Regando os vasos de ervas para tempero de meu terraço, fico lembrando meus tempos de menina, quando minha mãe cultivava carinhosamente um pequeno jardim de vasos, com ervas medicinais.
Havia um enorme terraço na parte de cima de nossa casa, aonde minha mãe colocara vários caixotes de madeira, como enormes jardineiras, nos quais plantava melissa, poejo, hortelã, losna, boldo, e outras ervas cujos nomes não me lembro, ao lado de latas (daquelas antigas, de óleo, de vinte litros) que serviam de vasos para lindas flores também por ela cultivadas. As flores eram por puro prazer, pelo belo que elas colocavam em seus dias, mas as ervas eram utilidade naqueles tempos em que médicos eram raros e caríssimos; a medicina ficava longe do alcance das pessoas menos favorecidas.
Havia uma linha seguida então. Primeiro tentavam-se os remédios caseiros, os chás de ervas, os ungüentos, as compressas - por exemplo, quando uma criança tivesse dor de garganta, fatalmente acabaria com um pano embebido em álcool (misturado a igual quantidade de água), em volta do pescoço. Os antigos diziam que era um santo remédio.. e/ou então tinham a garganta, as amígdalas, pinceladas com uma solução de iodo. Já um adulto, com dor de cabeça, alem da aspirina, teria um lenço a envolver-lhe as têmporas segurando junto a elas e no centro da testa, três generosas fatias de batata crua - diziam que tirava a dor como se fosse com a mão (será?). Se com o tratamento caseiro o doente não melhorasse, recorreriam ao farmacêutico do bairro, que depois de anos tratando da vizinhança, acabava tarimbado, sabendo tudo (ou quase tudo) sobre as doenças mais comuns. Se de todo o farmacêutico não resolvesse, ai não tinha jeito... era chamar o médico, também do bairro, que vinha com aquela sua misteriosa malinha, impondo respeito, olhado quase como um semi-deus... Era o DOUTOR!... que como as professoras de então, mereciam toda consideração, admiração, gratidão de uma população formada por gente humilde, ordeira, trabalhadora, lutadora, que só esperava da vida o que a vida pudesse lhe dar. Aí, se fosse urgente e necessário, o doente seria encaminhado a um hospital público, que eram bem pouco numerosos.
Essa imensa rede hospitalar que temos hoje, cortando toda a cidade, com toda a sorte de especialistas vinte e quatro horas por dia, atendendo pacientes particulares ou conveniados, não passava nem pela cabeça daquela gente... Eram outros tempos...
Dulce Costa
Na tarde de dezessete de fevereiro do ano de dois mil e nove
Havia um enorme terraço na parte de cima de nossa casa, aonde minha mãe colocara vários caixotes de madeira, como enormes jardineiras, nos quais plantava melissa, poejo, hortelã, losna, boldo, e outras ervas cujos nomes não me lembro, ao lado de latas (daquelas antigas, de óleo, de vinte litros) que serviam de vasos para lindas flores também por ela cultivadas. As flores eram por puro prazer, pelo belo que elas colocavam em seus dias, mas as ervas eram utilidade naqueles tempos em que médicos eram raros e caríssimos; a medicina ficava longe do alcance das pessoas menos favorecidas.
Havia uma linha seguida então. Primeiro tentavam-se os remédios caseiros, os chás de ervas, os ungüentos, as compressas - por exemplo, quando uma criança tivesse dor de garganta, fatalmente acabaria com um pano embebido em álcool (misturado a igual quantidade de água), em volta do pescoço. Os antigos diziam que era um santo remédio.. e/ou então tinham a garganta, as amígdalas, pinceladas com uma solução de iodo. Já um adulto, com dor de cabeça, alem da aspirina, teria um lenço a envolver-lhe as têmporas segurando junto a elas e no centro da testa, três generosas fatias de batata crua - diziam que tirava a dor como se fosse com a mão (será?). Se com o tratamento caseiro o doente não melhorasse, recorreriam ao farmacêutico do bairro, que depois de anos tratando da vizinhança, acabava tarimbado, sabendo tudo (ou quase tudo) sobre as doenças mais comuns. Se de todo o farmacêutico não resolvesse, ai não tinha jeito... era chamar o médico, também do bairro, que vinha com aquela sua misteriosa malinha, impondo respeito, olhado quase como um semi-deus... Era o DOUTOR!... que como as professoras de então, mereciam toda consideração, admiração, gratidão de uma população formada por gente humilde, ordeira, trabalhadora, lutadora, que só esperava da vida o que a vida pudesse lhe dar. Aí, se fosse urgente e necessário, o doente seria encaminhado a um hospital público, que eram bem pouco numerosos.
Essa imensa rede hospitalar que temos hoje, cortando toda a cidade, com toda a sorte de especialistas vinte e quatro horas por dia, atendendo pacientes particulares ou conveniados, não passava nem pela cabeça daquela gente... Eram outros tempos...
Dulce Costa
Na tarde de dezessete de fevereiro do ano de dois mil e nove
2 comentários:
Olá Dulce,
Também aqui em Portugal, se recorria ao efeito medicinal das plantas antes de recorrer ao médico. O que é certo é que muitas vezes resultava.
Beijo
Pois é, Lourdes, os antigos conheciam o segredo das plantas e suas qualidades curativas, conhecimento que as gerações seguintes desprezaram. Uma pena!
bjs.
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