
Não sei quantas almas tenho
Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: "Fui eu?"
Deus sabe, porque o escreveu.
(Fernando Pessoa)
Minha Querida
ResponderExcluirUma paisagem bucólica de um quase principio de Outono...condiz bem com este poema de Fernando Pessoa...ele que procurou tanto ser... e o significado do seu viver...foi um homem angustiado na dimensão da sua alma...por isso, a sua poesia é de ontem e é, sobretudo, de HOJE!
Beijo amigo
Graça
Pessoa ensinou-nos que cotidianamente lemos nosso ser. Texto complexo, não é?
ResponderExcluirBeijos
Adolfo Payés
ResponderExcluirObrigada.
Fernando Pessoa sempre nos faz pensar.
Beijos e bom final de semana para você também
Graça Pereira
ResponderExcluirÉ verdade, minha amiga, Pessoa é, a cada tempo de nossas vidas, mais e mais atual.
Beijos, Obrigada e uma boa noite
Maria Teresa
ResponderExcluirComplexo sim, como costuma ser a maior parte da obra de Pessoa.
Beijos e uma boa noite.