(O vendedor de sorvetes, alegria da criançada nas tardes de verão)
O verão vai, aos poucos, despedindo-se das ruas, do bosque, das praças e jardins, desta temporada. Temporada que foi iluminada, quente, chuvosa e assustadora também, já que trouxe consigo o Irene, embora passando ao largo, mas mesmo assim causando seus estragos. E com o fim da estação acontecem as mudanças de hábitos, além de uma completa mudança na paisagem...
As crianças voltaram as aulas, os adultos retornaram ao trabalho, pois grande parte das pessoas costuma viajar em agosto, aproveitando as férias dos filhos. As ruas começam a receber coloridas e ressequidas folhas que vão lenta e mansamente caindo das árvores e que, em breves dias, acabarão por formar um lindo tapete sobre os gramados. E as temperaturas começarão a cair, mas cair assim como se estivéssemos atravessando nosso inverno mais rigoroso, lá em Sampa.
Entre outubro e dezembro, virou, mexeu, os termômetros marcam zero graus ao amanhecer e vai lá pelos quatro ou cinco graus ao entardecer. Hora de tirar os agasalhos das caixas e leva-los para os armários, colocando-os no lugar da roupa leve de verão que, por sua vez, será guardada e só voltará aos armários lá pelo final da próxima primavera. Mas, enquanto isso não acontece, vai-se aproveitando este restinho de calor.
Comprovando isso, todo final de tarde, lá vem o caminhão de sorvetes, passando lentamente pelas ruas, tocando sua musica característica, como um chamado para que as crianças corram até ele a fim de saborear um picolé ou um sorvete, com a mesma alegria que, décadas atrás meus filhos corriam para comprar sorvete num dos carrinhos da Kibon!...
Ora!... Mas porque cargas d'água deveria eu lembrar-me agora dos meus meninos correndo atrás de um carrinho de sorvete? Ah esses rasgos de memória que dançam dentro da gente, que assim sem mais nem menos trazem de volta momentos que supúnhamos esquecidos, dando-nos a impressão de que a vida se repete quando, na verdade, ela apenas se renova...
E lá se vai o carro musical apregoando suas delícias, pondo água na boca da criançada e saudade no coração dos mais velhos, que acabam cantarolando junto...
Twingle, twingle, little star,
How I wonder what you are.
Up above the world so high,
Like a diamond in the sky.
Twingle, twingle, little star,
How I wonder what you are!...