Meus amigos, parece que foi ontem mesmo que cheguei aqui cheia de saudades de minha filha e dos meus gringuinhos... O tempo não passou depressa, não... O tempo voou!... E durante praticamente dois meses fiquei aqui contando coisas, mostrando fotos, partilhando com cada um de vocês estes momentos. Mas é chegada a hora da volta ao ninho!... E lá vou eu pelas asas da United em regresso ao Brasil
E o que ameniza um pouco minha tristeza em partir é saber que lá no outro hemisfério esperam-me filhos e netos tão saudosos como eu... Já no aeroporto dois braços longos e fortes esperam-me para um abraço. Fábio (como diria minha mãe quando se referia a mim) meu filho do meio, mora comigo desde que terminou seu segundo casamento, mas dificilmente está em casa. Divide-se entre seus pacientes no hospital e (imagino) sua namorada, e ai me sobram duas ou três noites por semana para um delicioso jantar que ele mesmo prepara (seu hobby é a gastronomia) sempre acompanhado de meia taça de um bom vinho, depois uma prosa amiga ou pega lá sua guitarra ou seu violão e enfeita minha noite. Seus três filhos (do primeiro casamento) moram bem perto e sempre estão conosco nos finais de semana. Ah, não seria justo esquecer da minha “fiel escudeira” a Nilda, que cuida da casa com carinho, que merece nosso respeito pela pessoa linda que é. E tem ainda o Bill, um schinauzer que foi lá para casa contra a minha vontade, pois acho terrível prender animais em apartamento, ainda que tenha todo aquele espaço lá de casa, mas ao chegar de minha viagem anterior lá estava ele e é tão dócil, tão amigo que conquistou não só minha simpatia, mas meu coração também.
Mas, uns dias depois de chegar, lá vou eu pé na estrada de novo... Desta vez sigo para a Campinas, linda cidade distante cem quilômetros de SP, para a casa do (de novo como minha mãe costumava dizer) meu mais velho... Lá vou estar com ele, o Ubirajara jr, com minha nora que tenho como filha, Maria Antonieta e com meu neto Caio. E o motivo desta vez é extremamente gratificante e alegre para mim. Meu filhotinho, o garotinho que me chegou numa noite de setembro, vai completar 50 anos!... Já imaginaram a dádiva da vida e de Deus que é ver seu filho completar 50 anos? Lembro-me que quando meu marido fez cinqüenta anos minha sogra caiu em pranto e quando perguntamos porque chorava, ela disse soluçando que uma mulher com um filho cinquentão é uma velha... Convence-la do contrario foi impossível,,, Já minha mãe só viu a mim fazer cinqüenta anos pois seus dois outros filhos foram-se muito antes de os completar...
Diante disso, meu coração se enche de gratidão a Deus e a vida, por este momento tão especial, tão lindo. Ainda mais estando eu tão lúcida, viva, participante da vida e do mundo, senhora de mim, dona de meus caminhos... E tem mais, Caio, filho do “meu Bira” exatamente no mesmo dia, completará dezoito anos!... Não é lindo demais? Pai e filho aniversariando no mesmo dia? Haja festa!...
Pois ai está meus amigos... E agora lá estão vocês pensando: mas se tem um filho de cinqüenta, quantos anos tem então essa senhora? Ora... Tenho a idades que cada um de vocês quiser me atribuir, mesmo porque, há dias em me sinto fresca, viçosa, como se tivesse vinte anos. Em outros sou mulher na força da idade, resolvida, forte. Dias há em que estou madura, senhora de mim, cheia de sonhos e namorando a lua. E ha ainda outros, bem poucos, é verdade, em que, frágil, tenho cem anos e aí a vida me carrega nos braços...
Dulce Costa
Na madrugada de Winchester, no dia dez de setembro do ano de dois mil e nove.