu lado - onde a encontro traduzindo emoções, encanto, onde aprendo a conhecê-la melhor, a usá-la com propriedade, a fazê-la minha amiga.

Dulce Costa
No dia onze de fevereiro do ano de 2009

2 comentários:

Anônimo disse...

É espantoso, quando alguém não sabe o que escrever e descreve tão bem aquilo que sente nesses momentos.
Adorei. Muitas vezes estou assim também, só que as palavras não saem...

UBIRAJARA COSTA JR disse...

Obrigada, Lourdes.
Bem que tendo fazer delas minhas amigas, mas as vezes elas me falham... rs...
beijos