Gosto de ver o amanhecer. Fascinam-me os tons de que se cobre o horizonte aos primeiros raios do sol, o ver a cidade ir aos poucos mostrando sua cara, o apagar das luzes nas janelas das casas, prédios e ruas, cada ruído característico que vai preenchendo o espaço... O canto dos pássaros... Não é incrível que numa cidade como São Paulo possamos ainda acordar com o canto dos pássaros? Eu tenho cá, nas proximidades de minha janela uns bem-te-vis que enchem minha manhã de alegria com seu alarido e nem preciso abrir os olhos para saber que já está se fazendo dia; eles mo anunciam...
Mas há as manhãs de chuva, as manhas cinzentas, quando o canto dos meus bem-te-vis parece mais triste, quando a cidade parece chorar... E no entanto, ainda assim, há beleza. Há tanta beleza no refletir das luzes no chão molhado, nas pequenas poças d’água formadas nos cantos das calçadas nem sempre bem cuidadas, no meio-fio das ruas, nos telhados das casas mais baixas ... E em ver através da vidraça a chuva caindo mansamente. Por vezes perco-me de mim mesma num amanhecer de chuva e ali, diante da janela, olhos mergulhados no cinza que se espalha a minha frente, surgem outras manhãs, as da minha infância, quando só pensava que a chuva pudesse atrapalhar minhas brincadeiras de rua e ainda assim, já gostava dela. Adorava correr na chuva, mergulhar meus pés descalços nas poças d’água, para desespero de minha mãe que lamentava a filha gostar tanto de andar “de pés no chão” – hábito que ainda carrego comigo; ando sempre descalça, gosto de sentir o chão, a madeira do assoalho, a textura dos tapetes, o friozinho dos ladrinhos, das pedras lisas do terra;o... E volto as manhãs de minha adolescência, quando aproveitava aquele cinza para “me sentir triste”, querer chorar, sonhar, como cabe a qualquer adolescente – ou pelo menos cabia, lá nos meus “antigamente”... Passeio pelos amanheceres de minha juventude, quando o romantismo dominava cada momento de meus dias e, ao abrir as portas da sacada de meu quarto e deparar com a chuva caindo sobre os paralelepípedos da velha rua punha-me a imaginar a doçura de se estar com alguém especial numa manhã de chuva... Sempre fui sonhadora, que fazer?
E volto a mim com a certeza de que , em que pesem as diferentes maneiras de sentir o momento em manhãs assim, elas sempre me foram caras. Tão caras quanto as minhas manhãs de sol, como esta que agora se espalha diante de meus olhos maravilhados...
Dulce Costa
No amanhecer do dia seis de fevereiro do ano de 2009
Mas há as manhãs de chuva, as manhas cinzentas, quando o canto dos meus bem-te-vis parece mais triste, quando a cidade parece chorar... E no entanto, ainda assim, há beleza. Há tanta beleza no refletir das luzes no chão molhado, nas pequenas poças d’água formadas nos cantos das calçadas nem sempre bem cuidadas, no meio-fio das ruas, nos telhados das casas mais baixas ... E em ver através da vidraça a chuva caindo mansamente. Por vezes perco-me de mim mesma num amanhecer de chuva e ali, diante da janela, olhos mergulhados no cinza que se espalha a minha frente, surgem outras manhãs, as da minha infância, quando só pensava que a chuva pudesse atrapalhar minhas brincadeiras de rua e ainda assim, já gostava dela. Adorava correr na chuva, mergulhar meus pés descalços nas poças d’água, para desespero de minha mãe que lamentava a filha gostar tanto de andar “de pés no chão” – hábito que ainda carrego comigo; ando sempre descalça, gosto de sentir o chão, a madeira do assoalho, a textura dos tapetes, o friozinho dos ladrinhos, das pedras lisas do terra;o... E volto as manhãs de minha adolescência, quando aproveitava aquele cinza para “me sentir triste”, querer chorar, sonhar, como cabe a qualquer adolescente – ou pelo menos cabia, lá nos meus “antigamente”... Passeio pelos amanheceres de minha juventude, quando o romantismo dominava cada momento de meus dias e, ao abrir as portas da sacada de meu quarto e deparar com a chuva caindo sobre os paralelepípedos da velha rua punha-me a imaginar a doçura de se estar com alguém especial numa manhã de chuva... Sempre fui sonhadora, que fazer?
E volto a mim com a certeza de que , em que pesem as diferentes maneiras de sentir o momento em manhãs assim, elas sempre me foram caras. Tão caras quanto as minhas manhãs de sol, como esta que agora se espalha diante de meus olhos maravilhados...
Dulce Costa
No amanhecer do dia seis de fevereiro do ano de 2009
2 comentários:
Olá Dulce.
Quando li seu post de hoje, viajei também para o passado. Também eu adorava andar descalça a chapinhar nas poças de água; também eu ouvia as repreensões da minha mãe; também eu,actualmente ando descalça sempre que posso.
Beijo
Pois é, Lourdes... É bom demais...
Pés descalços sempre me deram uma sensação de mais liberdade. A primeira coisa que faço sempre que chego em casa é tirar meus sapatos.
Beijo
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