floquinhos

sábado, 28 de fevereiro de 2009

E LA SE VAI FEVEREIRO...


E lá se vai fevereiro...
Este mês passou como se estivesse atado a um rabo de foguete!... O ano mal começou e já estamos as portas de março. O povo aqui da terra costuma dizer que o ano só começa depois do Carnaval e deve ter alguma verdade nisso porque este mês que ora termina marca o auge do alto verão, temporada de viagens, praia, campo... marca o final das férias escolares e a maior festa popular. Como se pode ver, atrações demais para que “alguém em sã consciência” possa se preocupar com trabalho... pelo menos é o que parece. Então, agora não tem mais desculpa, agora há que se enfrentar o “batente”, há que se por a casa em ordem.

Assim, a partir de segunda-feira, as cidades (pelo menos as maiores) voltam a fervilhar de gente, os congestionamentos ficam insuportáveis e não tem mais hora para acontecerem, mas fica lá todo mundo já de olho na Semana Santa, próxima parada para um feriado prolongado, a Semana Santa que era de recolhimento, prece, religiosidade e que agora é apenas e tão somente mais um tempo para se por o pé na estrada, com raras, muito raras exceções.
Pois é!... E assim caminha a humanidade, assim caminham “as gentes” desse nosso amado país, de mudança em mudança, de feriado em feriado, de alegria em alegria, de tristeza em tristeza, cada um tentando apenas viver da forma que acredite ser a melhor para si, e o resto... Ora, o resto!...

C’est la vie!...

Dulce Costa
No último dia de fevereiro do ano de 2009

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

SOLIDAO... Quem define? (2)


(Fernando Pessoa)

Enquanto não atravessarmos a dor de nossa própria solidão, continuaremos a nos buscar em outras metades.


UMA NOITE EMBALADA PARA PRESENTE...


A noite está agradabilíssima, morna, calma... não sei se o céu está estrelado, não saí para olhar, confesso que bateu uma preguicinha, uma vontade de ficar no meu canto, terminar o livro que estava lendo e a esta hora a casa já em silêncio, todos já se recolheram, então não posso ficar vagando, abrindo portas ou janelas, pois não quero acordar ninguém. Posso, sim, imaginar uma noite lá fora, uma noite só para mim, para meus devaneios, para envolver meus sonhos...
E se for seguir os anseios de minha alma, esta noite inventada vai ter céu completamente estrelado e há de estar iluminada por um luar de blue moon. E vai haver vaga-lumes entre os arbustos do jardim! Vaga-lumes!!! Há quanto tempo não vejo um deles? E porque fui me lembrar deles agora? Ah, esta minha mente sonhadora!... Mas já que chegaram, eles ficam, acendendo e apagando, acendendo e apagando... Enfeitando a noite, como se fossem estrelas que se tivessem perdido, ou despencado lá do alto apenas para beijarem as rosas do jardim, para sentirem o perfume das damas-da-noite que espalhando-se pelo ar entra pela janela entreaberta, cujas finas cortinas ondulam ao sabor do vento suave que invade o quarto.
E a musica viria de uma casa vizinha... O som acariciante de um violino... Há aqui no condomínio uma ou duas casas de ciganos, e numa delas eu imagino um Wladimir, saído das historias da biblioteca cor-de-rosa dos meus tempos de adolescente, homem de pele trigueira, penetrante olhos negros, cabelos encaracolados caídos sobre a testa, porte esbelto, vestindo linda camisa de seda, que postando-se sob uma árvore, tirasse sons divinos das cordas de seu violino...
Então eu tenho noite estrelada, luar infinito, flores espargindo perfume pelo ar, brisa amena esvoaçando as cortinas da janela e um cigano ao violino para derreter corações... Eu tenho uma noite perfeita para... para que mesmo? Para mim? Ah, sim, claro, eu a criei para mim, mas... Para que?... Para mergulhar nela um coração cheio de saudades, uma alma que anda inquieta? Ah, uma noite assim é um perigo!...
Melhor empacota-la como se fora valioso presente e guarda-la no bauzinho de minhas memórias e esperanças. Um dia, quem sabe, pode passar pelo mundo dos meus sonhos uma alma a procura de uma noite perfeita para viver seus sonhos, uma alma que saberá viver essa noite com a ternura com que ela merece ser vivida... Então vou saber que ela não foi criada em vão...

Dulce Costa
Campinas, na madrugada do dia 27 de fevereiro do ano de 2009

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

SOLIDAO... Quem define?


(Vinicius de Moraes)

A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo, no absoluto de si mesmo,
o que não dá a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade, de socorro.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

SO UM PEQUENO COMENTARIO

Ontem fomos ao cinema... o filme? Slumdog Millionaire.
Não sou cinéfila, não tenho por hábito falar sobre filmes aqui, não saberia mesmo fazer um comentário, mas fiquei tão impressionada, que não posso deixar de recomendar que o vejam. Mas estejam preparados, porque é a demonstração da miséria humana, da degradação, da sordidez, da exploração do mais fraco pelo mais forte, do descaso dos poderosos, enfim, um retrato bem vivo de um mundo que tentamos fingir que nao existe e que está ali mesmo, no dobrar de uma esquina. Em alguns momentos achei que nem conseguiria ver o resto do filma, sentia-me oprimida, angustiada, amedrontada. E em meio a tanta podridão aflora pura, verdadeira, a força de um amor que redime. Um filme impressionante.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

NUMA NOITE DE TEMPESTADE...


O dia quente, muito quente, abafado, deu lugar a uma noite de tempestade. Trovões ecoando por toda a parte, relâmpagos iluminando a noite, a chuva que cai forte, benfazeja, refrescando o ar, lavando a cidade... O som da guitarra que meu neto toca lá na sala de musica, mistura-se ao ruído do vento balançando as árvores, ao barulho da chuva batendo nas janelas...
Na penumbra de meu quarto, enrodilhada na poltrona, o pensamento vagando, indo longe, acaba por trazer-me doces lembranças, despertando saudades de alguns momentos que foram tão especiais... E vou ficando triste, na medida que vou constatando minha solidão nesta noite de tempestade...
Mas as tempestades, como esta minha solidão, costumam durar pouco, e assim como a noite dá lugar ao dia, esta tristeza de agora estará convertida em serenidade ao amanhecer. E desse modo a vida segue seu rumo... E assim vou trilhando meus caminhos, vivendo momentos...

Dulce Costa
Noite de 23 de fevereiro do ano de 2009

I HAVE GOOD FRIENDS


Em-prosa-e-verso, todo prosa, recebe um carinho em forma de selinho que, orgulhosamente passa a ostentar na coluna da direita. Foi uma gentileza do excelente blog Cronicas do Rochedo, através de seu autor, Carlos Barbosa de Oliveira, lá da linda e querida Lisboa. Obrigada!

NA SEGUNDA FEIRA DE CARNAVAL...

Acordar com o canto atrevido dos bem-te-vis, abrir a janela e dar com um céu muito azul, um sol que vai entrando pelo quarto a dentro e um jardim bem cuidado... lembrar que é segunda feira, mas uma segunda feira de carnaval, e que a cidade está em paz, na santa calma das manhãs de feriado prolongado... É bom demais!...
Esta foi a noite da entrega do Oscar. Uma noite de sonho, um espetáculo sempre grandioso, a recompensa para o trabalho e o talento de quem nos encanta durante todo o ano nas telonas do mundo. Foi noite das escolas de samba do Rio mostrarem sua alegria no sambódromo. Foi uma noite e tanto! Uma noite para deixar o Brasil acordado. Assim, a segunda feira acorda meio modorrenta, apesar de iluminada, mas ao longo do dia ela vai se restabelecendo e se preparando para a noite que, de novo, vai ser de samba, carnaval, beleza e alegria, pelo menos na TV.
Aqui vou aproveitando para desfrutar da doce companhia dos meus amores, matar saudades, passear com eles pela cidade, talvez um cineminha, e nas horas de mais calma, um bom livro, uma rede na varanda, o sossego e a paz do momento.
E, Salve, Salve, Carnaval do Brasil...

Dulce Costa
Na ensolarada manhã de Campinas, do dia vinte e um de fevereiro do ano de 2009

sábado, 21 de fevereiro de 2009

NESTE DOMINGO DE CARNAVAL...


A máscara é só uma brincadeira...

Não sou carnavalesca, gosto mesmo é de sossego, paz, um bom livro, um bom filme, uma boa prosa...
Então vou aproveitar esses dias de "folia" para estar com meu filho, minha nora, meu neto e meus amigos lá de Campinas. Sampa está uma delícia, tranquila, iluminda por um maravilhoso sol de verão, mas a saudade dos meus amores lá da antiga "cidade das andorinhas" anda machucando este coração de mãe... Assim, lá vou eu pegar uma estrada, apenas uma horinha de viagem. Mas lá, como aqui, meu blog continua aberto, prontinho para receber amigos, mandar recados, viajar pelo mundo...
Bom carnaval para todos.

Dulce Costa
Nesta ensolarada manhã de domingo do carnaval de 2009


QUANDO A FLOR É UMA ROSA...

SÓ PELO NOME

(Thiago de Mello)

Que a flor só passa a ser rosa
e só atende e só vem toda cheirosa
quando a poesia a chama pelo nome

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

CARNAVAL (AINDA) ALEGRIA DO POVO

Uma sexta feira esplêndida, um sol maravilhoso inundando a cidade nesta véspera de carnaval.
E quase todo mundo em ritmo acelerado. Os carnavalescos, agitadíssimos, samba no pé, fantasia esperando no cabide, não vendo a hora de sair na avenida, de ir para os clubes, de extravasar a alegria contida durante todo o ano. Os que aproveitam os feriados para viajar, malas prontas, olho no relógio esperando ansiosamente o final do expediente, para por o pé na estrada. E os que gostam de sossego, os que como eu amam a cidade mais vazia, quando se pode passear mais tranquilamente, sem os grandes congestionamentos, quando os cinemas, restaurantes, teatros e museus (quando abertos), parques e jardins, shoppings, ficam mais tranqüilos, já antevendo a delícia que fica nossa Sampa num feriadão, vão fazendo planos para aproveitar cada momento.

Uma nova forma de se viver um carnaval, bem diferente dos carnavais de outrora, quando as ruas se enchiam de blocos, cordões, música alegre ecoando pelo ar, confetes, serpentinas, o lança-perfume que era vendido livremente e que até as crianças podiam ter - e sabiam que era só para jogar nos outros, provocar aquele geladinho típico, e era o que faziam - os bailes nos clubes, as escolas de samba aonde os participantes chegavam para mostrar sua ginga, tudo muito mais lúdico, menos comercial, menos sensual, mais alegria, povo, Brasil.

Mudaram os carnavais com a mudança dos costumes do povo. Hoje um espetáculo teatral, grandioso, transmitido para o país e o mundo pela TV, numa exibição de luxo e sensualidade, de muita beleza, cores, luzes, alegria programada. Meus pais falavam dos corsos na Avenida Paulista, minha sogra falava dos blocos de rua em Minas, aonde as famílias se integravam com alegria. Eu me lembro das ruas cheias de gente desfilando lindas fantasias,, a caminho dos bailes (que meu pai nunca me permitiu freqüentar), de alguns desfiles de escolas de bairro, mas principalmente da alegria que tomava conta da cidade. Imagino que no Rio, em Salvador, e em muitas outras cidades, um ritmo alucinante já se faça sentir, mas em São Paulo, a vida parece manter sua rotina.
Então, aos carnavalescos de plantão, um maravilhoso carnaval, com muita alegria e... moderação (cuidem-se) e aos não carnavalescos, boa viagem, divirtam-se, descansem, aproveitem cada momento. Aos que ficam em Sampa, curtam muito nossa querida cidade, procurem descobrir lugares novos, revisitar os antigos, enfim, que seu carnaval seja deliciosamente vivido...


Dulce Costa

Na sexta feira, véspera do carnaval de 2009,

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

ACEITANDO UM DESAFIO

O Carlos Barbosa de Oliveira, como um desafio, pediu-me que contasse seis particularidades de minha personalidade. Então, vamos lá...

- Gosto das madrugadas, porque é nelas que me percebo melhor. É quando, em profundos mergulhos dentro de mim mesma, procuro decifrar minha alma, encontrar respostas, tentando saber quem realmente sou. Costumo caminhar pela casa em penumbra, ouvir música, conversar com as estrelas (se houver), para depois me encantar com o nascer do sol.
- Não durmo sem ter lido uma página, um capítulo ou até mesmo um livro inteiro... Já se imagina que isso por vezes resulte em noites em branco.
- Adoro um bom e suave perfume. Não preciso de roupas caras, de jóias, mas não saio sem duas gotinhas de meu “francesinho”.
- Não suporto mentiras, abomino hipocrisias. Uma verdade, ainda que doída, sempre pode ser entendida.
- Fazer amigos, para mim, é um raro prazer; conservá-los é um jeito de ser, de viver, já que os considero preciosos presentes que a vida me oferece.
- Sou extremamente pontual, o que faz de mim uma pessoa que vive esperando, pois hoje, pelo menos por aqui, cultiva-se o péssimo hábito de se fazer esperar. Principalmente em São Paulo, aonde os constantes congestionamentos de trânsito servem como desculpa perfeita para todo e qualquer atraso.

Cumprida minha parte, devo agora passar o desafio para outras pessoas, então escolhi: Lourdes, Aninejf, Fafi, Ney, por enquanto.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

A ROSA É UM JARDIM

(Carlos Drummond de Andrade)

A rosa é um jardim
concentrado
um clarim
de cor, anunciando
a alvorada fogosa
e o tempo iluminado.


terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

UM JARDIM DE VASOS: ERVAS E TEMPEROS

Regando os vasos de ervas para tempero de meu terraço, fico lembrando meus tempos de menina, quando minha mãe cultivava carinhosamente um pequeno jardim de vasos, com ervas medicinais.
Havia um enorme terraço na parte de cima de nossa casa, aonde
minha mãe colocara vários caixotes de madeira, como enormes jardineiras, nos quais plantava melissa, poejo, hortelã, losna, boldo, e outras ervas cujos nomes não me lembro, ao lado de latas (daquelas antigas, de óleo, de vinte litros) que serviam de vasos para lindas flores também por ela cultivadas. As flores eram por puro prazer, pelo belo que elas colocavam em seus dias, mas as ervas eram utilidade naqueles tempos em que médicos eram raros e caríssimos; a medicina ficava longe do alcance das pessoas menos favorecidas.
Havia uma linha seguida então. Primeiro tentavam-se os remédios caseiros, os chás de ervas, os ungüentos, as compressas - por exemplo, quando uma criança tivesse dor de garganta, fatalmente acabaria com um pano embebido em álcool (misturado a igual quantidade de água), em volta do pescoço. Os antigos diziam que era um santo remédio.. e/ou então tinham a garganta, as amígdalas, pinceladas com uma solução de iodo. Já um adulto, com dor de cabeça, alem da aspirina, teria um lenço a envolver-lhe as têmporas segurando junto a elas e no centro da testa, três generosas fatias de batata crua - diziam que tirava a dor como se fosse com a mão (será?). Se com o tratamento caseiro o doente não melhorasse, recorreriam ao farmacêutico do bairro, que depois de anos tratando da vizinhança, acabava tarimbado, sabendo tudo (ou quase tudo) sobre as doenças mais comuns. Se de todo o farmacêutico não resolvesse, ai não tinha jeito... era chamar o médico, também do bairro, que vinha com aquela sua misteriosa malinha, impondo respeito, olhado quase como um semi-deus... Era o DOUTOR!... que como as professoras de então, mereciam toda consideração, admiração, gratidão de uma população formada por gente humilde, ordeira, trabalhadora, lutadora, que só esperava da vida o que a vida pudesse lhe dar. Aí, se fosse urgente e necessário, o doente seria encaminhado a um hospital público, que eram bem pouco numerosos.
Essa imensa rede hospitalar que temos hoje, cortando toda a cidade, com toda a sorte de especialistas vinte e quatro horas por dia, atendendo pacientes particulares ou conveniados, não passava nem pela cabeça daquela gente... Eram outros tempos...


Dulce Costa
Na tarde de dezessete de fevereiro do ano de dois mil e nove

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

MARAVILHOSAMENTE LIVRE!...



Suas palavras não mais me enternecem

Não fazem mais pouso em meu coração.


Alcanço voo, vazia.

Porém, dona de mim

e de minha razão.


(Fátima Reis)

http://Fatima-reis.blogspot.com

UM FINAL DE SEMANA E TANTO...


A cidade amanhece encharcada pelas chuvas de ontem.
O final de semana foi muito gostoso, netos em casa, revolucionando minha paz, revertendo minha ordem, mas pondo alegria em meu coração com suas alegres presenças. Bia está já uma moça, dezessete anos, toda compenetrada de sua autoridade de irmã mais velha que ajuda a cuidar dos irmãos... Amante dos livros, está sempre lendo, gosto apurado para a musica, ajuda no projeto de alfabetização de adultos da escola aonde estudou, e ainda, é bonita!... Ah!, a avó-coruja derrete-se toda. Gabriel, mais voltado para os esportes, aos treze anos já bem alto, olha a pobre da avó lá de cima (rs), um garoto carinhoso, doce, sempre com um sorriso lindo no rosto, seu violão é companheiro. César, é um garoto decidido, tem lá seu estilo, parece querer desafiar o mundo, mas mantem-se nos padrões. Os vídeos-games são sua paixão e está sempre perguntando alguma coisa, numa curiosidade sem fim, para seus dez anos de idade.
Em fins de semana alternados ficam aqui conosco, e vê-los em volta do pai, senti-los amigos, felizes por estarem juntos, faz um grande bem ao meu coração.
Chegam no sábado lá pela hora do almoço, o pai vai busca-los, e vão se esparramando pela casa, num alarido, falando, contando coisas, vão largando mochilas pela sala e lá vai a vovó atrás exigindo que levem as coisas para seu quarto, vão tirando os calçados, pondo os pés no chão – e a avó nem pode repreende-los porque seus pés também andam sempre descalços quando esta em casa – querem logo saber o que o pai (amante da gastronomia) vai preparar para eles, mas em seguida cada um toma seu rumo, o César vai logo ligando seus games na TV, o Gabriel vai a cata de um programa esportivo e a Bia, IPod ligado ao ouvido, enrosca-se na poltrona e mergulha na leitura. A hora do almoço é sempre agradável, depois vem a sobremesa e o sentarmos todos na sala para bater papo, trocar idéias, meu filho e meus netos ao violão sempre alegram a tarde. Depois volta cada qual para seu canto, e assim o sábado transcorre,. Algumas vezes optamos por almoçar fora, ou sairmos para um passeio. Eles adoram ir ao bairro oriental (Liberdade) ou a uma livraria no shopping.
O domingo tem mais ou menos a mesma rotina, e costumam ir ficando noite a dentro, só voltando para sua casa lá pelas nove da noite.
E quando eles saem, deixando uma baguncinha considerável na casa, uma avó cansada de andar para lá e para cá, mas feliz pela companhia de seus amores, que lhe preencheu o final de semana, fica a casa parecendo maior, vazia. E assim vou convivendo com os netos que moram em Sampa. Já na próxima semana vou poder conviver com o Neto que mora em Campinas, o Caio, mas conto quando lá estiver, fico por lá durante o Carnaval.. Como deixo para falar dos meus netos gringuinhos em final de março, quando devo voltar a Boston, para mais um tempinho com eles.
Bom, depois de um fim de semana agitado mas feliz, uma segunda-feira de organizar a casa, pôr ordem na bagunça... Então lá vou eu pôr mãos a obra, junto com a Nilda, minha “fiel escudeira”... rs...

Dulce Costa
Na manhã de dezesseis de fevereiro do ano de dois mil e nove

domingo, 15 de fevereiro de 2009

NA TARDE DE DOMINGO...

(Clique na imagem para amplia-la)

Das janelas de casa, um olhar sobre o bairro, na tarde de domingo...

MAIS UMA VEZ, SOLIDAO...


A noite avançava lentamente e, na casa em silêncio, ela procurava caminhar suavemente, para não despertar quem dormia. Sentiu o frescor da noite que entrava pela porta entreaberta do terraço e ao transpô-la, descalça, foi sentindo o frio das pedras sob seus pés, enquanto uma leve sensação de frio parecia envolve-la toda... Mas não era provocada pelo frio que vinha do chão ou pelo vento brando que agitava seus cabelos... Era um frio que parecia vir lá de dentro, do fundo do seu coração, oprimido que estava pela saudade, pela ausência, pelo vazio que a circundava...
Durante todo o dia estivera ocupada, tantas tarefas, fora avó, fora mãe, mas naquele momento era apenas ela mesma, era alma, coração, mulher solitária, carente de afeto, de uma mão que acariciasse a sua, de um ombro aonde pudesse encostar a cabeça, de uma voz que lhe falasse de perto, mansamente, contando coisas, inventando momentos, de um riso alegre que iluminasse um rosto amado, de um olhar doce, que a fizesse sonhar, sempre. E, no entanto, sabia que era tarde, muito, mas muito tarde para esses devaneios. Tinha consciência de que seu momento já passara.
Ele chegara a sua vida em tempos de solidão e preenchera seus momentos com sua doce presença, com seu afeto, seu carinho... Tão diferente em seu modo de ser, de trata-la... Vendo nele o alguém por quem esperara durante toda a sua vida, abriu sua alma, deixou-se levar pelos sentimentos, sem se dar conta de que se para ela ele significava tudo, era a própria realização do sonho de encontrar alguém que, semelhante a ela, a completaria, para ele ela não fora mais do que um encanto passageiro... E seu tão sonhado momento ficou incompleto, partido entre tantos enganos, extraviado num labirinto de circunstâncias, de encontros e desencontros, de mal-entendidos...
E lá estava ela, de novo, coração apertado, alma em pedaços, sem rumo, tentando reencontrar-se novamente, buscando forças para mais uma vez recomeçar seu caminho na solidão que lhe fora determinada pela vida. E a noite seguia seu rumo, avançando pela madrugada chuvosa e triste... Tão triste como ela que só quisera encontrar um carinho, um aconchego para sua alma e tudo o que encontrara fora uma muito maior solidão em seus caminhos...

Dulce Costa
Na madrugada do dia quinze de fevereiro de 2009

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

AS FLORES DE MEU TERRAÇO

(clique na foto para ampliá-la)

Quando voltei ao ninho, depois de seis meses de ausência, encontrei meu terraço todinho cheio de flores que meu filho arrumou para me fazer uma surpresa. Além de lindos e utilíssimos vasos de ervas, encontrei primaveras, violetas, brincos-de-princesa, flores-de-maio, e orquídeas... Um verdadeiro jardim de vasos que me encanta e torna meu momento "café-da-manhã no terraço" muito mais agradável.

UMA PAIXAO, SEMPRE VALE A PENA?


Quantas vezes uma mulher pode se enganar, confundir seus sentimentos, premida pela solidão?
Ela sempre fora sonhadora, alma inquieta e mesmo nos momentos mais serenos e estáveis de sua vida sentira pulsar dentro de si uma ânsia incontida, como se estivesse a espera de alguém que lhe trouxesse desconhecidas emoções, que lhe abrisse novas perspectivas.
Numa realidade tranqüila, aonde aparentemente conformada seguia sua vidinha sem sobressaltos, foi vendo o tempo escoar-se por entre seus dedos, foi cumprindo seus dias, percorrendo seus caminhos, guardando para si, em forma de sonhos, seus anseios, sua inquietude.
Vivera um amor sereno, criara seus filhos, vira nascer os netos, e se fisicamente a passagem do tempo, os embates da vida, tinham deixado suas marcas, o mesmo não acontecera com sua alma, que continuava inquieta, sentindo-se plena, ainda a espera de uma chegada que lhe preenchesse os vazios, que lhe iluminasse os momentos, que lhe trouxesse emoções, as mesmas que sempre buscara nas páginas dos livros que tanto gostava, nos filmes que a encantavam, nos sonhos que trazia dentro de si, sem perceber que com isso criava uma perigosa armadilha para si mesma.
Porque carente, sonhadora, era presa fácil para quem procura apenas distrações, apenas passageiras aventuras que venham a preencher uma vida vazia, insípida, pequena, alguém que não se importando com os sentimentos alheios, não tenha aprendido a respeita-los. Porque tola, ingênua, acreditava na sinceridade das pessoas. Porque mulher, ressentia-se por não ter vivido uma grande, louca paixão, ainda que não admitisse nem a si mesma esse incontido desejo...
E agora, ali diante de si mesma, prestava contas a vida por ter sido tão descuidada, por ter permitido que sua alma se abrisse e soltasse todo aquele emaranhado de sentimentos, sonhos, ânsias, desejos que tão cuidadosamente guardara para si, durante toda uma vida...
E o preço que teria que pagar por um vão momento de encantamento seriam noites e noites de maior solidão, de maior angustia, agora permeadas de frustração, de um cruel desencanto, de um sentir-se tola, ridícula, mal amada, como se fora a única mulher na terra a ter servido de brinquedo a uma criatura insensível, egoísta, pequena...
Tentei explicar-lhe que não fora a única a se deixar levar por essa ânsia, essa inquietude, faze-la ver que nós, mulheres, somos pura alma em busca de carinho, de afeto, e que isso faz de nós criaturas frágeis, expostas aos enganos. Mas seria preciso que ela chorasse todas as lágrimas que seu coração represara, que desse vazão ao que lhe esmagava a alma naquele momento para que, só depois, já mais serena, conseguisse entender que vivera mais um capitulo de uma vida agora mais completa porque aprendera que a paixão, mais do que encanta, aprisiona, esmaga, sufoca...
Aprisiona, esmaga, sufoca, sim... Mas apesar de tudo, vale muito a pena senti-la, vive-la., para mais tarde, quando de volta a serenidade que sempre chega, poder revive-la, como momento único e inesquecível em qualquer vida, porque tenho em mim que ninguém vive uma vida por inteiro sem ter vivido uma grande paixão...

Dulce Costa
Na chuvosa manhã do dia 13 de fevereiro do ano de 2009

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

NUMA TARDE DE MUITO VENTO...


Tarde cinzenta de final de verão, o vento dobra os galhos das árvores, encrespa a água da piscina do prédio ao lado, carrega um ou outro pedacinho de papel que tenha ficado jogado na rua, e só não levanta a saia da moça, porque a moça não usa mais saia...
Nos tempos de antanho, um vento como esse era a alegria da rapaziada que ficava nas esquinas, nas portas dos botecos, sem ter muito o que fazer, em quase todo final de tarde. Tempos sem computador, pouca TV... DVD? Nem sonhar! Futebol de várzea, somente nos finais de semana, bairro pobre, cultura pouca, poucos livros, então que é que lhes restava fazer para matar o tempo? As longas, intermináveis conversas de porta de bar, de beira de esquina, o ver passarem as meninas que saiam das fábricas, que voltavam das escolas, ou as que simplesmente, passavam por passar, passavam porque sabiam que seriam olhadas...
E a mulher era quase um mistério para aqueles garotos. Ao contrario de hoje, quando as meninas tem total liberdade para usar e abusar das mini-saias, das calças de cintura baixa, dos shorts e bermudas, das blusas minúsculas, decotadas, batas soltas tomara-que-caia, as garotas de então eram vestidas com saias no mínimo uns dez a quinze centímetros abaixo dos joelhos, decotes comportados em blusas quase sempre com mangas,
Dessa forma os meninos empolgavam-se ao simples avistar de um lindo par de joelhos, e a suprema glória eram as tardes de ventania, quando uma rajada mais forte fazia subirem as sais rodadas tão em uso na época... Eles ficavam mudinhos, fingindo que nem tinham visto, mas sem perder um tiquinho de nada do espetáculo que eram aquelas rodadas saias voando, fingindo-se de comportados, para não constrangerem as garotas que aos gritinhos seguravam as rebeldes dobras de pano que subiam ao sabor da ventania, demonstrando um embaraço que nem sempre sentiam... Sabiam que eram belas...
Ah, o jogo de sedução dos jovens de outrora... Eram olhares, sorrisos, piscadelas de olhos, meneios de cabeça, pequenos sinais, que se estendiam por meses, as vezes, até o rapaz resolver que já era tempo de se aproximar e começar um namoro. Cabia as meninas esperarem que os meninos se manifestassem... Elas eram obrigatoriamente recatadas... E aquela que fosse mais atrevida, mais atirada, perderia a chance de ser levada a sério. Era cultural, era uso e costume do local, do tempo...
As mudanças foram radicais. Hoje as meninas vestem-se com leveza, mostram-se atraentes e descontraídas dão o primeiro passo quando lhes interessa a companhia de alguém, conhecem um certo grau de liberdade – muitas delas tem até liberdade total para levar seus dias como bem entendam, namoram o quanto querem, são bem mais senhoras de suas escolhas.
Melhorou? Piorou? Sabe-se lá. Como tudo costuma ser produto da época, dos costumes do momento, sempre deve haver que diga que melhorou muito. Mas sempre haverá também alguém que se lembre com saudades da emoção que coisas tão simples causavam nas almas jovens de então, e esse alguém certamente vai dizer que “aquilo é que eram tempos”... Podemos concluir dai que não melhorou nem piorou. Apenas mudou, como tudo o mais que existe na vida...

Dulce Costa
Na tarde do dia 12 de fevereiro do ano de 2009

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

A PALAVRA E EU - Será que nos entendemos?


Thiago de Mello encerra seu “A palavra desconfia” com os versos:

“Estrelada, a palavra se insinua,
me deslumbra, mas quando quero tê-la,
ela se esquiva, mal permite a pele
e inefável me espia impenetrável.”

Se ele, poeta de primeira linha, briga com a palavra, tem lá seus dias em que ela lhe foge, imaginem só a minha dificuldade... Eu, escrevinhadora muito amadora, que só tem como tema as coisas do coração... Imaginem como me sinto em determinados dias quando, sentada aqui diante desta telinha tento transpor sentimentos que se fecham, pensamentos que se calam, emoções que se encolhem... Percebo-me envolta por uma nuvem que me embaralha as idéias, dando-me a sensação de inexplicável cansaço, perdida num labirinto escuro e aparentemente sem saída, de embotadas palavras que surgem sem sentido, sem rumo
Fecho os olhos e procuro no passado, próximo ou distante, algum enlevo, alguma história que mereça ser contada, mas parece que tudo já foi dito, pelo menos tudo o que poderia ser significativo, poderia despertar interesse. Olho em volta e o dia se faz num marasmo, num cinzento imperdoável. Mesmo o sol que entra pela janela parece esmaecido. Busco dentro de mim uma noite estrelada, um imenso luar sobre as águas do lago, mas sinto que chove lá fora... Relembro amores vividos ou sonhados, e eles me parecem tão sem sentido, assim perdidos na distância que o tempo interpôs entre nós.
Reconheço que hoje a palavra está de mal comigo e preciso respeitar-lhe a vontade. Pode ser que mais tarde, ou amanhã talvez, ela chegue generosa, fácil, iluminada, e aí então eu consiga, numa conversa comigo mesma, contar coisas da vida, da alma, de mim.. Por enquanto, volto aos livros - afinal há uma pilha deles bem razoável à espera de serem lidos, aqui ao meu lado - onde a encontro traduzindo emoções, encanto, onde aprendo a conhecê-la melhor, a usá-la com propriedade, a fazê-la minha amiga.

Dulce Costa
No dia onze de fevereiro do ano de 2009

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

DO OUTRO LADO DO ESPELHO


Olha-se no espelho e não se reconhece. Não se vê na imagem que ele lhe devolve, implacável, insensível ao seu espanto... Não! Aquela mulher de ar cansado, trazendo no rosto as marcas do tempo, os cabelos sem brilho, sem aquele caimento que lhe emoldurava o rosto realçando a delicadeza de seus traços, nada tinha a ver com a menina que cantava dentro de si. Aquele brilho que vislumbrara no olhar não combinava com o resto da imagem que via refletida no espelho. E o sorriso luminoso foi se apagando, dando lugar a um sorriso triste...
Ainda há pouco, antes de se voltar para ele, não era mais do que uma menina deslumbrada pela possibilidade da volta do amor em sua vida, coração meio descompassado, rosto iluminado por um sorriso que lhe vinha da alma, e ganhava vida nos lábios que sentia juvenis, olhos brilhando, enxergando um futuro pleno de emoções. Nas mãos trêmulas, um cartão com uma doce mensagem. Sobre a mesa, uma rosa, entreaberto botão, vermelho como sangue, significando a possibilidade de um novo sonho. O último, talvez, de uma vida que fora povoada de sonhos impossíveis, irrealizáveis, tristes ou doces lembranças que ela, cansada de frustrações, fechara no fundo de seu coração, disposta que estava a não mais sofrer, a não mais sentir a dor da desilusão, a mágoa da inconstância, o sufocar de uma saudade imensa.
A vida sempre lhe pregara peças, sempre a colocara diante de pessoas que ao final acabavam por partir, muitas vezes sem nem dizerem porque, tanto que ela findara por acreditar estar nela o problema... Mas era tão difícil imaginar que não houvesse alguém capaz de amá-la de verdade, num amar verdadeiro, duradouro, sincero, amigo, cúmplice, que conseguisse suplantar diferenças, vencer o tempo...
E agora ali, diante do espelho, uma dualidade dentro de si, uma dúvida que a fragilizava: valeria à pena arriscar mais uma vez, tentar encontrar sua outra parte, ceder aos apelos de sua alma inquieta e abrir os braços para a vida, para o possível amor? E se o fizesse, teria forças depois, se mais uma vez ficasse demonstrado que não nascera para ser amada, para ser feliz? Teria como superar essa decepção?
Volta as costas para o espelho, vira-se de frente para sua alma. Caminha até a janela e fica olhando a chuva que cai sobre a cidade, desejando que ela caísse também sobre sua alma, lavando-a das dúvidas, dos temores... O toque do telefone tira-a de seus pensamentos. Sabe que é ele, em busca de uma resposta. Um profundo suspiro escapa de seus lábios enquanto, decidida, dirige-se à sala ao lado para atender ao telefone...
A noite cai sobre a cidade... A chuva continua...

Dulce Costa
Em São Paulo, no dia dez de fevereiro do ano de dois mil e nove.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

DEZ MINUSCULAS LETRAS A NEGRO...


Uma linda orquídea branca, como um último carinho. No cartão, apenas duas palavras, frias, cortantes como se fossem a afiada lâmina de uma adaga. - Beijo Adeus. - “Dez minúsculas letras a negro sobre a desolada superfície ocre do papel”, não mais que isso, que bastavam para definir o fim de um sonho, a tristeza de uma alma, o vazio que envolveria sua vida, a ausência que seria sempre presença em seus dias...
Ele sempre se valera da delicadeza, da beleza das orquídeas como mensageiras de seu carinho, de seu amor; sempre fizera delas o arauto de sua felicidade, enviando-as, invariavelmente, após cada significativo momento. As lilases vinham depois de um doce momento de amor, as amarelas chegavam quando havia alguma mágoa, algum desencanto, as brancas, quando estando longe, sentia saudade...
A que retinha agora entre as mãos, e que mal podia enxergar através dos olhos banhados de lágrimas, a mais linda de todas as que já recebera, trazendo um último beijo, o definitivo adeus, carregava em suas delicadas pétalas toda uma história de amor, de carinho, de perdão, e uma estraçalhadora renúncia, um “nunca mais” que a jogava na mais dura e cruel realidade... Realidade que ela teria que enfrentar, que superar, custasse o que custasse, ela bem o sabia, mas naquele momento, seu mundo interior completamente desfeito, o chão parecendo sumir sob seus pés, sentindo-se imensamente só, como se fora a última criatura viva sobre a face da terra - e nem se sentia viva - enrodilhou-se em seu sofá predileto, esmagando a delicada flor entre seus dedos crispados e dando vazão ao desespero que lhe invadia a alma, lançou-se num pranto que parecia sem fim, que só findou quando, vencida pelo cansaço, adormeceu ali mesmo, sem perceber que o sol nascia radiante, lá fora, e que a vida continuava, imutável, apesar de sua dor.

Dulce Costa
(09/02/2009)

Este texto foi o resultado de um desafio lançado pela amiga Aline C Costa, o de criar uma poesia a partir de uma frase de um determinado livro. No post abaixo, o desfio que espero ter conseguido vencer, feito em prosa, já que não sou poeta.

UM INSTIGANTE DESAFIO


Recebi de minha gentil amiga, Aline C. Costa, do blog Poesia: Expressão da Alma, um convite para executar as seguinte tarefas:

1 - agarrar o livro mais próximo;
2 - abrir na página 161;
3 - procurar a 6ª frase;
4 - colocar a frase completa no blog;
5 - produzir um texto com a frase;
6 - repassar a "tarefa" para 5 pessoas.

O livro que tinha mais próximo de mim, pois é o que estou lendo agora, é “As mulheres de meu pai” do escritor angolano José Eduardo Agualusa, e a sexta frase da página 161 é:

"Dez minúsculas letras a negro sobre a desolada superfície ocre do papel."

Como não sei fazer poesia, digo em prosa o que me inspirou essa frase, por si só uma poesia, e deixo na postagem acima, para que quiser ler o texto completo.

“- “Dez minúsculas letras a negro sobre a desolada superfície ocre do papel”, não mais que isso, que bastavam para definir o fim de um sonho, a tristeza de uma alma, o vazio que envolveria sua vida, a ausência que seria sempre presença em seus dias...”


Agora convido os seguintes amigos para a superação da escrita do improviso:

http://cronicasdorochedo.blogspot.com/ - Carlos Barbosa de Oliveira (A espera)
http://fatima-reis.blogspot.com/ - Fátima Reis (Desafio cumprido) -

Em (24/02/2009), revendo esta postagem constato que três outros blogueros desafiados sequer responderam, então considero como desafio não aceito por eles.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

UM ACALANTO PARA MINHA ALMA...

(Para Affonso, sempre amigo, sempre gentil, que pacientemente, dia a dia, vem ler meus escritos...)

Fazia tanto tempo que não tinha uma noite tão feita para o descanso... Depois de um sábado de rever amigas queridas – afinal, tantos meses fora do meu canto – a noite chegou com uma sensação de cansaço, uma necessidade de me recolher, apagar a luz, fechar os olhos e mergulhar num sono sem sonhos, benfazejo, reparador. E me surpreende acordar na madrugada, totalmente desperta, mas em paz com a vida e comigo mesma...
Acabo por constatar que, na medida em que vou caminhando pelo tempo, minhas necessárias horas de sono tendem a diminuir, como se, inconscientemente, quisesse aproveitar, prolongar, o tempo que ainda me resta para caminhar, um tempo cada vez mais precioso, cada vez mais cheio de descobertas, de momentos meus.
Na verdade, toda a tensão, os temores, as dificuldades dos últimos meses, todo o estresse a que me senti submetida e que apesar de diminuído, ainda não passou de todo, vinham me mantendo num ritmo que não é o meu. A volta ao ninho, ao canto, ao aconchego, foi aos poucos me reestruturando, e desde o meu retorno, o contato com pessoas queridas, em momentos de matar saudade, foi me trazendo de volta a mim mesma. Assim, olhando para trás, pesando os acontecimentos todos, e sentindo que a vida se encaixa de novo em seu lugar, um grande alivio começando a me envolver, baixou o tal cansaço, de vez, levando-me a uma daquelas noites despreocupadas e feitas para se dormir em paz.
Um sono de criança que adormece sem medo do bicho-papão... Esse temível ogro que, a medida em que vamos crescendo e em que vamos acreditando que não existe, vai se recolhendo, escondendo-se dentro de nós sob novas formas e que, sempre pronto para atormentar-nos, pega-nos de surpresa em noites de angustia. Parece adquirir aspecto próprio e diferente em diferentes momentos e, assim, cada um de nós vai carregando pelas noites da vida seu bicho-papão... Por isso precisamos tanto de um acalanto, de uma canção de ninar cantando dentro nós, acalmando nossas almas. Um lulubay que afugente de nós os temores, os medos do porvir, as incertezas, os desamores, as angustias, as inseguranças, a solidão, as dores reais ou imaginarias, ou seja lá qual for a forma que nosso bicho-papão tenha tomado para nos assombrar.
E meu acalanto desta noite foi o conviver com pessoas queridas, o carinho recebido delas, a amor sentido em cada gesto, a alegria refletida em cada olhar, a certeza de se estar entre pessoas para as quais fazemos alguma diferença, pessoas que para mim fazem toda a diferença do mundo... Meus filhos, meus netos, meus amigos... os que estão aqui, pessoalmente e os que estão longe, através da magia do computador, do telefone... Todos muito presentes, muito queridos. Meu acalanto, minha paz, meus amores, meus amigos...

Dulce Costa
Madrugada de domingo, dia oito de fevereiro do ano de 2009


sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

HAICAIS - Uma delicada forma de poesia

De Bachô (traduzidos)

Acorda, acorda,
vem ser minha amiga
Borboleta que dorme
.......

Por este caminho
ninguém mais passa.
Tarde de outono.

De Guilherme de Almeida

Romance

E cruzam-se as linhas
no fino tear do destino.
Tuas mãos nas minhas.

O pensamento

O ar. A folha. A fuga.
No lago um círculo vago.
No rosto uma ruga.

O CANTO DO AMANHECER


Gosto de ver o amanhecer. Fascinam-me os tons de que se cobre o horizonte aos primeiros raios do sol, o ver a cidade ir aos poucos mostrando sua cara, o apagar das luzes nas janelas das casas, prédios e ruas, cada ruído característico que vai preenchendo o espaço... O canto dos pássaros... Não é incrível que numa cidade como São Paulo possamos ainda acordar com o canto dos pássaros? Eu tenho cá, nas proximidades de minha janela uns bem-te-vis que enchem minha manhã de alegria com seu alarido e nem preciso abrir os olhos para saber que já está se fazendo dia; eles mo anunciam...
Mas há as manhãs de chuva, as manhas cinzentas, quando o canto dos meus bem-te-vis parece mais triste, quando a cidade parece chorar... E no entanto, ainda assim, há beleza. Há tanta beleza no refletir das luzes no chão molhado, nas pequenas poças d’água formadas nos cantos das calçadas nem sempre bem cuidadas, no meio-fio das ruas, nos telhados das casas mais baixas ... E em ver através da vidraça a chuva caindo mansamente. Por vezes perco-me de mim mesma num amanhecer de chuva e ali, diante da janela, olhos mergulhados no cinza que se espalha a minha frente, surgem outras manhãs, as da minha infância, quando só pensava que a chuva pudesse atrapalhar minhas brincadeiras de rua e ainda assim, já gostava dela. Adorava correr na chuva, mergulhar meus pés descalços nas poças d’água, para desespero de minha mãe que lamentava a filha gostar tanto de andar “de pés no chão” – hábito que ainda carrego comigo; ando sempre descalça, gosto de sentir o chão, a madeira do assoalho, a textura dos tapetes, o friozinho dos ladrinhos, das pedras lisas do terra;o... E volto as manhãs de minha adolescência, quando aproveitava aquele cinza para “me sentir triste”, querer chorar, sonhar, como cabe a qualquer adolescente – ou pelo menos cabia, lá nos meus “antigamente”... Passeio pelos amanheceres de minha juventude, quando o romantismo dominava cada momento de meus dias e, ao abrir as portas da sacada de meu quarto e deparar com a chuva caindo sobre os paralelepípedos da velha rua punha-me a imaginar a doçura de se estar com alguém especial numa manhã de chuva... Sempre fui sonhadora, que fazer?
E volto a mim com a certeza de que , em que pesem as diferentes maneiras de sentir o momento em manhãs assim, elas sempre me foram caras. Tão caras quanto as minhas manhãs de sol, como esta que agora se espalha diante de meus olhos maravilhados...

Dulce Costa
No amanhecer do dia seis de fevereiro do ano de 2009

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

MEUS POETAS DO CORAÇAO - Helder Macedo


Não é bastante

que eu reconheça minha solidão
e a queira como início de um caminho.
Não é bastante
ser livremente tudo quanto sei
e estar aberto a tudo que serei.
Tudo o que fui e o que sou e o que serei
já são iguais
no tempo do meu modo ignorado.
Quero abrir o que as palavras não descrevem
para já não responder ao sim e ao não
do meu espelho conhecível.
Já não me basta apenas dar um nome
a morte que me cabe enquanto vivo
porque morrer é ter perdido a morte
para sempre
tornando sem sentido o sim e o não
com que me circundei e defini-me.
Conheço-me as fronteiras.
Quero o resto.

NA MADRUGADA, DEVANEIOS...


Bom acho que esta vai ser mais uma noite entre livros, musica, chás, lembranças... Dessas noites em que a alma inquieta pede licença para sair, atravessar oceanos, cruzar hemisférios, vagar pela noite a dentro sem rumo, sem planos pré-estabelecidos, apenas sentindo o gostinho da liberdade, sentir que não ha amarras a prender-lhe os movimentos, voar como se fora uma águia, indomável, forte, senhora dos ares... Ah, mas que alma mais ridícula esta minha!... Uma águia!!! Não me faltava mais nada! Primeiro porque todo mundo que me conhece sabe bem que “TENHO MEDO DE PASSAROS”... Um medo supostamente atávico, que não explico, nascido comigo. Então devo depreender que é um medo que vem da alma? Ora, então como pode essa insana querer ser uma águia? Vai ser como certas pessoas que temem a si mesmas? No máximo poderia pedir asas emprestadas a um anjo amigo, ou voar por seus próprios meios, pois as almas não se deslocam por si sós pelos espaços? Então? Não! Não ela, toda exibida querendo me fazer acreditar que está bem, que hoje sente-se feliz... Bem a conheço e sei que só está fugindo da solidão que anda rondando seu canto faz dias...
Mas deixo-a partir, só para não prolongar a discussão, afinal ela anda tão tristinha, e enquanto ela desfruta de seus momentos de liberdade na imensidão do mundo dos sonhos, fico eu aqui, encolhida no meu sofá predileto, olhos fechados, coração meio descompassado, envolvida pela musica, pela voz de Elvis, esquecida do livro que me propusera a ler, do chá que esfria sobre a mesinha ao lado... Gostaria de não pensar, de ficar só mergulhada na música, mas temos lembranças tão atrevidas dentro de nós, dessas que chegam ser pedir licença e vão logo nos levando por seu caminhos, aonde vamos reencontrando pessoas, momentos, fatos. Ouço Elvis e me vejo ainda adolescente, numa festinha de aniversário, num daqueles vestidos rodados que faziam meu encanto, ao lado de uma amiga que me fala do novo ídolo do momento. Era a primeira vez que ouvia seu nome e foi só bem mais tarde que o elegi um dos favoritos do meu coração; foram suas baladas românticas que me cativaram e que fazem dele, até hoje, doce companhia nos meus momentos mais sensíveis... Mas como Elvis deve ser ouvido com a alma, apresso-me a recolher a minha para que me faça companhia numa noite que talvez seja longa. Chego ao terraço, olho o céu que esconde suas estrelas sob uma densa camada de nuvens e fico até aliviada por não haver luar... Certamente eu me desmancharia em lágrimas... Lágrimas de saudades... Saudades de mim que ando me perdendo pelas madrugadas insones, entre sonhos desfeitos, esperanças perdidas, lembranças... lembranças...

Dulce Costa
Na madrugada do dia cinco de fevereiro do ano de 2009

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

AMIZADE E SOLIDARIEDADE EM FLORES DE PAPEL CREPOM

Costumo dizer que tenho poucos amigos, mas cada um deles vale uma enormidade, pelo que são, pelo que significam em minha vida, pelo que constroem em torno de si... E a cada dia agradeço a Deus por te-los colocado em meus caminhos. Porque estou dizendo isso? Porque me comovo às vezes com pequenas mas significativas ações praticadas por eles. Ações que podem parecer sem a menor importância, mas que demonstram muita sensibilidade, amor ao próximo, amor à vida.
Ontem recebi para um chá da tarde uma dessas pessoas muito especiais que me dá a alegria de ser minha amiga há décadas. Quizeida, ou Kikinha, como gosta de ser chamada, que conheci em meu primeiro dia de trabalho no SENAI quando, temerosa com a mudança, tímida, fui levada a mesa de cada um dos funcionários da Contadoria e apresentada, como era costume da empresa. Ela se ergueu, nos lábios aquele sorriso acolhedor, mão estendida, olhando de frente, nos olhos, característica de quem é sincero, leal, e foi logo dizendo que eu era bem vinda, tentando me por à vontade. Assim como fui apresentada à Idel na verdade Idelzuyth, que me recebeu da mesma forma, sem imaginarmos naquele momento que estávamos iniciando uma amizade que desafiaria o tempo. Éramos tão meninas! Tínhamos todos os caminhos da vida abertos pela frente, caminhos que pareceram que se distanciariam num determinado momento, mas voltaram à sua rota inicial e cá estamos hoje mais amigas do que nunca
Pois ontem, Kikinha chegou em casa trazendo uma pequena valise aonde carrega seus lindos e delicados trabalhos de bijuteria e ao abri-la, para me mostrar as novidades, retirou dela uma quantidade de coloridos botõezinhos de rosa, feitos de papel crepom. Cada um deles envolto em papel celofane com uma pequena etiqueta. Nos amarelos estava escrito "dinheiro", nos rosas, "amor", nos vermelhos, "paixão" e nos brancos lia-se "paz". Não eram pequenas obras de arte em papel, mas vinham significando amizade e solidariedade. Amizade quando ela me entregou um de cada cor, dizendo que os trazia como desejos para minha vida, para que eu tivesse realmente tudo o que eles estavam pretendendo significar. Solidariedade quando me disse que os comprou de um menino, na rua, como forma de dar a ele a chance de não transgredir, de viver sua vida pelo trabalho, de entender que o futuro se abre sempre de maneira melhor quando se busca o melhor caminho, sem atalhos fáceis e perigosos, enganosos, sem volta, às vezes...
Aí estava Kikinha, mulher forte, lutadora, alma inquebrantável, depois de tantos embates em sua vida, sempre um sorriso amigo nos lábios, voz doce, pessoa afável, que num momento só se preocupou em ajudar um garoto que nunca vira e certamente nunca tornaria a ver nesta imensa cidade aonde caminhos se cruzam e descruzam ao sabor do vento, do destino, como queiram, que só imaginou que talvez os trocados que dera pelas florzinhas pudessem significar a diferença entre o bem e mal na vida daquele menino. Qualquer outra pessoa passaria por ele, olharia as flores com desdem, pensando - "mas o que é que vou fazer com isso?", viraria as costas e seguiria sua vida sem nem mais pensar no guri. Ela não! Ela olhou para ele e viu alguém que começava a lutar para sobreviver e que merecia essa chance. Olhou para as florzinhas e viu que elas poderiam ser portadoras de amizade, de carinho, de votos de felicidades. Encheu as mãos com elas e encheu meu coração de ternura quando mas ofertou. E lá estão elas sobre a lareira, num vasinho de cristal, talvez um pecado em termos de decoração, mas uma preciosidade em termos de lição de vida.

Dulce Costa
Na ensolarada manhã do dia quatro de fevereiro do ano de dois mil e nove

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

O "ADIVINHADOR" DO TEMPO...

Acertando nas previsões do tempo?

O dia amanheceu claro, mas já está encoberto, indicando talvez chuva ainda pela manhã. Confesso que não tenho a menor queda para a meteorologia, quase nunca acerto nas minhas “previsões”. E pensando nisso acabo me lembrando de meu marido, nas manhãs de nossos primeiros anos de casamento, qualquer que fosse a cidade em que estivéssemos vivendo - e nem foram tantas, afinal - mas bastava uns poucos meses no local e ele se tornava um expert em “adivinhar” o tempo... Olhava para o céu, examinava as nuvens, a direção do vento, sentia o cheiro de chuva no ar muito antes dela cair e prognosticava um dia de chuva, um dia de sol. Raramente errava. Eu costumava dizer que ele fizera a escolha errada ao resolver cursar física, que deveria procurar um curso de meteorologia porque ele era realmente bom nisso. Ao aposentar-se, homem afeito aos livros, ao conhecimento, resolveu que voltaria a estudar e sabendo que a USP abrira um curso de meteorologia, nem titubeou. Fez o vestibular, passou, claro, e lá foi ele descobrir o mundo dos cúmulus nimbus, das pressões barométricas, das umidades do ar... E, na medida em que o curso ia avançando, em que ele ia adquirindo conhecimentos e técnicas para avaliar o tempo, para fazer previsões, foi perdendo o sentido natural, a sensibilidade para com as mudanças do tempo e, acreditem ou não, daí para a frente, ele raramente acertava uma previsão... Pois é!... Todo aquele acúmulo de conhecimentos das cartas meteorológicas, dos parâmetros, das técnicas, acabou pesando mais do que o instinto natural do homem que fora criado junto à natureza, absorvendo conhecimentos práticos, quase sempre infalíveis. E brincávamos muito com isso, meus filhos e eu, dizendo a ele que perdêramos o meteorologista competente da família em prol do técnico que precisava de todo um laboratório meteorológico para errar nas previsões. Ele coçava a cabeça, colocava no rosto aquele sorriso tranqüilo e, como bom mineiro que era, apenas dizia: - “Pior é que “ocês” tem razão... Esse raio desse curso não me serviu pra nada...”
E fico eu aqui, olhando para o céu que se cobre de nuvens pesadas, lembrando histórias sobre o tempo, trazendo de volta momentos doces vividos ao lado de um homem que me ensinou a viver, que partilhou meus caminhos, que me conduziu pela mão, que me preparou até para ficar só quando chegasse seu momento de partida.
Olhando agora pela janela e vendo o sol começando a rasgar as nuvens, numa indecisão total entre “chove ou faz sol”, parece-me ouvir sua voz forte, calma, dizendo: - “Viu, minha flor? eu não disse que não chovia hoje?...”

Dulce Costa
Na enfarruscada manhã do dia três de fevereiro do ano de 2009.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

INDAGACOES...



A alma pede colo, o coração pede aconchego, eu só peço ternura...
E que fazer com o imenso vazio que insiste em envolver meus dias?

COLECIONANDO PRECIOSOS MOMENTOS

(Clique na imagem para amplia-la)

Pratos que significam momentos...

Segunda-feira enfarruscada, cinzenta, cheia de motivos para se ficar em casa, “al dolce fare niente”... Mas como ficar na preguiça numa segunda-feira quando tivemos netos em casa num inteiro final de semana? Ah, não dá, mesmo! E a manhã passa tão depressa, aliás, o tempo passa depressa demais, então foi preciso acordar muito cedo para dar uma ordem nas coisas e poder ganhar um tempinho para vir conversar um “cadinho” com meus amigos ainda pela manhã, porque para a tarde há planos outros, nesta semana reservada para matar saudade de amigos que não vejo há meses...
E vou colocando cada coisa em seu lugar, pensando que casa de vovó é feita de recordações, por isso tem tantas pequenas peças espalhadas pelos móveis, tantas fotografias sobre aparadores e lareira, tantas histórias escondidas em cada objeto que se toque. Tenho uma coleção de pratos que, em si, já é uma história que começou com um prato que era de um aparelho de jantar, trazido por meus avós quando de sua chegada ao Brasil, vindos da Ilha da Madeira. Único que sobrou, louça inglesa, menina dos olhos de meu pai por ser lembrança de sua mãe que, num determinado dia, me chamou e pediu-me que ficasse com ele, porque sabia que eu valorizava a história da família nele contida. Com medo que se quebrasse se o pusesse em uso, comprei um suporte e o coloquei na parede, sobre um aparador dando início assim à minha coleção mais de lembranças do que de pratos, porque dela só fazem partes os comprados em minhas viagens, ou os que me foram presenteados por pessoas amigas.
Assim, por detrás de cada um deles há uma história, um momento... O segundo deles comprei em Évora, Portugal, em minha primeira viagem para fora do Brasil, o terceiro em Lisboa, depois vieram os de outros países, e vai por ai afora... E há os brasileiros, um que foi de minha mãe, ganho em suas bodas de prata, outro comprado por meu marido, como um pedido de perdão depois de uma dessas briguinhas corriqueiras que os casais costumam ter (até de nossas brigas sinto saudades, pode?)... Já são tantos... Dia de tirá-los da estante de vidro que lhes serve de lugar, é dia de recordações, de saudades, de lágrimas de gratidão pelos momentos que vida me ofereceu ao longo destes anos todos. E à medida que os vou limpando, um a um, todo um filme vai se desenrolando em minha mente, rostos formam-se em minha retina, lugares descortinam-se em minha memória, momentos aquecem meu coração. Hoje foi um desses dias e ainda com a alma inundada estou aqui dividindo com vocês minhas lembranças, porque me faz muito bem dividir meus melhores momentos com pessoas que quero bem...

Dulce Costa
Na manhã de dois de fevereiro do ano de dois mil e nove.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

MOMENTOS PRECIOSOS NO CAMINHAR PELA VIDA...

Meu filho e minha neta

Numa postagem anterior, fazendo referência a passagem do tempo, sugeri algumas possíveis vantagens que o envelhecer nos proporciona, claro com certa reserva... Mas há coisas que só acontecem com o passar do tempo e que dão todo o sentido a nossa caminhada: Nossos filhos.
Ve-los crescer, abrir suas asas para o mundo, ganhar a liberdade de gerir suas próprias vidas, formarem suas próprias famílias e, com eles, acompanhar o crescimento dos netos, que por sua vez vão abrindo suas asas para o mundo também, numa continuidade de vida da qual fomos como que um elo de corrente..
Pois minha neta, a Bia (Ana Beatriz) acaba de me mandar as fotos de sua formatura, a qual lamentei não poder comparecer por estar ainda fora do Brasil e olhando aquelas fotos todo um trecho de meu caminhar povoou minha mente, e num flash back vejo-me nos corredores da Pro Mater Paulista, olhos cravados numa das portas a espera de ver meu filho surgir com a noticia de que a menina havia nascido e quando ele finalmente apareceu, olhos marejados pelas lágrimas doces da alegria de ver nascer sua primeira filha, experimentei uma das mais gratas emoções de minha vida.
Carrega-la nos braços por primeira vez, leva-la a pia batismal para os primeiros sacramentos, com o doce orgulho de ser sua madrinha, acompanhar seus primeiros passos, ouvi-la dizer vovó por primeira vez, a primeira escola, as primeiras letras, a passagem para a adolescência e, como que de repente, perceber que a menina ficara para trás e que tinha diante de mim a moça, desabrochando a mulher... Ah, o tempo passa tão depressa que nem percebemos essas mudanças acontecendo, mas, comovida, vejo-a ali naquelas fotos, abraçada ao pai – mais uma vez nos olhos dele a ternura e o orgulho de te-la como filha, estampados em seu rosto...
Minha menininha, única neta, tenho outros cinco netos, mas ela reina absoluta como princesa entre os varões (rs), prepara-se agora, aos dezessete anos, para a faculdade. Revejo meu filho por essa época, cheio de sonhos, o mundo lhe pertencia, preparando-se para a Faculdade de Medicina, todo um período de dedicação e esforço, compensados depois por uma carreira que o tornou um homem coerente, um medico dedicado e competente, pai amoroso, filho amigo, protetor, cheio de cuidados para com todos nós...
E bendigo, do fundo de minha alma, poder ter feito toda essa caminhada pelo tempo, caminhada que me proporciona colher como doces frutos da árvore da vida, momentos de alegria como este...

Dulce Costa
São Paulo, no amanhecer do primeiro dia de fevereiro de 2009