floquinhos

sábado, 11 de setembro de 2010

Numa praça, ao amanhecer...

(Foto: Blog "Guardador de Nuvens")

Um caminho pela vida

Caminhava como se amparasse nos ombros todo o peso do mundo... Mas era o peso do tempo, o peso da vida que arqueavam suas costas, essa mesma vida que branqueara seus cabelos, tornara frágil aquele homem que parecera nascido para lutar por um lugar ao sol, esse sol que brilhara tão pouco para ele.
De origem humilde, seu pai fora carroceiro e sua mãe findara sua vida no velho tanque da pequena casa da vila onde nascera, lavando roupas para fora. Júlio, apesar da pobreza em que vivia, crescera feliz nas brincadeira entre os meninos do bairro, Frequentara o Grupo Escolar, fizera sua primeira comunhão na Igreja Matriz, e sua maior alegria eram as matinês de domingo no Cine Ideal. Aos quatorze anos já trabalhava como entregador no armazém da esquina de sua casa, aos dezesseis passara a aprendiz de sapateiro, na sapataria de seu tio Mario, profissão que adotaria e levaria pela vida a fora, e que lhe proporcionaria o ganho para sustentar, embora modestamente, sua família.
Conhecera Maria, a que se tornaria sua esposa, numa quermesse da igreja de São Vito. Moça humilde, operária em uma tecelagem, e que, como ele, não tinha medo do trabalho,. Apaixonados, e como usava ser na época, namoraram, noivaram e só se casaram quando a casinha que os abrigaria estava mobiliada. Uma casa simples, que Maria cuidava com muito carinho. Os filhos foram nascendo, dois meninos e uma menina, e sempre foram a alegria e o orgulhos do casa. Cada um deles foi traçando seu próprio destino e aos poucos a casa que se enchera de risos com as crianças foi ficando novamente vazia na medida em que elas foram crescendo, casando, gerando seus próprios filhos. Alegria que voltava nos almoços de domingo, quando todos se reuniam..
Mas a vida levara-lhe um dia sua querida Maria e Julio sentiu então o peso da solidão, a dor de ser incompleto. O carinho dos filhos e netos não bastavam para arrefecer a saudade, a falta que sua companheira de tantas décadas fazia em sua vida. Acordava nas madrugadas sentindo a cama vazia, sentindo um frio na alma e quantas vezes, não conseguindo mais dormir, saia para a rua e ia sentar-se na pequena praça onde esperava o nascer do sol, como fizeram, Maria e ele, inúmeras vezes...
E os primeiros raios de sol iam encontrar aquele homem sentado no tosco banco sob a árvore da praça, olhos marejados de lágrimas, um meio sorriso abrindo-se no rosto triste e os lábios murmurando, como numa prece… “Bom dia, minha Maria, aonde quer que você esteja..."

8 comentários:

Agulheta disse...

Querida Dulce.Ler este texto ou crónica,nos leva a conhecer sentimentos que muitos guardam com tanta saudade,de alguém que deixou de estar presente,como testemunho dos tempos difíceis da vida.
Beijinho de amizade BFS
Lisa

aapayés disse...

Que tengas un fin de semana excelente... Son mis mejores deseos…

Un abrazo..
Saludos fraternos....

UBIRAJARA COSTA JR disse...

Agulheta

Pois, é, Lisa, são cenas da vida, do cotidiano, muito mais frequentes do que se possa imaginar. São resultados de grandes amores que se perpetual além da vida...
Beijos, obrigada e um bom domingo.

UBIRAJARA COSTA JR disse...

Adolfo Payés

Muito obrigada. e que seu final de semana seja também muito especial.
Beijos.

orvalho do ceu disse...

Olá,
À noite tenho lido tantos posts sobre saudade...
Ah! essa traiçoeira que nos pega de súbito...
Um excelente Domingo cheio de paz junto aos seus familiares.

UBIRAJARA COSTA JR disse...

Orvalho do Céu

Creio que é porque no silêncio da noite nos sentimos mais sós. É então que ela, Dona Saudade, deita e rola sobre nossas almas...
Beijos, obrigada e um bom domingo para você tambem.

Unknown disse...

Boa tarde Dulce,
o verdadeiro amor é eterno, como tão bem retrata no seu post.

Haverão muitas histórias como esta que nos deu o prazer de ler, histórias que desconhecemos mas que são a vida de quem nunca esquece o seu amor.

Beijinhos,
Ana Martins
Ave Sem Asas

UBIRAJARA COSTA JR disse...

Ana Martins

Sem a menor dúvida, Ana. Muitas e muitas histórias de um amor que ultrapassa a vida, todas vividas e espalhadas pelo mundo afora...

Beijos, obrigada, boa noite e uma boa semana para você.