floquinhos

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

NUMA TARDE DE MUITO VENTO...


Tarde cinzenta de final de verão, o vento dobra os galhos das árvores, encrespa a água da piscina do prédio ao lado, carrega um ou outro pedacinho de papel que tenha ficado jogado na rua, e só não levanta a saia da moça, porque a moça não usa mais saia...
Nos tempos de antanho, um vento como esse era a alegria da rapaziada que ficava nas esquinas, nas portas dos botecos, sem ter muito o que fazer, em quase todo final de tarde. Tempos sem computador, pouca TV... DVD? Nem sonhar! Futebol de várzea, somente nos finais de semana, bairro pobre, cultura pouca, poucos livros, então que é que lhes restava fazer para matar o tempo? As longas, intermináveis conversas de porta de bar, de beira de esquina, o ver passarem as meninas que saiam das fábricas, que voltavam das escolas, ou as que simplesmente, passavam por passar, passavam porque sabiam que seriam olhadas...
E a mulher era quase um mistério para aqueles garotos. Ao contrario de hoje, quando as meninas tem total liberdade para usar e abusar das mini-saias, das calças de cintura baixa, dos shorts e bermudas, das blusas minúsculas, decotadas, batas soltas tomara-que-caia, as garotas de então eram vestidas com saias no mínimo uns dez a quinze centímetros abaixo dos joelhos, decotes comportados em blusas quase sempre com mangas,
Dessa forma os meninos empolgavam-se ao simples avistar de um lindo par de joelhos, e a suprema glória eram as tardes de ventania, quando uma rajada mais forte fazia subirem as sais rodadas tão em uso na época... Eles ficavam mudinhos, fingindo que nem tinham visto, mas sem perder um tiquinho de nada do espetáculo que eram aquelas rodadas saias voando, fingindo-se de comportados, para não constrangerem as garotas que aos gritinhos seguravam as rebeldes dobras de pano que subiam ao sabor da ventania, demonstrando um embaraço que nem sempre sentiam... Sabiam que eram belas...
Ah, o jogo de sedução dos jovens de outrora... Eram olhares, sorrisos, piscadelas de olhos, meneios de cabeça, pequenos sinais, que se estendiam por meses, as vezes, até o rapaz resolver que já era tempo de se aproximar e começar um namoro. Cabia as meninas esperarem que os meninos se manifestassem... Elas eram obrigatoriamente recatadas... E aquela que fosse mais atrevida, mais atirada, perderia a chance de ser levada a sério. Era cultural, era uso e costume do local, do tempo...
As mudanças foram radicais. Hoje as meninas vestem-se com leveza, mostram-se atraentes e descontraídas dão o primeiro passo quando lhes interessa a companhia de alguém, conhecem um certo grau de liberdade – muitas delas tem até liberdade total para levar seus dias como bem entendam, namoram o quanto querem, são bem mais senhoras de suas escolhas.
Melhorou? Piorou? Sabe-se lá. Como tudo costuma ser produto da época, dos costumes do momento, sempre deve haver que diga que melhorou muito. Mas sempre haverá também alguém que se lembre com saudades da emoção que coisas tão simples causavam nas almas jovens de então, e esse alguém certamente vai dizer que “aquilo é que eram tempos”... Podemos concluir dai que não melhorou nem piorou. Apenas mudou, como tudo o mais que existe na vida...

Dulce Costa
Na tarde do dia 12 de fevereiro do ano de 2009

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