quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Com a chuva fustigando a vidraça...


Acorda com o barulho da chuva fustigando a vidraça e do vento forte castigando as árvores do bosque. Enrodilha-se mais entre os lençóis, imaginando o frio lá do lado de fora da casa, sem abrir os olhos, tentando, em vão, não espantar o sono. Mas em sua cabeça começam a surgir lembranças de outras noites como esta, de acordar assim do nada, assustada sem saber por que, noites em que bastava estender o braço e, num abraço, envolver a figura forte dele, que ressonava tranquilamente a seu lado, num sono profundo, para se sentir segura, protegida dos medos que uma noite de tempestade pudesse trazer. Estendeu o braço para o nada e sentiu o vazio dentro de si... Fazia tantos anos que ele partira e ela não se acostumara com essa ausência, ainda buscava a ternura de seu abraço nas noites de insônia, nas madrugadas vazias e, ao abraçar o nada, entendia o quanto fora preciosa a vida com ele, o quanto aprendera, o quanto amara e fora amada, o quando vivera...
Afastou as cobertas, envolveu-se no roupão que deixara aos pés da cama e foi até a janela. Sempre gostara de chuva, sempre sentira um grande prazer em ve-la cair por sobre a cidade, isso a acalmava. Diferente de quando estava em sua casa, quando as luzes da cidade, refletidas no asfalto molhado das ruas, traziam romantismo a noite, a cidade pouco iluminada que via agora pela janela parecia-lhe um tanto soturna. Em casa, prepararia um chá, colocaria música no ambiente, desfrutaria de mais um momento de paz entre doces recordações, daria asas a alma para que ela voasse pelo tempo e pelo espaço em busca dessa paz...
O relógio mostrava que a madrugada caminhava para o amanhecer, um amanhecer molhado e cinzento, abrindo um dia frio. Sentou-se na poltrona a um canto do quarto, acendeu a luz ao lado, abriu o livro que estivera lendo antes de dormir e mergulhou em sua leitura, esperando pelo momento de reiniciar o novo dia...

6 comentários:

  1. São instantes de grande saudade que nos perturbam!
    Às vezes,se estamos longe do "nosso canto" ainda chegam mais depressa.
    Beijo.
    isa.

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  2. Isa

    Ah, minha amiga, são momentos que vem e vão e devemos aprender a lidar com eles...
    Beijos, obrigada e uma boa tarde para você.

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  3. DULCE, a chuva também exerce um cer
    to fascínio sobre mim. Principalmen
    te quando cai silenciosa,como se a
    natureza estivesse chorando. Aí,ami
    ga, dá uma saudade imensa. Vontade
    de tentar resgatar o passado.Missão
    impossível.
    Beijos.

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  4. Paloma

    Completamente impossível, minha amiga... Mas sei bem o que é isso.
    Beijos, obrigada e uma boa tarde para você.

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  5. Dulce, esse texto é um lamento baixinho do coração. E estas estações "gris" dão um empurrão nesses sentimentos que ficam lá no fundo, não é?

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  6. Pitanga Doce

    É verdade, minha amiga! Pensamos que tais sentimentos estão amainados, mas num momento de um outono chuvoso, cinza, eles afloram, mesmo!
    Beijos e uma boa tarde.

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