As valentes folhinhas tentam sobreviver ao frio outono...
Num dia muito azul, dia que amanheceu com os termômetros assinalando dois graus negativos mas com o sol derramando-se por sobre a cidade, o bosque toma um ar de primavera, e só o barulho das máquinas recolhendo as folhas caidas sobre o gramado quebra um pouco a paz do momento.
Agasalho-me bem, envolvo-me em cachecóis e gorros, luvas e casaco, para sair, para dar uma pequena volta por aí, apenas para sentir mais de perto a beleza do dia. Entro no bosque, sinto as folhas craqueando sobre as solas de minhas botas; não se ouve um canto de pássaros, pois já partiram em busca de um clima mais ameno, e os esquilos, cujos pelos já tomam a coloração mais clara do inverno, como camuflagem, esquivam-se silenciosamente por entre as árvores. Árvores quase desnudas, tristes sem a beleza de suas cores, de suas folhas. E entre tantas folhas ressequidas, lá estão ainda umas folhinhas, verdes, tentando sobreviver ao frio, tão valentes como certas pessoas que, parecendo terem nascido para o sofrimento, não se deixam levar pelas intempéries da vida e vão seguindo seu caminhar, sempre tentando alegrar os caminhos dos que vivem em torno delas. Não sei porque as folhas isoladas num galho que parecia seco lembraram-me essas pessoas, gente que vai sempre em frente, apesar dos pesares, que sorriem quando suas almas estão em frangalhos, que tentam amparar quando mais necessitam de amparo... Pessoas raras, não teria muitas para citar, mas a lembrança de uma prima muito querida surge diante de mim, com seu sorriso aberto emoldurando olhos de certa tristeza... Carinhosamente a chamamos de Belinha, um nome frágil para uma pessoa que sabe ser forte na vida. Folha que permanece verde, mesmo transitanto por um rigoroso inverno dessa mesma vida...
4 comentários:
DULCE, fiquei emocionada com a bele
za de seu texto. Realmente, existem
(poucas) pessoas como essas folhi-
nhas resistentes, apesar do constan
te ¨inverno¨ que a vida lhes ofere-
ce. Admiro e tenho o maior carinho
com gente assim.
Beijos
Paloma
São realmente pessoas dignas de serem admiradas, respeitadas, mas nem sempre são reconhecidas, não é mesmo?
Beijos e uma boa tarde para você.
Boa noite Dulce,
este seu texto é maravilhoso, tem a beleza natural da natureza e, em simultâneo homenageia alguém que lhe é muito querido.
Um beijinho para si e outro para a sua prima Belinha.
Ana Martins
Ave Sem Asas
Ana Martins
Obrigada, Ana, em nome da Belinha e em meu próprio nome. Beijos e uma boa noite para você.
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