Uma linda orquídea branca, como um último carinho. No cartão, apenas duas palavras, frias, cortantes como se fossem a afiada lâmina de uma adaga. - Beijo Adeus. - “Dez minúsculas letras a negro sobre a desolada superfície ocre do papel”, não mais que isso, que bastavam para definir o fim de um sonho, a tristeza de uma alma, o vazio que envolveria sua vida, a ausência que seria sempre presença em seus dias...
Ele sempre se valera da delicadeza, da beleza das orquídeas como mensageiras de seu carinho, de seu amor; sempre fizera delas o arauto de sua felicidade, enviando-as, invariavelmente, após cada significativo momento. As lilases vinham depois de um doce momento de amor, as amarelas chegavam quando havia alguma mágoa, algum desencanto, as brancas, quando estando longe, sentia saudade...
A que retinha agora entre as mãos, e que mal podia enxergar através dos olhos banhados de lágrimas, a mais linda de todas as que já recebera, trazendo um último beijo, o definitivo adeus, carregava em suas delicadas pétalas toda uma história de amor, de carinho, de perdão, e uma estraçalhadora renúncia, um “nunca mais” que a jogava na mais dura e cruel realidade... Realidade que ela teria que enfrentar, que superar, custasse o que custasse, ela bem o sabia, mas naquele momento, seu mundo interior completamente desfeito, o chão parecendo sumir sob seus pés, sentindo-se imensamente só, como se fora a última criatura viva sobre a face da terra - e nem se sentia viva - enrodilhou-se em seu sofá predileto, esmagando a delicada flor entre seus dedos crispados e dando vazão ao desespero que lhe invadia a alma, lançou-se num pranto que parecia sem fim, que só findou quando, vencida pelo cansaço, adormeceu ali mesmo, sem perceber que o sol nascia radiante, lá fora, e que a vida continuava, imutável, apesar de sua dor.
Dulce Costa
(09/02/2009)
Este texto foi o resultado de um desafio lançado pela amiga Aline C Costa, o de criar uma poesia a partir de uma frase de um determinado livro. No post abaixo, o desfio que espero ter conseguido vencer, feito em prosa, já que não sou poeta.
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