quarta-feira, 18 de maio de 2011

Meu anjo, escuta...


Assim era cantado e decantado o amor, no Século XIX...

Meu anjo, escuta...


Meu anjo, escuta: quando junto a noite
Perpassa a brisa pelo rosto teu,
Como suspiro que um menino exala;
Na voz da brisa quem murmura e fala
Brando queixume, que tão triste exala
            No peito teu?
         Sou eu, sou eu, sou eu!


Quando tu sentes lutuosa imagem
D'aflito pranto com sombrio véu,
Rasgado o peito por acerbas dores;
         Quem murcha as flores
Do brando sonho? - Quem te pinta amores?
              Dum puro céu?
         Sou eu, sou eu, sou eu!


Se alguém te acorda do celeste arroubo,
Na imensidade do silêncio teu,
Quando tua alma noutros mundos erra,
             Se alguém descerra 
             Ao lado teu
Fraco suspiro que no peito encerra;
          Sou eu, sou eu, sou eu!


Se alguém se aflige de te ver chorosa,
Se alguém se alegra co'um sorriso teu,
Se alguém suspira de ter ver formosa
O mar e a terra a enamorar o céu;
             Se alguém definha 
             Por amor teu,
        Sou eu, sou eu, sou eu!

(Gonçalves Dias*)

*Antonio Gonçalves Dias, poeta e teatrólogo brasileiro, nascido em Caxias, no Maranhão, a 10 de agosto de 1923 e falecido em um naufrágio na costa brasileira, quando retornava da Europa, em 3 de novembro de 1864.

2 comentários:

  1. Que Poema mais doce e apaixonado!
    Ñ conhecia Gonçalves Dias.
    Fiquei curiosa.
    Beijo.
    isa.

    ResponderExcluir
  2. Isa

    Escreveu coisas bem bonitas.

    "Quem me dera saber quais são teus sonhos
    Aventar teus angélicos desejos,
    Saber de quantas ledas fantasias,
    De quantos melindrosos pensamentos
    Um suspiro se nutre, um ai se gera."

    Quase impensável versos assim ditos por um poeta moderno, não é mesmo, amiga? E, no entanto, são bem bonitos.

    Beijos e um bom dia

    ResponderExcluir