
Cruz na porta da tabacaria!
Quem morreu? O próprio Alves? Dou
Ao diabo o bem-estar que trazia.
Desde ontem a cidade mudou.
Quem era? Ora, era quem eu via.
Todos os dias o via. Estou
Agora sem essa monotonia.
Desde ontem a cidade mudou.
Ele era o dono da tabacaria.
Um ponto de referência de quem sou
Eu passava ali de noite e de dia.
Desde ontem a cidade mudou.
Meu coração tem pouca alegria,
E isto diz que é morte aquilo onde estou.
Horror fechado da tabacaria!
Desde ontem a cidade mudou.
Mas ao menos a ele alguém o via,
Ele era fixo, eu, o que vou,
Se morrer, não falto, e ninguém diria.
Desde ontem a cidade mudou
(Alvaro de Campos)
Álvaro de Campos o verdadeiro citadino, segundo o próprio Pessoa, pelo fascínio quanto ao progresso, pelas luzes e o bulício, pelo Tejo e pelas ruas com suas esquinas e suas tabacarias, seus pregões e movimento.
ResponderExcluirGosto, embora Caeiro seja mais "eu".
Um beijo
Dulce:
ResponderExcluirSer visto é sinônimo de estar vivo, estar fazendo parte, não é? De Álvaro de Campos, esse é um dos poemas mais preciosos.
Bjos
Que companhia nesta manhã de feira.
ResponderExcluirManhã de céu azul e brisa suave.
Assim gosto do Outono.
Quanto ao poema...o meu heterónimo preferido!
Beijo.
isa.
Lidia Borges
ResponderExcluirE talvez seja exatamente esse lado mais citadino que me agrada em Alvaro de Campos. Costumo dizer que sou "bicho de cidade grande"... rs...
Beijos e um bom dia
Maria Tereza
ResponderExcluirTambém gosto muito deste poema.
Sem dúvida, "ser visto" é estar fazendo parte, de um momento, da vida.
Beijos e um bom dia
Isa.
ResponderExcluirO meu também... Por isso tenho-o sempre por aqui.
Beijos e um lindo e feliz dia de outono.
Eu já ao contrário de ti, sou bicho de cidade pequena. Aquela em que todos se conhecem, desde o dono da tabacaria até o diretor do Banco.
ResponderExcluirbeijos em feriado (do lado de lá) 100 anos da Proclamação da República. Eh, Dulce, que tá difícil! E essa Primavera com cara de Outono? Que é isso, amiga?
Pitanga Doce
ResponderExcluirEssas cidades encantadas estão ficando a cada dia mais raras, né não?
E o pior é que está com cara de outono enfarruscado. Tudo cinza, só agora o sol ameaça romper as nuvens por aqui.
Olha amiga, imagino o quanto deve estar dificil, mas lembre-se que o tempo passa depressa e logo, logo, o verão vai estar brilhando por ai de novo...